quinta-feira, 20 de setembro de 2012

FINALMENTE: O Lounge 1908 encerrou

FINALMENTE: O Lounge 1908 encerrou

14 Set
Lounge 1908 é o edifício branco. No lado esquerdo da foto está o edifício do Ministério da Saúde e no lado direito o Hospital Central de Maputo (Medicina 1 a 3). Atrás do Lounge, encontra-se a Morgue e a Faculdade de Medicina.




Depois do ciclo vicioso que se traduzia numa espécie de “perseguição” e avisos sucessivos de encerramentos, o Lounge 1908, o lado supremo da imoralidade moçambicana, decidiu finalmente encerrar as portas.


Por: Pentchiço Dambuza Capetine
A decisão corajosa embora involuntária, por incrível que pareça, marca o fim da insânia de um povo (entenda-se de todos nós desde os proprietários até ao simples peão que achava aquilo normal) mostrando que, afinal, o bom senso neste país existe embora por baixo da almofada de alguns.
Para quem não está situado, o Lounge 1908 é uma discoteca que surgiu em recomposição ao Restaurante 1908 ao lado da maior unidade sanitária do país, o Hospital Central de Maputo (HCM). Essa discoteca, está(va) situada bem entre a Faculdade de Medicina, a morgue e a enfermaria do próprio hospital, este último local onde são internadas as pessoas com as doenças mais graves, tecnicamente chamada por Medicina (1, 2 e 3).
Não só a localização da discoteca estava em causa como também o seu próprio funcionamento. É que para além do ligeiro barulho da música e dos gritos que causava, incomodando (obviamente) os que carecem de sossego, sendo por norma uma zona de silêncio absoluto, gerava congestionamento nos acessos do hospital ensombrando as “urgências”. Os frequentadores da discoteca ocupavam, outrossim e por vezes, os locais de estacionamento do próprio hospital.
No entanto, o encerramento do Lounge não obedeceu a nenhum desses factores e nem ao bom senso, até porque nem se tratou de uma ordem legal. Pelo contrário e como anunciei acima, foi uma decisão voluntária do proprietário pelas circunstâncias que abaixo enumero.
Ao que se escreve no comunicado sobre o encerramento e pelo desenrolar dos acontecimentos que venho registando, o Lounge 1908 era obrigado a encerrar as portas sempre às 21h contrariando a ideia de torná-lo em discoteca com  portas abertas 24 horas por dia.
Por diversas vezes, agentes da polícia de Moçambique armados até aos dentes intervieram no local para fazer cumprir os horários (encerrar às 21h) escorraçando de maneira bruta os clientes. Mas atenção: Nem sempre isto acontecia sobretudo nos dias em que os deputados, os empresários afamados, os políticos e os funcionários seniores do governo central, lá se faziam.
Ora, tudo isto deixa clara a ideia da existência de facto, de uma perseguição e alguma cobardia por parte de quem legitimou a existência daquela discoteca naquele ponto. Pouco importa agora saber se foi ou, o Conselho Municipal ou o Ministério da Indústria e Comércio quem licenciou aquela insensatez de alto nível.
Mas também não estaria errado se afirmasse que tudo isto sucedeu com aval dos médicos e, por tabela, do Ministério da Saúde pelo facto do edifício ser propriedade da Associação dos Médicos.
Porém, independentemente das razões, o certo é que o Lounge 1908 pelo assalto àquele local, não devia mais continuar a operar. Aliás, foi isto que faltou aos nossos órgãos de decisão no caso vertente o Conselho Municipal e o Ministério da Saúde (este último que podia muito bem exarar um despacho de encerramento alegando incómodo, pura e simplesmente).
Difícil entender os “prós”
Como cidadão, uma das coisas que entristecia-me no Lounge 1908 não era exactamente a sua existência como tal e ao lado de um hospital (morgue, medicina e faculdade), era, sim, o facto de existirem pessoas – algumas próximas a mim – a frequentar o local como que se outorgassem a imoralidade e aceitassem que somos de facto um povo imbecil.
O Lounge 1908 era, para qualquer cidadão ponderado, um autêntico insulto aos pacientes do hospital. Era uma dura afronta da ambição económica (entenda-se do estômago) ao nosso ainda pobre sistema de saúde.
Como é possível, um indivíduo que se preze, se exalte de felicidade uma noite inteira, bem ao lado de um outro que grita por ver a morte por perto? Como é possível?
Haja tamanha vergonha meus caros. Mas agora me digam: Qual será a próxima esquina para o txiling, o tal happy hour? Lounge 1908, definitivamente, não sera’, para nunca mais!
A luta continua!