segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Autoridades de Moçambique na Gorongosa: ato de soberania ou provocação?


Renamo condena deslocação do vice-ministro do Interior à Gorongosa, um dos bastiões do partido. O "marcar de posição" do Governo no local é visto por muitos como uma afronta ao maior partido da oposição. Na quarta-feira (12.11), o vice-ministro moçambicano do Interior, José Mandra, esteve na Gorongosa, onde conversou com as

Forças de Defesa e Segurança (FDS) estacionadas no local. De acordo com o Jornal Notícias, o vice-ministro disse que as forças "devem estar em prontidão na prevenção e combate ao crime, por se tratar de um dos deveres fundamentais que se enquadram na agenda nacional de mitigação da pobreza". Embora os confrontos entre a Renamo, o maior partido da oposição, e o exército governamental tenham acabado, as FDS não saíram da região e ainda não há uma data prevista PARA a sua retirada. A Renamo não viu com bons olhos a presença de Mandra no seu reduto. Nas palavras de António Muchanga, porta-voz do partido, "a Renamo lamenta o que está a acontecer porque a região da Gorongosa é a mais segura do país, devido à natureza da população e à presença de elementos da Renamo".Muchanga denuncia "o fabrico de drogas e rapto de empresários sob o olhar passivo da polícia" de Moçambique, considerando que "está a ficar claro que o Governo moçambicano não sabe dar prioridade ao desdobramento das Forças de Defesa e Segurança e pode ser responsabilizado pelo que está a acontecer no país".

"Afronta à Renamo" diz diretor do Savana

Em Moçambique, há quem interprete este marcar de posição do vice-ministro do Interior como uma provocação à Renamo. Na opinião de Fernando Lima, jornalista e diretor do semanário independente Savana, José Mandra "não tinha nada que ir à Gorongosa, não tinha nada que fazer aquele show, porque claramente foi uma afronta à Renamo". No entanto, explica o jornalista, "não há nenhuma mudança, as forças sempre estiveram ali".

Ao mesmo tempo que as autoridades moçambicanas marcam a sua posição no reduto da Renamo, o país aguarda ansiosamente pelo veredicto do Conselho Constitucional sobre a anulação das eleições gerais de 15 de outubro passado, conforme pedido da Renamo e do MDM, a segunda maior força da oposição. 15 de dezembro é o dia em que o Conselho deve bater o martelo. Já antes disso o maior partido da oposição tinha ameaçado fazer uma revolta popular, a contestar as eleições devido às irregularidades e fraudes eleitorais. Haverá alguma relação entre estes dois factos? Fernando Lima acredita que não. "O vice-ministro do Interior não é conhecido por ser muito inteligente, portanto não me parece que seja uma atitude bem pensada ou que alguém o tenha mandado lá PARA provocar a Renamo", diz Lima. Embora não considere que a ida à Gorongosa tenha sido uma boa ideia, o jornalista afirma que "o Governo tem razão, há soberania governamental em todo o território moçambicano, logo, o vice-ministro do Interior pode ir onde quiser sem ser impedido". Fernando Lima acrescenta ainda que as autoridades "não foram provocar a Renamo, não dispararam, não detiveram ninguém da Renamo, mas aquele distrito votou todo a Renamo. Por isso, têm de ter a consciência de que são, em última análise, um exército de ocupação naquela zona".

Renamo pede desbloqueamento de verbas
Por outro lado, decorre um diálogo entre o Governo e a Renamo onde o consenso demora a ser alcançado. Em cima da mesa esta a integração dos homens da Renamo nas Forças Armadas de Defesa e na Polícia e ainda a reinserção social e económica dos inaptos. O porta-voz da Renamo, António Muchanga, aponta o dedo ao Executivo, afirmando que "há divergências, porque o Governo retirou o fundo que está a custear as despesas desta operação e entregou-o ao ministro da Agricultura. Parece que o ministro está a confundir essa verba de manutenção deste processo com mais uma verba PARA o seu gabinete". "Nós temos 35 pessoas. O Governo tem 35 homens e a comunidade internacional tem 23. Estas pessoas precisam de ser assistidas do ponto de vista logístico. A RENAMO pede transparência: queremos saber quando e como é que o dinheiro será alocado", conclui Muchanga. DW

ESQUENTO – 17.11.2014

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