quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O fenómeno da bicha V

Vou fechar a minha reflexão sobre este assunto com o maior fenómeno da bicha que existe no país. Mas antes faço um desvio para falar de pesquisa. Tenho colegas espalhados por todo o mundo e que estudam os fenómenos políticos africanos. Muitos deles trabalham em universidades e centros de pesquisa. Qualquer pessoa que trabalhou neste tipo de lugar, cuja principal característica é de não fazer dinheiro e estar dependente de dinheiros de terceiros, sabe que podem ser verdadeiros antros de intrigas, nepotismo e promoção da mediocridade. Deve também saber que estes lugares são verdadeiros centros de luta pelo poder onde os que mais investem nisso têm maiores probabilidades de conseguir os melhores postos para si próprios e para os seus amigos. Não quero generalizar em demasia. Mas por vezes chego a pensar que se fosse como no passado e fosse permitido às pessoas irem armadas ao serviço em alguns lugares destes haveria “bang-bang” sério. Uma vez um colega antropólogo alemão, Thomas Bierschenk, contou-me um episódio engraçado sobre a passagem de Henry Kissinger, famoso ex-Secretário de Estado americano, pela Universidade de Harvard como professor convidado depois da sua carreira política. Quando os jornalistas lhe perguntaram como tinha sido o seu ano na universidade ele respondeu que nunca na vida tinha visto gente a lutar de forma renhida por tão pouco… (never in my life have I ever seen people fighting so hard for so little).
Agora uma inquietação: algumas destas pessoas, que são forjadas e temperadas nestas lutas pelo poder, estudam processos políticos em África e surpreendem-se quando veem gente a fazer essencialmente a mesma coisa que eles fazem no seu próprio cotidiano político. Aparecem depois com grandes conceitos como “neopatrimonialismo”, “política do ventre”, “entidades crepúsculo”, etc. que procuram tornar singularmente africanos comportamentos que são na essência humanos. Eu acho isso curioso e não me farto de fazer esse reparo a alguns dos meus colegas. É uma manifestação do fenómeno da bicha. O mais curioso ainda é que o discurso da singularidade política africana é também reproduzido no nosso continente por nós próprios. Não existe no mundo maior crítico da maneira africana de fazer política do que nós mesmos. Frequentemente ouvimos por aí desabafos do tipo “nós os africanos pá!”, ou “porque não aprendemos a fazer política como deve ser?”. No entanto, nós mesmo somos quem faz esse tipo de política. É o fenómeno da bicha outra vez. O nosso país tem sido um exemplo tristemente bom disto. O pano de fundo é a tristemente famosa “crise político-militar” que conduziu às igualmente famosas e tristes “hostilidades militares”.
Sobre este assunto tenho uma opinião forte que tenho vindo a defender desde que o imbróglio começou. A situação para mim é clara. Temos partidos políticos e uma parte considerável da sociedade que não estão de acordo com a forma como o país é governado pelo partido no poder. Esse descontentamento tem a ver com a convicção segundo a qual a legalidade estaria a ser violada a favor do partido no governo. Não interessa saber se têm razão ou não. É o que se pensa. Um desses partidos, que tem recursos militares, decidiu por conseguinte fazer uso da violência para reivindicar certas coisas. O país dispõe duma constituição de orientação democrática, portanto, um documento que permite (e legitima) toda a reivindicação que for feita no respeito pelo espírito e letra desse documento fundador. A dificuldade lógica aqui é a seguinte: só aceitando este documento – agindo dentro do seu contexto – é que uma reivindicação se torna legítima. Fora dela a reivindicação perde a proteção constitucional e coloca as pessoas fora da lei ou num estado de limbo. São duas coisas que me espantam na forma como abordamos este problema. Uma é a atitude de quem defende a prerrogativa desse partido de fazer uso da violência para fazer essas reivindicações. Essa defesa é feita com recurso ao argumento “Tu Quoque” (tu também), isto é, de que é legítimo violar a constituição em resposta à suposta violação da constituição pelo governo. O que me espanta nesta atitude é o que tenho vindo a defender nesta reflexão sobre o “fenómeno da bicha”: que valor protegemos ou defendemos quando consideramos legítimo que um partido político use a violência contra os órgãos do Estado? Tenho em mim que estamos a defender a lei do mais forte e, pior ainda, privamo-nos da única âncora moral que nos pode proteger (agora e no futuro) contra a arbitrariedade de quem defende posições absolutas (e não só da parte da Renamo) ao mesmo tempo que nos permite conferir maior força moral à nossa indignação. A segunda coisa que me espanta é porque esses defensores têm dificuldades em separar duas coisas que me parecem distintas: a legitimidade duma reivindicação (que vem da constituição) e a forma como essa reivindicação é feita (invalidando a constituição). É que não importa como o governo trata a constituição. Ela, a constituição, é que pode estruturar a nossa indignação. Caso contrário, ela só vai valer enquanto ela estiver de acordo com as nossas posições ideológicas, o que é o mesmo que dizer que ela não tem nenhum valor normativo. Mas lá está o fenómeno da bicha: estamos todos tão convencidos das nossas posições que estamos preparados para dar a nossa vida por elas. E depois perguntamo-nos porque não há estabilidade política em África… e mesmo aqui vai aparecer alguém a insistir que se o governo viola a constituição, então tudo vale!
Mas é por esta razão que considero hipócrita e incoerente todo o indivíduo que se reclama democrata, mas encoraja por omissão e comissão atitudes que atentam contra a ordem constitucional. A Renamo pode recusar empossar os seus deputados; pode fazer manifestações devidamente autorizadas; pode fazer petições e tudo o mais previsto na lei. O único que não pode fazer é pôr em causa a ordem constitucional e faltar o respeito aos seus órgãos. O cúmulo disto foi alcançado pelo Jornal Savana quando distinguiu o líder da oposição como sua figura do ano. Não questiono as suas qualidades políticas (tanto mais que a esse nível sou um anão) e penso que em circunstâncias normais a distinção até possa ser merecida. Mas um indivíduo que põe em causa a constituição, que ameaça dividir o país (e não nos esqueçamos que o seu partido já deliberou, inclusivamente, a divisão do país), que não aceita a autoridade dos órgãos de soberania deste país senão quando satisfazem a sua vontade é simplesmente encorajado a persistir neste equívoco trágico para o país por gente que tem um entendimento bastante problemático de democracia. Veem-se como meros espectadores duma situação que apenas afeta outros. Não são capazes de ver que eles são parte do problema.
O líder da oposição percebeu durante o conflito no ano passado que ele estava muito mal e que tinha poucas hipóteses do ponto de vista militar, mesmo perante um exército que ao que tudo indica continua tão fraco e desorganizado como na altura da guerra dos 16 anos. Os banhos de multidões na campanha eleitoral e a forma frenética como ele foi festejado por todos aqueles que não gostam de quem está no poder (sem necessariamente gostarem dele) levaram-no, talvez, a perder a noção da verdadeira correlação de forças. Sempre disse, e vou continuar a dizer, que desde há muito tempo que o problema (se é que problema jamais foi) deixou de ser o líder da oposição para serem as pessoas que têm contas a ajustar com quem detém o poder neste momento. O verdadeiro perigo que a nossa democracia enfrenta vem desta gente, não vem necessariamente da Renamo ainda que ela tenha no seu seio, como também os outros partidos têm, gente de carácter duvidoso. Por exemplo, fiquei arrepiado recentemente ao ver um “like” dum aspirante a deputado pela Renamo, um indivíduo formado, a um comentário de alguém que ameaçava outra pessoa de linchamento se pusesse os pés numa cidade do país com muitos simpatizantes da Renamo. Que tipo de assessoria é que o líder vai ter da parte de quem devia ter um melhor entendimento do jogo democrático? O verdadeiro perigo vem de quem se desligou da Frelimo por não mais se identificar com a sua política, mas acha que deve continuar a fazer política contra ela aplaudindo tudo o que os seus adversários fazem e criticando tudo o que ela faz. Esquecem-se que nestas coisas de violência estão a lidar com Cronos (ou Saturno), a divindade da mitologia grega que devorava os próprios filhos. Por tudo quanto tem sido o comportamento da Renamo até hoje, e tendo em conta o comportamento da Frelimo no período imediatamente a seguir à independência, é muito provável que muitos “filhos” da mudança que tantos anseiam tenham o mesmo destino. Quem te liberta pelo uso da violência está-se nas tintas para a tua liberdade…


Nós só vamos deixar de ser parte do problema, com alguma hipótese de sermos parte da solução, no dia em que se constituir uma frente ampla inequivocamente a favor da ordem constitucional. Recai sobre os ombros daqueles que não gostam do partido actualmente no poder, e em especial sobre os ombros do outro partido que pretende ser alternativa ou terceira força, indicar claramente à Renamo que existe um limite para as reivindicações e que esse limite está alcançado quando se transpõe a linha que nos separa da legalidade. Por mais curioso que pareça, só essa atitude firme e de princípio é que tem hipóteses de reforçar o compromisso dos simpatizantes do partido no governo com a ordem constitucional. Não seria a primeira vez que um país seria salvo da destruição pela acção inteligente, prudente e patriótica do menos forte.
Like ·  · Lindo A. MondlaneGabriel MuthisseDereck De Zeca Mulatinho and 30 others like this.5 sharesLindo A. Mondlane uau professor... sintentizou...21 hrs · Like · 1Valter Tale Concordo plenamente, quando afirma que alguns estudiosos " que procuram tornar singularmente Africanos comportamentos que são na essência humanos. " voltando a reflexão para o caso Moçambicano, e' difícil fazer uma análise em ciência política, quando uns não respeitam a Constituição e obrigam a que os outros respeitem. Num contexto onde todo o jogo sujo vale, mas a oposição por menor erro que comenta e' logo sancionado, mesmo quando não comete nenhuma irregularidade são conotados como um bando de arruaceiros e "bandidos armados ".19 hrs · Like · 1Alcídes André de Amaral Tenho dito por ai que "agora comeco a pensar que o maior incitador a violencia nao `e necessariamente a RENAMO ou Muchanga ou Dhlakama, o maior incitador a violencia `e uma boa parte de nos simples cidadaos" e tambem pessoas que teriam que ser pelo menos a luz da escuridao. Mas parece que estes estao mais na escuridao do que a populacao inteira... Falo de muitos que se dizem intelectuais e analistas da praca! Tenho dito que as (para me tristes) decisoes tomadas pela Renamo e pelo seu lider nao pode estar fora da maneira como os ciddados mocambicanos produzem e reproduzem os seus problemas! Senao, nao as coisas nao aconteceriam "assim"! Tenho dito que se se exige o cumprimento e se se reclama o nao cumprimento em relacao ao partido ou membros dos partidos no poder, que se seja entao coerente! Que se faca o mesmo para qualquer um que `e regido pela constituicao!19 hrs · Like · 2Julião João Cumbane Caro Elisio Macamo, escolheste uma forma muito didáctica de fechar a tua reflexão sobre "[O] fenómeno da bicha". Sobre as violações da Constituição da República (CR), eu indago se a complascência das instituições do Estado responsáveis pela segurança e ordem públicas e pelo controlo da legalidade, nomedamente a Polícia da República de Moçambique (PRM) e a Procuradoria Geral da República (PGR), relativamente às ilegalidades praticadas por Afonso Dhlakama e pela Renamo, não é 'per se' uma violação flagrante da CR... Aqui me parece que o nosso Estado é, ele próprio, parte do problema das violações sistemáticas da CR...18 hrs · Like · 1Alcídes André de Amaral Pode ser verdade o que dizes caro Julião João Cumbane... No fim e ao cabo somos todos partes do problema! O que acontece `e que ha uma boa parte de nos que se diz inocente... Que nao consegue ver nele uma parte do problema. Que se veem como simples espectadores!18 hrs · LikeAbilio Macuacua O texto cheira muita parcialidade! Temos a FRELIMO, a RENAMO e outros partidos que se dizem representar o Povo, e o CIDADÃO. Presume-se, do texto, que a RENAMO e o CIDADAO são os proeminentes violadores da Constituição da República (CR). Agora lembro-me que houve violação da CR para alcançar-se a Independência Nacional. Uma vez alcançada, os Direitos Humanos continuaram sendo desrespeitados pelo partido no poder, até mesmo pela própria CR, o que culminou com a Guerra dos 16 anos (nada de culpar os outros pela guerra). A nova CR também tem sido constantemente violada e, muitas vezes, por quem a devia e tem jurado defendê-la. Tanto a RENAMO como a FRELIMO são bandidos armados e inimigos da CR, sendo cada um com uma porção bem definida de culpa. Claro que o cidadão tem dado cobertura aos violadores, enquanto deveria ser o protector natural dos Direitos Humanos, por isso é o maior culpado. Quer dizer, o Professor Elísio Macamo e eu somos os maiores culpados destas desgraças à CR. A seguir é a FRELIMO (bandido e incapaz de defender a CR, chegando até a violá-la) e, por último a RENAMO. Os nossos mandatários, seja a FRELIMO ou RENAMO, não têm cumprido com as suas obrigações. Mesmo assim, nós, mandantes, limitamo-nos a murmurar! Devemos partir para as acções concretas, antes que a cobra tome conta. Quem já bateu no seu filha(o), esposa(o), outrem? Quem já bateu ou matou n/um animal, mesmo não comestível? Isso é violência! E por que o fazem? Nenhuma CR prevê violência para resolver qualquer que seja o problema, pois esta nem precisa ser estatuída. Ela é natural. Sempre que os factores determinantes estejam reunidos e as condições criadas, ela aparece. É o último recurso, instinto animal. Aliás, Muitas CR's surgiram da violência. Esta tem sido a fonte primária das CR's. Sou contra a violência, mas só até quando for desnecessária! Não nos iludamos, a violência existirá sempre como último recurso! Os valores mais nobres que defendemos hoje são fruto da violência. Falemos bonito, mas esta é ...!16 hrs · Edited · Like · 1Elisio Macamo Alcídes André de Amaral, obrigado pelo seu primeiro comentário. é a resposta adequada aos comentários de Valter Tale e de Abilio Macuacua que receio não terem entendido o meu argumento. a minha questão não é se o governo viola ou não a constituição. é a fonte da minha própria indignação e a sua referência normativa. eu penso, e estou sempre a dizer isto, que o espírito da constituição é a nossa salvação. não resolvo nada colocando essa constituição à disposição só porque uma das partes a viola. só valorizando esse espírito (exigindo que um partido político não aja fora dela) é que fico moralmente equipado para condenar quem a viola. agora, se preferir glorificar a violência (porque tudo resulta dela), muito bem, mas é justamente isso que critico e que considero a fonte do problema.16 hrs · Like · 3Elisio Macamo eu acho, Julião João Cumbane, que o argumento de que as instituições que velam pela nossa segurança estariam a violar a constituição faria mais sentido se eles no nosso país agissem com maior autonomia da política. esse não me parece ser o caso, por isso considero contraproducentes todos os apelos que vejo por aí para que tomem esse tipo de medidas. e, na verdade, esse não é o meu foco. o meu foco é a nossa responsabilidade cívica e a importância de nos escudarmos por detrás do espírito da constituição.16 hrs · Like · 2Emilio Maueie Lamentavelmente, terminam as "aulas" sobre a nossa hipocrisia e incoerência. Infelizmente o nosso país é rico em exemplos deste fenómeno. Indo para o post, nao quero tanto discordar consigo quando diz que este é o maior "fenómeno bicha" do país. Talvez porque parte da lei-mãe - a constituição. Mas na minha opinião, o maior "fenómeno bicha" do país é a corrupção (tinha um pouco de esperança que fosse tratado nesta sequência de apresentações), avaliando pala sua dimensão ou abrangência. No país "todo mundo" corrompe para ganhar vantagem em determinadas situações. Comrrompemos em tudo e com todos: nos partos, "nos BI's", nas celas, nas procuradorias, na distribuição de redes mosquiteiras. Corrompe-se até em prejuízo próprio. Por exemplo, corrompemos a PT para continuar a conduzir embriagado ou sem iluminação à noite; encarregados de educação corrompem professores para os educando passarem de classe, pagamos a policia para soltar criminosos, etc. Mas hipocritamente, todos nós reclamamos da corrupção do polícia, do enfermeiro, do professor, do atendedor público. E o país afunda. Tamanha hipocrisia e incoerência.15 hrs · Like · 1Abilio Macuacua Professor, não estou glorificando a violência! Apenas chamo atenção que ela aparece naturalmente, quando esgotadas todas as formas pacificas de resolução de um problema, dependendo da capacidade negocial e de controlo emocional das partes envolvidas. Ela não deixara' de existir só porque a negamos e condenamos! Para a evitarmos devemos ser honestos uns para com os outros, de modo a confiarmo-nos. Não peçamos para que os outros deixem de ser violentos quando estamos sempre violentando-os, seja moral ou fisicamente.15 hrs · Like · 2Elisio Macamo sim, Emilio Maueie, esse é também um bom exemplo, embora eu não goste muito dele por outras razões. penso que ele precisaria de ser enquadrado duma outra forma, mais com um tipo específico de cultura política, mas não quero entrar nisso agora. anda há uma hora atrás estava a governar com um ex-ministro grego (que é académico) e que me falava das suas peripécias com a cultura política do seu país (ele, como eu, é docente fora do seu país) e de como é complicado reduzir tudo à corrupção quando está em jogo uma história institucional complexa. muito complicado. mas, sim, se não pagássemos não haveria corrupção. mas vemo-nos obrigados a pagar...15 hrs · Like · 1Elisio Macamo certo, Abilio Macuacua. infelizmente, já discuti este assunto tanto (se estiver interessado veja os posts sobre o assunto) e por isso não gostaria de voltar a repetir os mesmos argumentos.15 hrs · Like · 2Julião João Cumbane A responsabilidade cívica, Elisio Macamo, alcerça-se na Constituição da República (CR), que define quem somos e como devemos agir para sermos como nos definimos. Ora, se as instituições do Estado que devem zelar pela observância da CR não cumprem o seu papel, como é que pode esta mesma CR, enfraquecida por falta da acção de quem a deve defender pode ser escudo da nossa acção cívica?

"[O] argumento de que as instituições que velam pela nossa segurança estariam a violar a constituição faria mais sentido se eles no nosso país agissem com maior autonomia da política. [E]sse não me parece ser o caso, por isso considero contraproducentes todos os apelos que vejo por aí para que tomem esse tipo de medidas." Elisio, então não era suposto que as instituições do Estado agissem com maior autonomia política? Afinal, isso é que iria fortalecer a acção cívica! 

Julgo que todo os apelos à acção cívica mais vigorosa que Elisio Macamo advoga (e concordo com esta advocacia) não podem surtir o efeito desejado se as instituições do Estado não poderem agir com autonomia política. E é a falta desta autonomia política das nossas instituções do Estado que cimenta a ideia de que o Estado moçambicano está partidarizado. Com efeito, tudo o ocorre no país é visto como se fosse resultado só das políticas da Frelimo. Assim, acaba-se criando a impressão de que Moçambique é uma "empresa" deste partido. É esta percepção que acaba gerando o crescente movimento anti-Frelimo que assistimos actualmente em Moçambique, envolvendo sobretudo a juventude da classe intelectual do país (que pouco compreende da nossa própria história) e que criticas (e eu apoio) neste teu 'post'. O crescimento do movimento anti-Frelimoresulta a bipolrização da sociedade civil moçambicana: dum lado estão os pró-Frelimo e do outro lado estão os anti-Frelimo. Actualmente, vivemos no país (Moçambique) uma situação em que não temos cidadãos que sejam verdadeiramente apartidários: ou és contra ou a favor da Frelimo, não existe meio termo. Esta bipolarização da sociedade civil resulta no enfraquecimento da acção cívica, dai que alguns vejam razão para dizer que "não existe sociedade civil em Moçambique".

Apelos devem também ser feitos para a Frelimo se desfazer—pelo discurso e por práticas—da precepção que se tem de que este partido vê o país (Moçambique) como sua propriedade. Esta precepção é fundamental causa das violações da CR temos vindo a assistir, incluindo pelas instituições do próprio Estado. Se a Frelimo não se distanciar clara e objectivamente desta má precepção que vem tendo sobre ela enquando força política dirigente do Estado, continuaremos assistir atropelos à lei, com potencial de conduzir a uma anarquia generalizada. É preciso que saiba e esteja claro os dirigentes das instituições do Estado devem obdiência exclusiva e escrupulosa à CR, e não a um comando emado do partido no Governo ou de quem os nomeou para esses cargos. Que nomea, fá-lo em cumprimento de um comando da CR, não signifcando esse acto que o nomeado seja vaçalo de quem o nomeou. Num Estado de Direito Democrático, ninguém deve cumprir ordens ilegais, venham elas de quem vierem. Quiçá nos falte este entedimento, e um instrumento normativo que regule o exercicío de autonomia política das instituições de modo a evitar interferências políticas partidárias não sufragadas pelo eleitorado no funcionamento do Estado. A nossa reflexão sobre "o fenómeno da bicha" deveria, pois, incluir a necessidade de identificar de práticas que produzem a percepção de partidarização do nosso Estado, de modo que quem dirige o Estado se pudesse distanciar delas. No cômputo geral, estes esforços iriam convergir e resultar no fortalecimento da acção da sociedade civil. E a sociedade civil fortalecida, livre da polarização política, já poderia desempenhar melhor o seu papel cívico.

"[O] argumento de que as instituições que velam pela nossa segurança estariam a violar a constituição faria mais sentido se eles no nosso país agissem com maior autonomia da política. [E]sse não me parece ser o caso, por isso considero contraproducentes todos os apelos que vejo por aí para que tomem esse tipo de medidas." Elisio, então não era suposto que as instituições do Estado agissem com maior autonomia política? Afinal, isso é que iria fortalecer a acção cívica! 
Julgo que todo os apelos à acção cívica mais vigorosa que Elisio Macamo advoga (e concordo com esta advocacia) não podem surtir o efeito desejado se as instituições do Estado não poderem agir com autonomia política. E é a falta desta autonomia política das nossas instituções do Estado que cimenta a ideia de que o Estado moçambicano está partidarizado. Com efeito, tudo o ocorre no país é visto como se fosse resultado só das políticas da Frelimo. Assim, acaba-se criando a impressão de que Moçambique é uma "empresa" deste partido. É esta percepção que acaba gerando o crescente movimento anti-Frelimo que assistimos actualmente em Moçambique, envolvendo sobretudo a juventude da classe intelectual do país (que pouco compreende da nossa própria história) e que criticas (e eu apoio) neste teu 'post'. O crescimento do movimento anti-Frelimoresulta a bipolrização da sociedade civil moçambicana: dum lado estão os pró-Frelimo e do outro lado estão os anti-Frelimo. Actualmente, vivemos no país (Moçambique) uma situação em que não temos cidadãos que sejam verdadeiramente apartidários: ou és contra ou a favor da Frelimo, não existe meio termo. Esta bipolarização da sociedade civil resulta no enfraquecimento da acção cívica, dai que alguns vejam razão para dizer que "não existe sociedade civil em Moçambique".
Apelos devem também ser feitos para a Frelimo se desfazer—pelo discurso e por práticas—da precepção que se tem de que este partido vê o país (Moçambique) como sua propriedade. Esta precepção é fundamental causa das violações da CR temos vindo a assistir, incluindo pelas instituições do próprio Estado. Se a Frelimo não se distanciar clara e objectivamente desta má precepção que vem tendo sobre ela enquando força política dirigente do Estado, continuaremos assistir atropelos à lei, com potencial de conduzir a uma anarquia generalizada. É preciso que saiba e esteja claro os dirigentes das instituições do Estado devem obdiência exclusiva e escrupulosa à CR, e não a um comando emado do partido no Governo ou de quem os nomeou para esses cargos. Que nomea, fá-lo em cumprimento de um comando da CR, não signifcando esse acto que o nomeado seja vaçalo de quem o nomeou. Num Estado de Direito Democrático, ninguém deve cumprir ordens ilegais, venham elas de quem vierem. Quiçá nos falte este entedimento, e um instrumento normativo que regule o exercicío de autonomia política das instituições de modo a evitar interferências políticas partidárias não sufragadas pelo eleitorado no funcionamento do Estado. A nossa reflexão sobre "o fenómeno da bicha" deveria, pois, incluir a necessidade de identificar de práticas que produzem a percepção de partidarização do nosso Estado, de modo que quem dirige o Estado se pudesse distanciar delas. No cômputo geral, estes esforços iriam convergir e resultar no fortalecimento da acção da sociedade civil. E a sociedade civil fortalecida, livre da polarização política, já poderia desempenhar melhor o seu papel cívico.9 hrs · Edited · Like · 1


  • Lindo A. Mondlane impressionante, obrigado por trazeres aqui..
  • Alcídes André de Amaral De nada Lindo A. Mondlane... Tudo que `e necessario compartilho!
  • Joaquim DoCastelo Uma excelente parte da mesma moeda!...
  • José de Matos Alcídes André de Amaral, nao consigo ver a postagem! é so visivel para os teus contactos? eu nao era teu contacto antigamente?
  • Lindo A. Mondlane tem a mesma no meu mural..
  • Alcídes André de Amaral Nao sei as razoes José de Matos. Nao sei o que esta acontecer!
  • Estevao Chambule Attachment unavailable
    2 hrs · Like
  • Germano Milagre Tb nao vejo ... Nem na tua pagina Lindo A. Mondlane ... Era sobre quê ?
    2 hrs · Like · 1
  • Antonio A. S. Kawaria Este que é o destino original do texto que vocês (Lindo A. Mondlane e Alcídes André de Amaral) era mesmo somente para o Germano e José de Matos? Porquê será que eles não podem vê-lo?
    1 hr · Like · 1
  • Lindo A. Mondlane por isso o passei a limpo... as vezes acontece..nao estas a insinuar que estarao bloqueiados?.. acho que nao..
    1 hr · Like
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, o que significa insinuar?
    1 hr · Like
  • Lindo A. Mondlane nao me malinterpretes..quis dizer que nao estaras a pensar que o facto de nao visualizarem o texto o E.M lhes tera bloqueiado? isso quis dizer
    1 hr · Like
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, como mal-interpretar? A palavra insinuar está aí. De todas as maneiras, podemos deixar essa expressão porque já te desculpei. Eu vejo o texto e tenho certeza que Manuel J. P. Sumbana e outros vêem-no. Daí voltemos à minha interpelacão. O que acháis que as pessoas devem fazer com o texto aqui no Diálogo?
    1 hr · Like
  • Lindo A. Mondlane é para eu repetir?.. eles queriam ler, e ja podem ler..se quiserem pode ignorar...
    1 hr · Like
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, os membros deste grupo vão ler o texto como se bíblia ou koran fosse para os religiosos?
    1 hr · Like
  • Lindo A. Mondlane nada aqui se lee como corao, nem biblia... o José de Matos, acaba de dizer que nao lhe aporta nada novo...perfeito e muito bem................ a mim sim que me aportou e muito... afinal de contas sou tambem moçambicano....francamente aspiro a que muitos poçamos ver mz..como ve o Elisio Macamo neste texto..
    1 hr · Edited · Like
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, veja que eu não estou a falar do texto que querendo vou para o mural do Macamo, ainda que eu tenha acesso. Concentrem-se no que questiono (Lindo A. Mondlane e Alcídes André de Amaral) porque penso que quando vocês lêem o que Elísio Macamo escreve, percebem muito bem.
    1 hr · Like
  • Lindo A. Mondlane tu podes, mas pelos vistos outros nao... mas em todo caso, que tem este texto que nao te deixa sossegado amigo?... nao é sobre mz?, insulta alguem?, atenta contra orgulho e dignidade de alguem???.. porque nao pode encaixar aqui?.. nao entendo francamente..ou ja impera a censura aqui?.. se perguntar nao ofende..
    1 hr · Edited · Like
  • Antonio A. S. Kawaria Já vou facilitando-lhes. Vocês pediram autorizacão a ele para publicarem este texto neste grupo?
    1 hr · Like
  • Lindo A. Mondlane nao é esta pagina para discutir moçambique?...nao creio que o elisio macamo me ponha problemas em difundir este texto...ja nao se pode trazer aqui textos de gente de fora desta pagina?..desde quando?????.....
    59 mins · Edited · Like
  • Lindo A. Mondlane nao te preocupes Antonio A. S. Kawaria... eu me entenderei com ele...
    58 mins · Edited · Like
  • Lindo A. Mondlane ESTARA ELE BANIDO AQUI?.. SIM OU NAO?.. SE SIM RETIRO O TEXTO E JA..
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, o problema aqui não é se tu e outros se entendem com ele. Esse entendimento com ele até pode ser um dos grandes problemas. Que vocês voltem a ler o aviso que Elísio Macamo deixou no seu mural com um texto de título: O bazer vai fechar.
  • Lindo A. Mondlane pois retiro, embora nao creio que isso fosse problema.. te asseguro eu..
  • Lindo A. Mondlane retirado..embora entendo que nao tem nada que ver com o tal aviso..o texto é incomodo aqui...
    50 mins · Edited · Like
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, ainda que nos acusar? O texto incomoda a quem aqui? Se mesmo lá no mural dele há mais críticos que tu que escreves nada? 
    Eu quis te avisar que a críticas aqui haviam te incomodar e depois ias fazer queixinhas ao Elísio para ele bloquear ou retirar da lista dele como escreveu. Tu sabes que nós desafiamos a Macamo sem mais nem menos.
    44 mins · Like · 1
  • Lindo A. Mondlane kakakak...me estas a tratar como miudo ne?.. de que servem 10 anos de correspondencia?..nao me conheces?..que quixas?..de que?.. estas a perder o norte e nao te reconheço... o texto te incomodou sim, so me conveceste no aviso, senao terias que borrar tu...
  • Antonio A. S. Kawaria Não Lindo A. Mondlane, veja o que estás a escrever. Comecas com insinuacão, depois terminas com acusar-me que a alerta que te faco é porque o texto incomoda ao grupo. Porque não agradeceres antes?
  • José de Matos Lindo A. Mondlane, porque aquele texto incomoda? O Professor Macamo nao pode ser rebatido, é o dono da verdade? 
    Quais sao as partes que incomodam?
  • Lindo A. Mondlane é que estou seguro que o professor macamo nao me reprenderia por trazer o texto aqui Antonio A. S. Kawaria... te asseguro eu..
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, fui eu a escrever o aviso no mural de Macamo? Vá aos blogs e a partir o de ele mesmo e verás que sempre tivemos debates acesos. Talvez querias conhecer alguns dos debates. A mim os textos de Macamo nunca me incomodaram. Mas me incomodaria se o que debatemos aqui sobre o seu texto lhe chegasse por terceiros em forma de queixinhas. Ele lá avisou sobre as consequências.
    27 mins · Edited · Like · 2
  • Eusébio A. P. Gwembe TEXTO UTILISSIMO QUE DEVIA SER LIDO COMO BIBLIA. NÃO É POR ACASO QUE HÁ BARULHO JÁ À SUA MARGEM.
    25 mins · Like · 2
  • Antonio A. S. Kawaria Lindo A. Mondlane, eu já disse que não seria contigo mas com os outros que neste grupo comentassem contra e a mensagem lhe chegasse pelos terceiros.
    25 mins · Like · 1
  • José de Matos Eusébio A. P. Gwembe, porque é utilissimo e deve ser lido como Biblia? Onde ha esse tal barulho?
  • Antonio A. S. Kawaria Eusébio A. P. Gwembe, quem havia de lê-lo como bíblia ou koran? Já és desses lá em Paris, Eusébio A. P. Gwembe?
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  • Eusébio A. P. Gwembe Por que motivo se está a discutir algo que não tem a ver com as ideias notexto, Antonio A. S. Kawaria e José de Matos? Estratégia para nos desviar do debate de ideias, não!
  • José de Matos Mas nao tentaste reasponder porque deve ser lido como Biblia e Koran e nao sei do tal barulho, Eusebio!
  • Manuel J. P. Sumbana Eusébio, o que se passa aqui?
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  • Antonio A. S. Kawaria Eusébio A. P. Gwembe, nós podemos discutir o texto de Elísio Macamo na sua presenca. Peco-te que o convides ao grupo.
  • Eusébio A. P. Gwembe Convidá-lo ao grupo quando ele saiu daqui e despediu-se? Antonio A. S. Kawaria!
  • Lindo A. Mondlane o problema esta qundo nao somos capazes de debater ideias, e recorreos aos insultos, por isso muitos desaparecem aconteceu o mesmo com o G. Muthisse, ou Elisio macamo... mas o texto vejo como muito valido
  • Antonio A. S. Kawaria Eusébio A. P. Gwembe, vá ao mural de Elísio Macamo e leia o que ele escreveu no texto com o título: O bazar vai fechar.
    Um outro aviso que não me lembro do título, Macamo disse que quem lhe adicionar a um grupo sem prévio consentimento dele, ele o bane da lista dos amigos. 
    Eu gosto de ler e arquivar na cabeça para saber de como me comportar das próximas.
    Se as pessoas fazem-se de desconhecer o que penso que sabem, começo a desconfiá-las.
  • Eusébio A. P. Gwembe E outra coisa, Antonio, desde quando que o debate de ideias é condicionado à presença do autor do texto? Eu já consigo ler as entrelinhas deste lero-lero, José de Matos. Nem quero falar do que oriinou esta indignaçao. Somos adultos para perceber o arrastar da entrevista de Chissano.....lol
  • Lindo A. Mondlane a qualidade dos debates, as vezes deixa muito q desejar, e devo reconhecer que este grupo melhorou bastanteneste aspecto..ja reina o civismo... ha uns meses atras era isto uma selva
  • José de Matos Lindo A. Mondlane, a tua historia sobre o Gabriel Muthisse nao esta bem contada! O Amosse Macamo aconselhou ( ordenou?) o Ministro a sair do Grupo!! Elisio Macamo nao me recordo de ter sido insultado!
  • Eusébio A. P. Gwembe Manuel J. P. Sumbana, ainda estamos a debater a forma e logo logo vaos ao conteúdo
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  • Antonio A. S. Kawaria Eusébio A. P. Gwembe, manda lixar tu. Estou a dizer que discuto com Macamo e seriamente já fazem anos. Eu nunca vi onde tu discuste com ele. Até porque se ele me banir vou responsabilizar a vocês, seus, espiões, intriguistas.
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  • Lindo A. Mondlane eu li insultos aqui ao G. Muthisse, ha uns que discutem incluso fortemente ideias, outros entram na falta de arguentos ao insulto..eu tambem teria feito o mesmo, o mesmo aconteceu com o amosse macamo... mas repito o grupo melhou e muito..
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  • Eusébio A. P. Gwembe kakakakakakakakaka cool, Antonio A. S. Kawaria! Espiões de macamo, de que maneira?
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  • José de Matos Lindo A. Mondlane, repito, a tua historia sobre Muthisse esta mal contada! Condenamos os insultos mas ha muitos que nao aguentam a critica!
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  • Lindo A. Mondlane yuuuu...que esta acontecer Antonio A. S. Kawaria?... estas a vulgarizar te pah..kakakakakak
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  • Antonio A. S. Kawaria Quem escreve as regras no mural de Macamo não sou eu. CUSTA PERCEBER ISSO?
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  • Lindo A. Mondlane vai descansar amigo..estas muito sensivel.. Antonio A. S. Kawaria
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  • José de Matos O Amosse Macamo, propagandista da Frelimo, nao aguentava as questoes e debates e ameaçou deixar o Grupo e influencias os camaradas para sairem, e aconteceu mersmo! 
    Lindo, porque nao contas essa parte?
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  • Germano Milagre Respondo aqui pois não consegui postar a resposta no mural do Lindo A. Mondlane
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  • Germano Milagre Lindo A. Mondlane li do principio ao fim com muita atenção. Bem escrito e bem estruturado. Mas sofre de um problema de base que desmorona parte do resto que o ilustre prof elaborou. Diz o ilustre Elisio Macamo que a única coisa que ( sem mencionar nomes ) a Renamo não pode sair fora é da Constituição. Ora isso é absolutamente verdade em qualquer democracia que seja de verdade uma democracia. Nesses estados em que nunca se justifica agir fora do âmbito constitucional, o estado nunca adultera a seu favor consistentemente o processo eleitoral. Nesses estados não se encontram pessoas a substituir editais eleitoraisLindo A. Mondlane li do principio ao fim com muita atenção. Bem escrito e bem estruturado. Mas sofre de um problema de base que desmorona parte do resto que o ilustre prof elaborou. Diz o ilustre Elisio Macamo que a única coisa que ( sem mencionar nomes ) a Renamo não pode sair fora é da Constituição. Ora isso é absolutamente verdade em qualquer democracia que seja de verdade uma democracia. Nesses estados em que nunca se justifica agir fora do âmbito constitucional, o estado nunca adultera a seu favor consistentemente o processo eleitoral. Nesses estados não se encontram pessoas a substituir editais eleitorais para alterar os resultados e ignora-se isso como se fosse SEMPRE um caso isolado embora ele se repita eleição após eleição. O estado não se confunde com o partido no poder nesses países onde a constituição não pode ser violada. Ou seja o funcionário público não serve o partido no poder, mas serve o estado ou seja todo o povo. Aqui temos incontáveis violações desta norma. Aonde a constituição nunca deve ser violada o partido no poder não usa as forças da lei e ordem como se de uma mílicia se tratasse. Enfim para não me alongar muito mais sublinho apenas o seguinte : há ocasiões em que se esgotam todas as possibilidades para um povo deixar de estar subjugado a um partido dentro da plataforma contitucional. Em casos extremis temos o fascismo português que teóricamente trabalhava debaixo de uma constituição, mas essa constituição esgotava todas as possibilidades de o povo conseguir uma mudança. Por isso foi preciso uma revolução e a construção de uma nova constituição. O governo do apartheid também trabalhava debaixo de uma constituição por mais injusta ou inéqua que ela fosse pois diferenciava á partida quem era cidadão pela côr da pele. Isto só para mostrar que as constituições nem sempre garantem o espaço para que a democracia funciona de forma real. Depois há a questão do Conselho Constitucional que deveria ser o garante do espírito e letra da constituição. Por inúmeros exemplos já vimos que em Moçambique os juizes do CC na sua maioria devem fidelidade maior ao partido no poder do que ao espírito e letra da Constituição.
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  • Eusébio A. P. Gwembe O que me espanta nesta atitude é o que tenho vindo a defender nesta reflexão sobre o “fenómeno da bicha”: que valor protegemos ou defendemos quando consideramos legítimo que um partido político use a violência contra os órgãos do Estado? Tenho em mim que estamos a defender a lei do mais forte e, pior ainda, privamo-nos da única âncora moral que nos pode proteger (agora e no futuro) contra a arbitrariedade de quem defende posições absolutas (e não só da parte da Renamo) ao mesmo tempo que nos permite conferir maior força moral à nossa indignação. A segunda coisa que me espanta é porque esses defensores têm dificuldades em separar duas coisas que me parecem distintas: a legitimidade duma reivindicação (que vem da constituição) e a forma como essa reivindicação é feita (invalidando a constituição). É que não importa como o governo trata a constituição. Ela, a constituição, é que pode estruturar a nossa indignação. Caso contrário, ela só vai valer enquanto ela estiver de acordo com as nossas posições ideológicas, o que é o mesmo que dizer que ela não tem nenhum valor normativo. Mas lá está o fenómeno da bicha: estamos todos tão convencidos das nossas posições que estamos preparados para dar a nossa vida por elas.

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