quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A diplomacia económica de Armando Guebuza (Concl.)


Quinta, 15 Janeiro 2015 00:00 |

FINALMENTE, a fase da diplomacia económica que se consubstancia no crescimento e no desenvolvimento económico trouxe consigo a necessidade de se investir para tornar o Estado sustentável. É sobre esta fase em que falarei de Armando Emílio Guebuza, que ao saber ler o momento em que Moçambique vivia, pois já se havia construído um Estado de democracia multipartidária, optou por dar prioridade a uma diplomacia baseada na atracção de investimentos.
Começando por avaliar a personalidade de Guebuza e o seu percurso facilmente se percebe que é um “business man”, um homem extremamente virado para o mundo dos negócios e não é de hoje que fez história na sua governação traçando uma nova “ERA” para o povo moçambicano, onde os recursos de que eu ouvia falar quando estava na terceira classe no livro de Ciências Naturais tornam-se uma realidade. Guebuza deu-me a oportunidade de ainda no auge da minha juventude viver em tempo real este fenómeno e tornar-me parte integrante no seu debate.
Ao abrir os cordões da bolsa, Armando Guebuza não anunciou de forma alguma que os recursos naturais e minerais de Moçambique estavam à venda como se de um leilão se tratasse para um novo conclave de Berlim cá vir retalhar o país e decidir onde explorar. Não de maneira alguma, Guebuza utilizou este “boom” dos recursos naturais como fonte de poder de barganha. E o que significa poder de barganha em gestão de negócios? Nada mais, nada menos que maior poder negocial.
Com efeito, Guebuza desmantelou o paradigma negocial do posicionamento de Moçambique no concerto internacional, transferindo-o do “Clube de Paris” para o “Clube dos BRICS” – com excepção da Rússia – a sede de negociação e estruturação das estratégias de desenvolvimento económico de Moçambique, tornando aqueles quatro parceiros preferenciais do país. Com isso, Guebuza alterou os termos de negociação, deixando o país de erguer a eterna estátua de peditório internacional para passar a negociar de igual para igual, numa verdadeira relação de “trade off”.
Para além dos ganhos efectivos e materiais desse novo paradigma de relacionamento com estados pares, Guebuza concedeu aos moçambicanos uma vitória espiritual que nem o alcance da independência e a conquista da paz trouxeram a auto-estima, o olhar “shoulder to shoulder” para os parceiros internacionais e ser, por estes, reconhecido no mesmo patamar.
Com Guebuza, as conferências internacionais sobre as várias áreas estratégicas de desenvolvimento económico e social do país passaram a ter como sede Moçambique, um exemplo claro disto foi a presença em 2014 da mais alta autoridade do FMI, Christine Lagarde, na conferência denominada “Moçambique em Ascensão”. Isto é indicativo de que o país está a devolver para si mesmo o centro de decisão sobre as suas políticas públicas, e com isso simbólica e materialmente transformando o Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano no verdadeiro palco e “backstage” de “lobby” sobre o investimento directo estrangeiro no país.
No meio de todos sucessos económicos, Guebuza foi desafiado por crises económicas, domésticas e internacionais, no entanto a sua audácia e visão de longo alcance triunfou. Toda a crise gera uma oportunidade e nos dois mandatos de Guebuza o país viveu sob uma que eu prefiro chamar de “FALSA” crise de “déficit orçamental”. O que mais me marcou durante o percurso da governação de Guebuza foi quando precisamente perante este “deficit orçamental”, o que limitava a continuação de construção das infra-estruturas, tomou a decisão de ir buscar financiamento junto do Governo chinês para que “nós” (o povo moçambicano) pudéssemos ter infra-estruturas em dia. Mesmo ciente que haveriam críticas por causa do aumento da dívida pública, ainda assim Guebuza tomou uma decisão política que por mais que não vejamos os seus frutos hoje, estou ciente que em algum tempo veremos o esforço feito por ele.
É preciso reconhecer que durante o período de governação económica de Guebuza, crescemos demasiado em níveis de infra-estruturas, como estradas e pontes, o que valeu ao timoneiro da nação o qualificativo de “O Construtor”, uma forma cá por mim de meritoriamente reconhecer que as suas obras não mais significam senão o estabelecer de fundações sólidas e perenes para o “take off” de Moçambique, em termos industriais e comerciais. E essas estradas têm um impacto económico que viabilizou a movimentação de pessoas e bens, que futuramente vão servir estrategicamente Moçambique no projecto de integração regional.
Hoje necessitamos de mais estradas com qualidades, porque as pessoas já têm viaturas e não só, observamos também que o sector de imobiliária disparou, as pessoas hoje podem não construir casas luxuosas, mas há tendência de cada vez ir se construindo casas melhoradas feitas de blocos e cimento, aumentou o número de pessoas com poder de compra e é possível verificar este fenómeno com a corrida massiva de empresas que se dedicam a indústria alimentar para Moçambique.
A um pouco mais de 10 anos tínhamos apenas a Shoprite em Maputo, hoje temos Mica, Extra, SPAR, etc. A própria Shoprite já existe nas cidades da Beira e Tete, e cada vez mais procura se arrastar para as demais províncias deste belo Moçambique. Este fenómeno normalmente acontece quando as pessoas “podem comprar” dado a natureza do próprio negócio.
Apesar destas conquistas de governação económica de Guebuza, persistem desafios no desenvolvimento humano de Moçambique. Ainda assim, é preciso percebermos que Guebuza não fez um tipo de diplomacia virado para aparecer nas melhores posições nos demais índices internacionais (ainda que tidos por muitos como termómetro) mais sim, lutou durante o período em que esteve no poder para melhorar as condições de vida do povo moçambicano, oferecendo-o maior qualidade e dando-o maior auto-estima. E trabalhou incansavelmente no sentido de atrair grandes investimentos para a Pérola do Indico com o intuito de aumentar as nossas oportunidades no mercado interno e no mundo.
Em suma, quando Moçambique alcançar a almejada independência económica, não serão os actuais críticos e detractores de Guebuza que estarão aqui para testemunhar esse feito, mas serão os seus netos que disso se beneficiarão. Tratarão então de erguer uma estátua, agradecendo e enaltecendo Armando Emílio Guebuza: Obrigado Chembene pela tua governação económica nos ter tornado senhores do nosso próprio destino.
NILZA DACAL

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