quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Construir futuro risonho com entrega ao trabalho - defendem fundadores da FRELIMO


MARIAN0_ARAUJO_MATSINHEEsta posição foi ontem defendida por Mariano de Araújo Matsinhe e João Américo Fumo, respectivamente, combatentes da luta de libertação nacional e co-fundadores da FRELIMO, em entrevista ao “Notícias” a propósito do quinquagésimo aniversário do partido no poder, cujo programa comemorativo é hoje lançado em Maputo pelo Presidente da República, Armando Guebuza.
Segundo os nossos entrevistados, dentre vários ganhos conquistados ao longo dos 50 anos de existência do partido destacam-se a unidade nacional, a própria independência nacional, proclamada a 25 de Junho de 1975 pelo Presidente Samora Machel, a construção do Estado moçambicano, a vitória sobre o ex-regime sul-africano do “apartheid”, a redução dos níveis do analfabetismo e as realizações do Governo visando a satisfação das necessidades cada vez mais crescentes dos moçambicanos.
Experiência acumulada
Para Mariano Matsinhe, muita experiência foi acumulada ao longo dos 50 anos da FRELIMO. Disse que nos primórdios da fundação da Frente de Libertação de Moçambique houve “muita agitação” no seu seio, originada pelo forte tribalismo que reinava entre os seus fundadores.
“Tínhamos que combater o tribalismo, no quadro da linha de Eduardo Mondlane. A luta pela unidade nacional foi a nossa marca. Vínhamos dos três movimentos nacionalistas que tinham uma maneira diferente de ser. A juventude teve de lutar bastante para a formação duma frente única”, disse.
Em toda a luta de libertação nacional, segundo afirmou, falava-se sobre a unidade nacional, para a eliminação do tribalismo, o racismo e a discriminação. Hoje, observou, os moçambicanos estão cada vez mais unidos, relativamente a outros povos, apesar de, de vez em quando, surgirem vozes apregoando a divisão com base na tribo.
“Temos que continuar a batalhar para que a unidade nacional cresça e se solidifique cada vez mais, para que ela não seja uma coisa estagnada”, defendeu.
Mariano Matsinhe disse que ao longo dos 50 anos da FRELIMO, muitos erros foram cometidos, mas também muita obra boa foi realizada. Assim, anotou, os erros não superam o que a FRELIMO fez de bom. Os erros cometidos são parte do próprio processo.
Por exemplo, a FRELIMO teve de aplicar pena de morte aos considerados traidores, porque, de acordo com Mariano Mastsinhe, as circunstâncias da época assim o ditaram. Para a fonte, não existe FRELIMO de ontem nem a de hoje. Se se quiser admitir, afirmou, a considerada FRELIMO de ontem pegou em armas para lutar contra o colonialismo português.
“Eu amo a FRELIMO, por se ajustar às circunstâncias do tempo. Hoje temos mais membros da FRELIMO do que naquela altura. O que estamos a fazer hoje é o que devemos fazer para melhorar a situação do país. É preciso ver que a FRELIMO foi sempre uma frente. O que importa agora é ver qual é a tarefa de todo o moçambicano e prosseguirmos no conceito de unidade nacional. Devemos continuar a lutar contra a pobreza e, neste domínio, a educação é fundamental, para se ensinar as pessoas a ler e a escrever, de modo a terem iniciativas de lutar na vida”, disse.
Mariano Matsinhe afirmou que a FRELIMO tem que se manter no poder, primeiro pela sua história e depois pela natureza das políticas adoptadas depois da proclamação da independência nacional, que visavam a criação do bem-estar para todos. Disse que, apesar de a FRELIMO se ter recuado em alguns momentos nas suas políticas, o país está no bom caminho e o futuro é promissor.
“Tenho sempre um pensamento positivo sobre o futuro. Devemo-nos lembrar de que herdamos uma pobreza horrível que não se elimina facilmente”, defendeu.
Os grandes ganhos
Dentre os ganhos obtidos ao longo dos 50 anos, Mariano Matsinhe destacou a vitória sobre a agressão do ex-regime do “apartheid”, a redução dos níveis do analfabetismo de 95 por cento na altura da proclamação da independência nacional para 45 por cento na actualidade e a consagração da terra como propriedade do Estado. Disse que hoje os moçambicanos são cada vez mais donos das riquezas do seu país.
Numa avaliação sobre a juventude, disse que os jovens devem assumir com responsabilidade os destinos do país, acrescentando que alguns erros são cometidos relativamente a esta camada. Para Mariano Matsinhe, há factos históricos que não devem ser negados ao conhecimento da juventude.
Democracia faz parte da génese da FRELIMO – segundo João Américo Fumo
A democracia faz parte da génese da Frente de Libertação de Moçambique. Segundo João Américo Fumo, ela foi desde logo manifestada aquando da fundação do movimento com a realização de eleições com base no voto secreto no primeiro congresso. O voto secreto foi usado para eleger o presidente da Frente, tendo Eduardo Mondlane sido eleito com mais de 80 por cento.
“Não é por acaso que é o partido FRELIMO que continua a dirigir a sociedade. É um partido maduro e organizado. Sempre defendeu a unidade nacional. A unidade nacional foi a chave da vitória. A democracia na FRELIMO foi sempre uma questão fundamental. Veja só que nas reuniões da FRELIMO ninguém podia sair sem ter falado. Sempre pautamos pela crítica e autocrítica. Nos dias de hoje, por vezes ficamos indignados quando um camarada critica outro. Logo pode se pensar que quem critica estás contra”, disse, acrescentando que na crítica não existe motivação política pessoal contra um determinado membro da FRELIMO.
João Américo Fumo destacou a proclamação da independência nacional como o grande feito da FRELIMO. Disse que os combatentes sentem-se honrados e privilegiados por terem participado na luta de libertação nacional.
“É uma fase que não volta a acontecer. Libertar a terra e o homem era o objectivo fundamental. Portanto, devemos saber consolidar as conquistas valorizando o passado. A perspectiva é nos adaptarmos a qualquer momento. Não pretendemos ser os únicos”, afirmou.
Para o entrevistado, a luta contra a pobreza foi sempre objectivo da Frente de Libertação de Moçambique. Disse que Samora Machel afirmava que era necessário produzir para alimentar a guerra e também para exportar.
“Sem tractor sem nada produzimos nas zonas libertadas. E até exportamos produtos como o gergelim para a Tanzânia. Hoje ficamos admirados quando não conseguimos alimentar
MÃO DURA FOI NECESSÁRIA
Mão dura foi, por vezes, necessária durante a luta de libertação nacional para travar alguns desmandos. Conta João Américo Fumo que o exército português infiltrou muita gente no seio da frente para liquidar os seus dirigentes.
“Havia muita gente infiltrada e não havia muito tempo para investigar. Se calhar tivemos que tomar medidas drásticas”, disse.
Sobre a adopção do socialismo como modelo de orientação do Estado moçambicano depois da independência, afirmou que sempre se entendeu que o mesmo serviria para a criação do bem-estar do povo moçambicano.
“Depois da independência, adoptamos o socialismo duma maneira científica. Para nós, o socialismo visava a criação do bem-estar dos moçambicanos. Era preciso que o povo tivesse comida, escola, saúde”, declarou.
João Américo Fumo
João Américo Fumo

Os 16 anos de guerra

Maputo, Sexta-Feira, 3 de Fevereiro de 2012:: Notícias
Sobre as motivações que levaram à eclosão da guerra dos 16 anos no país, João Américo Fumo explicou que a 7 de Setembro de 1974, quando foram assinados os acordos de Lusaka entre a Frelimo e o Governo colonial, surgiram alguns movimentos que se manifestaram contra a independência nacional. Não tendo conseguido impedir a proclamação da independência, alguns desses movimentos refugiaram-se na África do Sul onde foram apadrinhados pelo ex-regime do “apartheid”, criando o que se chamou de resistência nacional moçambicana.
Como eram brancos, foi necessário instrumentalizar moçambicanos de cor negra para legitimar essa mesma resistência. João Américo Fumo considera que esses moçambicanos não eram políticos no sentido de que contestavam a linha política da FRELIMO, mas sim foram usados como testa de ferro. Dentre eles se destacam André Matsangaissa e Afonso Dhlakama.
“Matsangaissa e Dhlakama não estavam na resistência moçambicana. Eram brancos que estavam à frente. Eles simplesmente foram usados. Se fosse para mudar o regime, não teriam feito a guerra da maneira que fizeram, matando pessoas nos machibombos e destruindo infra-estruturas”, disse.
Afirmou que esses brancos pensavam que em seis meses iriam eliminar a FRELIMO.
Admitiu que a FRELIMO terá, eventualmente, cometido erros, mas não foram planificados.
“O importante é termos a consciência do erro e tentarmos fazer as coisas de maneira diferente. Dentro do próprio partido criticávamo-nos. Na FRELIMO nós dizemos a verdade. O próprio chefe conhece o objectivo da crítica. Mas deve-se criticar positivamente. A crítica é aceite dependendo da maneira como ela é feita”, afirmou.

Combatentes e o país

Maputo, Sexta-Feira, 3 de Fevereiro de 2012:: Notícias
Questionado se os combatentes se sentem confortáveis com a situação actual do país, João Américo Fumo afirmou que pessoalmente está satisfeito, adiantando que Moçambique está a dar passos gigantescos.
“Há muita coisa que devia estar melhor. O que não está bem não nos deixa sossegados. Ainda há muita gente sem comida, sem transporte, etc. É um processo. O nosso objectivo era que toda a gente tivesse pão. Não faz sentido que uns tenham 10 pães enquanto outros não têm nada. O objectivo da nossa luta era o bem-estar da população”, afirmou.
Como desafio, disse que a Frelimo tem de analisar todo o processo por que passou, para ver o que fez de bem e de mal. Afirmou que a população nutre muita confiança na FRELIMO e o partido tem de corresponder aos seus anseios.

Sobre a juventude

Maputo, Sexta-Feira, 3 de Fevereiro de 2012:: Notícias
João Américo Fumo disse que às vezes a juventude analisa mal os fenómenos, acrescentando que o contexto em que os combatentes assumiram as rédeas do país era outro.
“Nós vivíamos o sofrimento. O sofrimento foi a grande escola. Tivemos que nos tornar homens muito cedo. Tínhamos medo da bebida ou passar noites em brincadeiras. Se a juventude não assumir estes valores, não se sabe que país teremos. Para se chegar a chefe é um processo. Todos não podemos ser chefes. Os jovens tem de estudar e saber comportar-se na sociedade. Temos consciência de que quem vai continuar este processo é a juventude. Os jovens não devem correr. Mas penso que ainda vamos a tempo de colocarmos a juventude nos carris”, disse.
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