quinta-feira, 19 de março de 2015

38 ANOS DA GERAÇÃO “8 de MARÇO”:

Sempre “prontos” ao chamamento da pátria
Quinta, 19 Março 2015

TRINTA e oito anos após a institucionalização da Geração 8 de Marco, os jovens de então continuam a responder ao chamamento da pátria, contribuindo com o seu saber e experiências acumulados no desenvolvimento do país.
Com efeito, foi a 8 de Março de 1977 que jovens idos de diferentes pontos do país internaram-se no Centro 8 de Março em Maputo para responderem ao desafio de assumirem o comando da reconstrução do país, após a fuga de vários cérebros portugueses, no seguimento da independência nacional. São alguns destes jovens que ainda hoje assumem vários cargos nas esferas política, económica, social, cultural, recreativa e desportiva, imbuídos pelo sentido patriótico e com o compromisso de conduzir Moçambique a bom porto, ou seja levar o país ao bem-estar.
Nas celebrações dos 38 anos do “8 de Março”, o Presidente da República, Filipe Nyusi, no quadro da sua abertura ao diálogo com todas as esferas da sociedade, auscultou os jovens de então sobre o que continuar a fazer para o desenvolvimento do país. Aliás, quis ouvir deles quais os factores que emperram esse mesmo desenvolvimento e que soluções estes possuem para os múltiplos problemas que se apresentam.
O grupo reconhece o esforço desenvolvido ao longo dos 38 anos visando a formação do homem e para a reconstrução do país, mas olha com tristeza o facto de o país ainda deparar-se com a problemática da má qualidade de ensino e a instabilidade política que de forma constante e cíclica atormenta os moçambicanos.
O presidente da Associação Geração 8 de Março, Flávio Menete, considera que estes “jovens”, hoje com idades compreendidas entre 45 e 65 anos, alguns dos quais já em processo de reforma, foram colocados como professores, médicos, enfermeiros, militares, nos diversos ramos das então Forcas Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) e outros como funcionários nos mais diversificados órgãos das Forças de Defesa e Segurança, na administração pública, nas empresas estatais, na justiça, entre outros lugares.
Disse que nestes lugares os jovens serviram Moçambique imbuídos de um forte sentimento patriótico, formando novas gerações.
“Muitos de nós, tal como acontece em qualquer processo, já não se encontram neste mundo, mas acreditamos que um dia a história lhes reconhecerá, pois muitos destes “jovens” foram autênticos heróis nas mais diversas frentes”, disse.
Flávio Menete explicou ainda que o Governo recorreu aos jovens para evitar o colapso do país, colocando-os em diferentes partes do território sem que a iniciativa fosse dos visados.
“Não é aquilo que eu quero, não é aquilo que tu queres, é aquilo que nós queremos, aquilo que o povo quer”, recorda Menete as palavras do falecido Presidente Samora Machel, na reunião que teve lugar no pavilhão do Maxaquene, em Maputo, no dia 8 de Março e que serviu fundamentalmente para convocar os jovens tendo em perspectiva os desafios do país que acabava de ascender à independência. Era então a célebre frase “A Pátria chama por nós”.
Segundo o presidente da organização, na altura o país era alvo de ataques militares perpetrados pelo então regime racista da África do Sul e pelo regime minoritário da Rodésia do Sul e, para fazer face à situação, era preciso mobilizar a juventude e integrá-la nos diferentes ramos do Exército: Força Aérea de Moçambique, Marinha de Guerra, Infantaria e noutros lugares estratégicos para a defesa da pátria então agredida a partir do exterior
Flávio Menete adianta que, reconhecida a incapacidade interna de garantir a formação de quadros para a demanda do país, foi aberta a cooperação com países amigos, sendo de destacar o apoio de Cuba, da extinta União Soviética, da Argentina, só para citar alguns exemplos, sendo que estes e outros países passaram a receber jovens moçambicanos para a formação profissional. Muitos deles formaram-se em Cuba.
O presidente da associação apelou a todos os integrantes desta geração a partilharem os seus conhecimentos e experiências adquiridos ao longo deste tempo, quase 40 anos, porque estes saberes só terão valor quando forem transmitidos às gerações vindouras, a quem cabe a tarefa de prosseguir com a luta pela consolidação da paz, da unidade nacional e do desenvolvimento.
“De nada vale dizer constantemente que nos meus tempos, nos meus tempos, quando daí em diante nos alheamos de tudo o que ocorre à nossa volta”, afirmou.
UM ESTADO FORTE
José Luís Caravela é outro integrante da Geração 8 de Março. Fez parte do grupo que em 1977 foi encaminhado para o Centro 8 de Março.
“O nosso grupo, o de professores, esteve concentrado no Centro 8 de Março, num regime que pretendia criar o homem novo. O nosso curso universitário foi escolhido na base das necessidades do país, muitas vezes, quando possível era compatibilizado com o desempenho estudantil”, disse, acrescentando que poucos naquela altura conseguiram mudar de cursos para outros das suas preferências.
Explica Caravela que aqueles “jovens” trabalharam em todas as áreas como técnicos de campo, chagando até a categorias de director de empresas estatais e de instituições públicas e privadas, e até responsáveis por áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento de Moçambique.
“Julgo que todos nós demos o máximo, contribuímos para elevar o país. Aprendemos lições, assistimos e participámos no grande investimento do Estado no sector público, agrário, no sector produtivo, nas empresas estatais nos anos de governação de Samora Machel Jr. Machel”, referiu.
Caravela disse que, devido à própria conjuntura, os jovens aprenderam a fazer fazendo, tendo no decurso do processo sido cometidos alguns erros.
“Reconhecemos que ao longo de mais de 30 anos como funcionários públicos vimos a queda do serviço administrativo. Vimos e pouco podemos fazer e quase que não podemos intervir na confusão que existe no Aparelho do Estado, sobretudo com o aumento do número de funcionários e a competência destes no trabalho”, lamentou.
Para o nosso interlocutor, a selecção de funcionários é muito importante para evitar que o Estado esteja cada vez mais cheio de pessoas incapazes e/ou inúteis, pois, a dado momento, os cofres do erário público são defraudados, situação que faz com que aqueles que têm alguma capacidade abandonem o aparelho do Estado em busca de melhores salários noutros quadrantes.
Assistimos também a desordem por falta de capacidade técnica no funcionalismo público.
“Não há desenvolvimento sem organização e sem ordem. Sabe-se quão importante é o diagnóstico para que o tratamento seja a solução do problema e neste aspecto do diagnóstico para todas as áreas é muito importante que façam o diagnóstico da situação com muita certeza e não apenas para agradar este ou aquele”, lamentou.
MELHORAR A LEGISLAÇÃO ELEITORAL
Iolanda Mussa também faz parte da Geração 8 de Março, e diferentemente dos outros que foram encaminhados para o professorado e outras áreas, ela e outros companheiros foram orientados para as tarefas do partido Frelimo.
“Em 1977 integrei um grupo de jovens que ia ser capacitado para trabalhar no aparelho do partido, concretamente na área de telecomunicações, organizações democráticas de massas e sector económico”, disse.
Iolanda Mussa falou da necessidade de se aperfeiçoar a legislação e os processos eleitorais, sugerindo que sejam aproveitadas as experiências de algumas pessoas da Associação 8 de Março nesta matéria. Para a nossa fonte a lei eleitoral tem algumas disparidades.
A outra questão por ela apontada tem a ver com o aprofundamento da democracia, o aperfeiçoamento das instituições públicas e a definição de políticas estratégicas para o desenvolvimento do país.
Por último, Iolanda Mussa, que é hoje apresentadora de televisão, pediu ao Presidente da República Filipe Jacinto Nyusi que criasse oportunidades de financiamento para projectos de integrantes da Geração 8 de Março.
Guimarães Lucas, que também esteve integrado nas tarefas do partidoFrelimo Sim, disse, por sua vez, que tem sidodifícil constituir-se uma CNE que seja efectivamente profissional, uma vez que interesses políticos tem estado a prevalecer mais do que os interesses nacionais
Disse que o importante neste momento é olhar-se para questões vitais naquele órgão e na gestão de processos eleitorais em particular, apontando por exemplo, a problemática da contagem dos votos.
O nosso interlocutor que dirigiu a área de administração e finanças em diferentes processos eleitorais, sugere a criação de um número de identificação único para todo moçambicano.
“Isto representaria um grande passo, não só da poupança do ponto de vista financeira, porque cada vez que há um processo eleitoral é preciso emitir novos cartões, uma vez que os mesmos nunca são credíveis no processo seguinte”, disse, acrescentando que se o país conseguir estabelecer um número do BI e simultaneamente ser o mesmo para cartão eleitoral, bancário e outras necessidades, o país sairá a ganhar.
Por outro lado, prossegue Guimarães, é importante que a actividade de educação cívica se transforme numa coisa institucional, não só para os processos eleitorais, mas para as diferentes áreas, sobretudo para a área da moralização e da educação para o desenvolvimento humano.
BAIXO NÍVEL DE EDUCAÇÃO
Paulo Alberto Mabote disse, por seu turno, estar preocupado com a baixa qualidade de educação aos vários níveis do ensino do nosso país. Professor, especializado na área de Matemática e física, Mabote disse ser do primeiro grupo de 8 de Março e fez parte do primeiro curso de professores em 1977 tendo seguidamente trabalhado na Escola Secundária Samora Machel, na cidade da Beira.
Mabote julga que apesar dos avanços alcançados ainda persistem problemas que afectam a qualidade da prestação dos serviços de educação. As escolas do país ainda sofrem a total falta de infra-estruturas, em vários lugares as crianças assistem aulas de baixo das árvores, situação que impõe dificuldades ao processo educativo.
“Apesar de as taxas de frequência estarem a melhorar, as taxas de desistência continuam elevadas, principalmente para a rapariga”, disse, salientando que existem alguns estudos que reportam o facto de muitos alunos chegarem à 5ª classe sem saberem ler nem escrever”, disse.
Joana Macie
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