quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Só quem é cego não vê que se caminha para o abismo

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Altivez e arrogância são conselheiros péssimos

Depois de tentativas infrutíferas de realizar operações e assaltos a bases militares da Renamo, o Governo volta a reposicionar forças próximo dos locais em que recentemente houve hostilidades militares.
Mesmo os cegos conseguem cheirar que se aproximam dias difíceis em Moçambique.
No lugar de se reconhecer que a CNE/STAE realizaram um péssimo trabalho no que se refere às eleições de Outubro passado, vemos alguns segmentos do Governo optando abertamente pela via militar como forma de solução dos problemas que temos.
Também a postura e procedimento do Governo em fim de mandato não augura um futuro de estabilidade. Defendem uns que não pode haver vazio do poder, e outros dizem que nada pode parar, mas, a julgar pelo que está sendo feito em áreas de importância económica vital, parece que há uma tentativa aberta de garantir ganhos que a maioria desconhece. 
Temos problemas que ultrapassam o mero anúncio de resultados eleitorais. Temos problemas que não vão ser resolvidos pela deliberação do Conselho Constitucional. Temos um manifesto “deficit” de saídas sólidas, consentâneas e sustentáveis.

O fio do novelo está de tal forma amarrado que os protagonistas não conseguem desatá-lo.
Reconheçamos que os problemas não nasceram hoje e nem foi AEG que os trouxe. Toda uma atitude e comportamento se foram enraizando e limitando o espaço de diálogos francos entre compatriotas. Tem sido o desprezo da existência do outro que tem acelerado as desinteligências entre moçambicanos.
As crises e convulsões subsequentes não passam de um dos subprodutos de toda uma política de avestruz.
Ignorar que os outros existem e que possuem direitos tem sido a fórmula produtora de confusões, desentendimentos e crises.
Agora que o país está efectivamente parado, em suspenso e aguardando por veredictos que não produzirão paz e estabilidade, vemos alguns se comportando-se como “Adiantados de Galiza”.
Querem impor uma tese de “factos consumados” e nisso alinham algumas capitais estrangeiras, num jogo claramente cínico e que ignora os direitos políticos dos moçambicanos.
É sujo que algumas chancelarias corram a felicitar alguém que ainda não foi declarado vencedor e isso sobretudo numa situação nublada e com fortes suspeitas de irregularidades. Algumas das dificuldades só podem ser sanadas com a repetição do acto eleitoral, porque até a documentação comprovativa desapareceu.
Perguntam alguns “onde estão os editais?”, e quem de direito não oferece respostas convincentes. Afinal, porquê gastar rios de dinheiro com um aparato que não funciona e que, sempre que se pronuncia, fá-lo de maneira muito pouco séria? 
É preciso que haja clarividência que ultrapasse interesses materiais e de manutenção do” status”.
A barbárie, a selvajaria e a destruição de vidas e bens é um dos produtos de políticas obtusas.
Moçambique não precisa mais de “comissários políticos de pacotilha”. Moçambique requer todo o cuidado e liderança esclarecida que conduza os assuntos de Estado com a responsabilidade inerente.
Não se pode deixar o destino de todo um povo nas mãos de um grupo de incompetentes, que nem eleições justas, livres e transparentes sabe organizar e gerir.
Apanha-bolas e curiosos, pseudo-especialistas e profissionais de qualidade sofrível não podem colocar em risco todo um país e o seu povo.
Somos de opinião que todos refreiem os seus ânimos e coloquem os interesses superiores da nação na mesa, e que se entre num diálogo aberto, coerente e sobretudo com responsabilidade e consequências a favor de Moçambique e dos moçambicanos.
Contratos de gás ou carvão e seja do que for valem menos do que os moçambicanos. (Noé Nhantumbo)

CANALMOZ – 22.01.2015

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