quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Samora igual a Martin Luther King Jr.


Samora igual a Martin Luther King Jr.

Machel tinha valores que fariam do país um modelo para outros países

“Moçambique é o que é e aquilo que será graças a es­tes dois chefes (Eduardo Mondlane e Samora Machel)”, defende Jorge Rebelo, antigo combatente de luta de libertação nacional e membro da Frelimo, como forma de exprimir a gran­deza e o papel destes dois líderes que deram a vida por um Mo­çambique independente. Rebelo fez estes pronunciamentos numa palestra proferida ontem, na Au­toridade Tributária de Moçambi­que, por ocasião do 34º aniversá­rio da independência nacional que hoje se assinala.

Jorge Rebelo disse que “Samora Machel tinha uma visão, princí­pios e valores por ele defendidos e praticados, iguais a de Martin Luther King Jr., que, se tivessem sido seguidos integralmente, Mo­çambique seria um modelo para todos os outros países.”

Samora, segundo Rebelo, de­fendia que o racismo e o apar­theid estavam condenados a de­saparecer para dar lugar a uma sociedade em que a cor da pele não seria o critério, visão defen­dida também por Luther King Jr.. hoje, essa realidade consu­mou-se na África do Sul e nos Estados Unidos.

Também considerava que a go­vernação “não era publicar leis ou decretos cujas razões o povo não compreendia, mas todos de­viam executar para não serem punidos”. Daí que, para governar, na sua óptica, era preciso conhe­cer os interesses do povo e estar constantemente ligado ao povo para melhor escutá-lo e melhor resolver os seus problemas, sem minimizar o tamanho do proble­ma, seja do dia-a-dia, pois o povo elege-nos para servi-lo.

Parasitismo nas empresas estatais
Em relação ao Aparelho do Estado, Samora dizia que “é o instrumento fundamental para a implementação da política na­cional de desenvolvimento eco­nómico, mas que, para o efeito, as suas estruturas têm que ser muito dinâmicas e operativas. Têm que ser o mais organizado e o mais disciplinado, porque é onde a produtividade é mais ele­vada.” Samora falava do contexto de uma economia centralmente planificada, no entanto, segun­do Rebelo, ainda hoje é visível a inércia deste sector, estando este “bloqueado pelo burocratismo, incompetência, desleixo, desin­teresse, sabotagem aberta ou ca­muflada”. Como se não bastasse, nas empresas estatais, são visíveis o parasitismo, a inércia, indisci­plina, baixa produtividade. Nas repartições públicas, os assuntos mais urgentes arrastam-se sema­nas, meses e até anos sem solução. Samora defendia a eliminação da mentalidade do subdesenvolvido, que ainda se encontra em muitos trabalhadores e responsáveis a vários níveis. É uma mentalidade que foi eliminada nos países mais avançados independemente do seu sistema político e económico. Samora também defendia que, no âmbito da unidade nacional, se devia juntar nas escolas alunos e professores das diversas regiões do país, para que do convívio quotidiano se perdessem os re­flexos regionais, para se adquirir um sentimento e consciência mo­çambicana. Mas para tal, era pre­ciso “eliminar, entre vários males, o tribalismo e o regionalismo que nos impedem de assumir a gran­deza do nosso país, não nos per­mitem compreender a complexi­dade da nossa pátria e, sobretudo, dispersam as nossas forças.”

Sobre a corrupção, Samora Machel, segundo Rebelo, dizia “nunca utilizar o cargo para ob­ter benefícios pessoais porque, caso contrário, o dirigente per­de a autoridade política e moral e entra numa teia infindável de compromissos”. Segundo Rebe­lo, Samora dizia que “quem tem o bife na boca não pode falar.”
Rebelo também recorda que Samora defendia ser preciso in­cutir a cultura de prestação de contas, combater o burocratismo, a corrupção, a criminalidade e o espírito do deixa-andar.

Poder, Democracia e Justiça
Rebelo refere que o antigo es­tadista moçambicano dizia que as facilidades que o poder cria podem corromper o homem mais firme, por isso, recomedava aos políticos que vivessem mo­destamente e com o povo. Assim, incutia o dever de não fazer do cargo incumbido para benefícios pessoais ou de familiares. Samo­ra considerava que a corrupção material, moral e ideológica, o suborno, a busca do conforto, as escolhas, “cunhas”, o nepotismo faziam parte do sistema de vida que estava a destruir.

Sobre a democracia, Samora defendia a prática de uma demo­cracia real, com uma verdadeira liberdade de expressão e opinião, uma discussão profunda acerca das decisões que tomamos, e que estas deviam ser democráticas no conteúdo (interesses reais do povo) e na forma (o povo deve participar da decisão e não sen­tí-la como imposta de cima para baixo).

E quanto à Justiça, argumenta­va que o aparelho judiciário devia ser reorganizado para que a justi­ça fosse acessível e compreensí­vel ao cidadão comum da nossa terra, contrário do que acontecia com o sistema burguês que tor­nava o sistema de administração da justiça uma complexidade desnecessária, de um palavreado deliberadamente confuso e en­coberto de uma lentidão e custos que criam uma barreira entre o povo e a justiça. Ou seja, o siste­ma judiciário que existe no nosso país serve aos ricos e só a eles é acessível. E o caminho, segundo Samora, é a sua simplicação.

Emancipação da Mulher
Jorge Rebelo também recordou que Samora considerava a eman­cipação da mulher não como um acto de caridade, nem de uma posição humanitária, mas, sim, uma necessidade fundamental da revolução, uma garantia da sua continuidade, uma condição do seu triunfo. Pelo que não era possível que a revolução triunfas­se sem a libertação da mulher.

Educação
A educaçao tinha um papel im­portante na visão do primeiro pre­sidente de Moçambique. Rebelo lembra que este considerava que o estudo “é como uma lanterna à noite” que nos mostra o caminho. E dizia que trabalhar sem estudar poder-nos-ia relançar no futuro, mas grandes eram os riscos de nos enganar pelo caminho, de tropeçarmos e cairmos.