sábado, 22 de junho de 2013

Não é nem profícuo muito menos inteligente matar Dhlakama neste momento







Por Egidio Guilherme Vaz Raposo ·


Dizer que este ou aquele vai morrer, é uma antevisão que de princípio nunca falha. De facto, todos nós morreremos um dia. Mas dizer que “este ou aquele pode morrer ou ser assassinado a qualquer momento” é de facto sedutor e pode parecer uma grande capacidade de antevisão numa situação como a nossa. Aos que antevêem a morte de Dhlakama à qualquer momento em virtude dos últimos acontecimentos, a estes só posso recomenda-los uma boa graduação de óculos e duas colheres de WONGO (cérebro em língua Sena).
Não é nem profícuo muito menos inteligente matar Dhlakama neste momento, até porque não está claro se estamos em plena guerra, agitação político-militar ou pura manipulação. Esta agitação pode também estar a ser combustibilizada do interior da Frelimo, ou das Forças armadas ou dos serviços de segurança, coisa que em estudos de segurança não espantaria a ninguém. Pode também ser resultado da perca do controlo de Dhlakama sobre seus homens, em virtude da perca do que chamo por “capacidade redistributiva”, factor que mitigou consideravelmente a sua voz e legitimidade no seio da ala militar. E pode também ser reflexo da instrumentalização da violência no âmbito do processo sucessório dentro da Frelimo, visando encostar a actual elite dirigente sobre a parede e retirá-la a influência na decisão sobre o futuro dirigente. Lembre-se que este tem sido dos principais nós de estrangulamento de entre os membros e dirigentes da Frelimo nos dias que correm.
Uma análise que se quer sensata sobre o momento em que vivemos não deveria esquecer todos processos negociais falhados e a própria solução de guerra encontrada, que muito se ancorou na co-optação de líderes da Renamo em detrimento da solução genuína da questão militar. Nunca foi segredo que a Renamo tinha homens armados a mais, contrários aos números previstos nos Acordos de Roma. O governo nunca agiu no sentido de resolver este problema. E isto já dura há 20 anos. Pelo contrário, sempre que a Renamo levantasse este assunto o governo achou-o extemporâneo (se bem que legalmente razoável). Mas então, era para estes homens acabarem como? Voltarem sozinhos as casas? Desmobilizarem-se sozinhos?
A outra questão prende-se com a partidarização das instituições públicas incluindo as forças armadas. Consciente disto, o governo sempre agiu no sentido de manter uma significativa réstia partidária estratégica nas hostes militares e, principalmente leais a direcção do partido para fins estratégicos ao contrário da desejavel despartidarização das FADM. Infelizmente este processo foi acompanhado pela precoce desmobilização ou reforma dos oficiais anteriormente pertencentes a Renamo. De facto, a questão militar tem contornos sinuosos, principalmente num momento em que vivemos a paz e que do ponto de vista orçamental, tem vindo a perder primazia e comparação aos serviços de informação e segurança e da polícia.
A questão eleitoral, apesar de afigurar-se de importância instrumental, é de facto acessória. A solução passa seguramente por dois pontos, quanto a mim, incontornáveis
1. Restituir o poder redistributivo de Afonso Dhlakama para que seja capaz de voltar a ganhar legitimidade e controle sobre seus homens. O que mais me preocupa é o facto de a liderança governamental nunca ter levado a sério as declarações de Dhlakama quando diz que os seus homens acham que “ele come sozinho” com a Frelimo. Não quero com isso dizer que ele tem razão ou esteja a mentir, mas este facto é sintomático da fraqueza do poder redistributivo, perdido ao longo dos últimos 10 anos. Se bem que este seja uma solução-aspirina do ponto de vista da sustentabilidade, ela constitui uma rampa de lançamento para de forma paulatina e séria se chegue ao consenso em relação a questão de reinserção das forças residuais de Dhlakama no que tange a (a) reinserção nas forças de defesa e segurança ou (b) desmobilização e integração no sistema de previdência do combatente ou (c) subsidio ad-infinitum destes, sem necessariamente passarem para nenhum dos lados.
2. Rever a questão eleitoral: a composição de membros da CNE e eventualmente outros órgãos de administração eleitoral coloca os partidos da oposição numa posição desvantajosa em relação ao partido no poder. Urge uma reflexão sobre o sentido e utilidade da proporcionalidade na composição dos órgãos de administração eleitoral. Se se pretende colocar políticos representantes partidários nos órgãos de administração eleitoral, então devem ser em número igual. Ou por outra ninguém poe lá os pés. Da forma como está, não há justiça eleitoral. Os partidos não partem em mesmas condições para a eleição. Não é por acaso que todos concorrentes a presidência da República recebem um valor igual para o subsídio das despesas eleitorais. Foi pensando na igualdade de circunstâncias e oportunidades que assim se decidiu.
O corolário lógico destas soluções a terem que ser materializadas ainda neste ano implica a não realização das eleições autárquicas.
Matar Dhlakama seria cobardia por parte de quem não quer solucionar o problema de forma sustentável. Porque depois dele, poderão surgir outros, tantos e dispersos. Ademais, os que assim pensam estão despojados de comandos analíticos sóbrios e estão despojados da consciência histórica.
DICA: Pensar que Dhlakama está em Santunjira, Gorongosa é outra ingenuidade típica dos iniciados, que pensam que ele opera como se de um campaigner (pregador, não “Pregadori du Dezertu”) se tratasse.
DICA 2: É importante que se saiba que a guerra ainda não começou. E não vai começar. O que está acontecer é o conjunto de manifestações de instabilidade que dão coerência ao estado anómico que vivemos. Descontentamento generalizado; vertigens do carvão, gás e sucessão; concentração do poder; pobreza e partilha de recursos.
Dica 3: A popularidade do governo moçambicano é tão baixa que uma eventual guerra declarada pelo governo pode ter efeitos adversos e eventualmente levar ao golpe de estado. Se calhar seja isto o que os arautos da dita “solução angolana” querem.
Dica 4: A próxima manifestação pela Paz deve ser em Muxungwe, já que lá de acordo com informação oficial, está seguro. Isto teria efeito catalítico não só directamente sobre o povo que padece da nudez – as camisetes e capulanas iriam ajudar a mitigar este efeito – como também provaria com actos do estado de paz que vivemos.

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  • Frank White well said..dialogo is a must...on this one..

  • Zenaida Machado Para alem disso...matar Dhlakama seria transforma-lhe em heroi... o tal heroi que o pessoal do centro norte sempre quis ter...

  • Tomo Valeriano Conversando tudo se resolve...uma sentada familiar...os MADODAS que dialoguem e falem a mesma lingua.

  • Livre Pensador Negoceiem as mais-valias e tudo se auto-resolvera. Nao sei onde esta a dificuldade de perceber TAO OBVIA questao.

  • Amina Momade gostei da Dica 4, muito relevante, o resto ja sabia, sei e saberei ainda.

  • Cheu Domingos Gramei da dica 4, bem pensado.

  • Menya Wanicela A dica 4 e de veras interessante.

  • Télio Chamuço @ Livre Pensador, as mais-valias pertencem ao povo. Não é justo com que "tão óbvia questão" seja negociada e repartida entre partidos políticos como se fosse algo do fórum privado deles!!!

  • Livre Pensador Para grandes males, grandes remedios. Se isso acalma as feras, passemos aos assuntos praticos. Retorica nao traz a PAZ ao povo. E nem mata a fome dos vampiros. So nos remete a impasses como o que temos visto nestes ultimos dias.

  • Nhanza Bridje Dlakama acabe de ser visto a desembarcar no aeroporto da Portela, Lisboa. A fuga do homem só pode ser interpretada como um escape da conspiração da sua morte. Há ordens de o matar?, sim há. Concordo que os os governos fronteiriços, Zimbabwe, malawii e Africa do Sul, possivelmente Angola estejam a colaborar nisto.Assim fica a interrogação de Cherlock Holmes, quem vai se beneficiar com a morte de Dhakama?

  • Livre Pensador Quem o viu la?

  • Télio Chamuço Livre Pensador, eu até entendo o teu "ponto". Ou seja, a tua ideia da divisão das mais-valias tem em vista "matar a fome dos vampiros" e com isso alcançar-se a paz. Mas o círculo vicioso continua, pois um dia as mais-valias terão de ser renegociadas, quando uma das partes considerar que já não servem (aliás, sempre foi assim desde a assinatura do AGP). E nesse dia, enquanto não houver acordo sobre elas, voltaremos a rodopiar no mesmo rotativismo cíclico e por aí em diante. Tem de acabar essa reivindicação de divisão das mais-valias que tem como sustentáculo a chantagem da guerra e o sofrimento do povo. Mas repito, percebo o teu raciocínio, todavia considero injusto para o povo!

  • Salomao Munguambe DICA - 4 E" RESUMO DE TODOS OS COMENTÁRIOS QUE TENHO FEITO SOBRE ESTE ASSUNTO DE UMA POSSÍVEL GUERRA. DEU PARA TODA GENTE MERGULHAR-SE NO SIMBOLISMO VAZIO DO GOVERNO SEM ATITUDES PROATIVAS.

  • Livre Pensador Telio Chamuco uma coisa e ser idealista. A outra e ser pragmatico. Eu prefiro solucoes pragmaticas a idealismos evaporantes.

  • Télio Chamuço O que chamas de pragmatismo não nos faz sair do mesmo desde 92... Se é isso que preferes, estás no teu direito. Há quem acha que pragmatismo é a materialização da ideia do assassinato do Dhlakama, por exemplo. Também está no seu direito. Pelos vistos, temos aqui dois pragmatismos opostos.

  • Livre Pensador Voce esta a pedir aos inimigos da liberdade a responsabilizacao de serem os fiadores dela. Isso para mim e irrealismo. O que e pragmatico e conceder ao POVO a paz para que a juventude transforme esta sociedade. Porque isso vai acontecer pela Lei da Vida. Agora, se a transformacao se fizer pela obediencia cega as ambicoes guerreiras de quem esta com o pe na cova, entao esse e um mau e desaconselhado caminho.

  • Télio Chamuço Nem acredito no que acabo de ler... Logo que a paz estiver (ou estivesse) consolidada, tu estarias na vanguarda da crítica sobre a ilegítima divisão partidária e promíscua de mais-valias (pois já te vi a criticá-la várias vezes). E ainda dizes que isso é ser pragmático??!! Diga que é a solução menos penosa para o povo, mas chamar isso de pragmatismo e ainda estar a veementemente favor dela é de bradar aos céus!!

  • Vagumar Armindo Gente a Dilma Rusself, pelo menos, a ninel de discurso mostral alguma maturidade de gestao e lideranca em tempo de crise. Acredito eu, que sria muito bom se de la pudessemos tirar alguma ilacao.

  • Livre Pensador Nao acredite se quiser. Mas a negociacao em politica faz-se assim, com concessoes mutuas. Teria proposta melhor?

  • Télio Chamuço Hey... calma aí!!! O facto de não lhe trazer uma ideia mágica (até porque os pontos em disputa são complexos) não significa que automaticamente eu deva acolher a mais desastrosa que surgir ou for sugerida.

  • Livre Pensador Pois claro. Mas adjectivacao nao traz nada de novo a discussao.

  • Télio Chamuço Mais do que discutir, estou preocupado com soluções. E a que avanças não traria nada de novo ao país. Repito, estamos nisso desde 92. De 6 em 6 meses terias do mesmo!

  • Livre Pensador Voce fala de POVO, mas nao fala de Fundo Soberano, por exemplo. Que nunca e aceite pelo Governo e nem sequer encorajado por doadores e Banco Mundial. Como espera que ele se beneficie das mais-valias? Isto e uma abordagem pragmatica? Voce diz que as riquezas sao para o POVO. Mas os impostos tambem sao. E no entanto, eles sao desviados para pagar helicopteros ou ate salarios a quem nada faz. Mas isto nao faz diferenca nenhuma ao Banco Mundial, desde que seus "peoes" la estejam para recebe-los. E tantas e tantas outras anomalias com as quais temos que conviver. Agora, o que fazemos para reverter o cenario? Vamos ficar pelo facebook? Vamos a STV? Vamos fazer queixinhas aos doadores (responsaveis morais por essa decadencia)? Ou avancamos com solucoes possiveis? Eu prefiro fazer o que e necessario, ao inves de ambicionar pela extrema perfeicao. Nao ha sistema poltico perfeito no mundo. Ate o Vaticano e iniquo. Mas a fe e cega.

  • Jr Chauque Nhanza.B ,nte metas em publicidade enganosa pk vais te enganar a si próprio,kem viu o dlhakas em Lisboa?kuando?

  • Télio Chamuço Li, da tua lavra, há bocado que a adjectivação não traz nada de novo. Cá estás tu com ela. E pior, má adjectivação. Quem lê isso que acabas de teclar, fica com a errada impressão que apoio ou estou a favor dos maus exemplos que acabas de descrever. Mais ainda: dizias ser pragmático. Se fosses, não irias propor divisão de mais valias pois sabes muito bem que isso NÃO IRÁ ACONTECER. E eu é que estou a "ambicionar a extrema perfeição"??!!

  • Livre Pensador Bem se nao percebeu, nao sou eu que lho vou ditar. O que Telio Chamuco parece nao perceber e que todas as disputas politicas assentam no controlo dos recursos de poder. Quem os tem agora em Mocambique e apenas a FRELIMO. E por isso, governa faustosamente e ditatorialmente. Se esses recursos forem redistribuidos na origem por mais intervenientes, essa forca avassaladora nociva para a democracia sera controlada a medio-longo prazo pela dinamica da mesma. Ninguem precisa de continuar a sangrar a funcao publica para acomodar o poder absolutista dos partidos. Porque afinal, essa e a receita. Todos que ja se apossaram do poder, inclusive a nivel autarquico, igualaram-se. Que idealismos do POVO aqui fenescem? Na academia, creio. Porque na real politik nunca vi. E mais, saiba que isto tudo comecou a ficar negro quando os fundos do OGE para a RENAMO foram reduzidos em 50%. Quer exemplo mais gritante? Ou prefere manter o status-quo do governo a mesa negocial? "A LEI, os ideais, a moral, etc.". Isso resolveu o que ate agora? E o processo de paz em Mocambique? Foi pela moral? Ora essa.

  • Avelino Francisco Navaia Concordo contigo ex meu colega do lar bagamoyo Vagumar.

  • Télio Chamuço Agora eu que chamarei isso de idealismo evaporante. Sinceramente, em que critérios te sufragas para apontares que a médio prazo seria controlado??!! Tudo quanto ao resto, deves saber que defendo o mesmo que tu até porque em determinados fóruns tenho-me excedido em disseminá-las. O nosso ponto de discórdia aqui continua a ser a divisão de mais valias. Primeiro, não irá acontecer, por isso é inútil falarmos sobre ela. Segundo, se acontecesse, não resolveria o problema. Adiaria por meses. Pela terceira vez digo: desde 92 que andamos no mesmo. A solução transcende esses "acordinhos" de satisfação fugaz que propões.

  • Ismael Momade Adamo Adamo Se Dlhacama morre até vai aumentar o FOGO,mais nada; BEM TALVÊS SE O PATO MUDAR DE PAPO E AS CAGADAS DELE PODEMOS FUMAR UMA PASSA NA BOA.

  • Livre Pensador Esta enganado. O acordo de 92 nao conduziu a reparticao dos recursos de poder. As FPLM foram desmanteladas. O SNASP foi. A RENAMO desmobilizou 80% dos seus homens. Mas a PRM foi transformada numa forca paralela ao exercito. Alias, dois anos antes do AGP, esta corporacao recebeu desmobilizados das FPLM que assumiram cargos de chefia. As alfandegas tambem. O SISE tambem. E a economia manteve-se nas maos do Governo. Nesta ordem de ideias quem estariam em posicao de impor? O Governo. Os erros politicos de Dhalakama fizeram o resto e conduziram a sua evaporacao do cenario nacional. Resta-lhe agora a "guerra desruptiva". Portanto, acho que o problema aqui e teimosia em perceber o argumento contrario. E quando assim e nao adianta entrar em argumentos circulares. Isso vejo ha seis sessoes no Joaquim Chissano. Ou entao, avance com ideias que se possam debater. Diga por exemplo, como trataria das mais-valias hoje se tivesse que encontrar uma solucao para o problema actual.

ADENDA
Jonas Savimbi, " a morte que deixou Angola viver em Paz".

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