sábado, 28 de março de 2015

Arábia Saudita: Razões para os ataques no Iémen.

IÉMEN



Posted on1 Day Ago by Raul M. Braga Pires


Há duas noites que se iniciou mais uma intervenção militar externa contra a minoria houthi, no Iémen. Digo mais uma, já que a História demonstra que já houve várias, sendo que uma delas foi liderada pelo então Piloto da Força Aérea Egípcia,Muhammed Hosni Said Mubarak, a partir de 1962, quando a recém-criada República Árabe do Iémen (do Norte) pedira ajuda ao Egipto de Gamal Abdel Nasser PARAeliminar as tribos que se mantinham fiéis à Monarquia de Muhammed al-Badr, 3º Rei do Iémen.

Curiosamente, à época, a tensão não era entre sunitas e xiitas, mas sim entre repúblicas e monarquias. De tal forma, que o Reino da Arábia Saudita lutava ao lado dos monárquicos xiitas houthis, que hoje bombardeia! A proxy war que durou entre 1962 e 1970, foi entre o Egipto aliado à URSS e a Arábia Saudita aliada à Grã-Bretanha.

Hoje a proxy war é entre os wahabitas sauditas e a Teocracia xiita iraniana. Passámos da Guerra Fria às Guerras Redentoras, com uma moral e uma narrativa justificativa que vão daqui ao algodão doce do Paraíso, ou ao pus que acama as chamas do Inferno, dependendo da perspectiva. O Islão é desta forma travado e combatido pelos próprios muçulmanos, o que do ponto de vista económico, logístico e humano, é já uma vitória para o Ocidente!

As razões PARA esta intervenção saudita, podem ser resumidas da seguinte forma:

1º Há um novo Rei na Arábia Saudita, Salman Bin Abdulaziz, que sente necessidade de se afirmar regional e internacionalmente. Ainda há dias me diziam que este monarca terá uma postura nova, assumindo muito mais o papel de moderador e não de interveniente. Bom, pode ser por se tratar do seu quintal e da quantidade de populações sauditas xiitas existentes na margem ocidental do Golfo Pérsico, na fronteira sudoeste com o Iémen, bem como no Bahrein, que Bin Abdulaziz não pode permitir um momento houthiinspirador para estes seus súbditos;

2º A rapidez com que esta Coligação que encabeça a “Operação Tempestade da Resolução” (Desert Storm e agora Storm of Resolve!!! How innocent is this???) foi formada, é bem demonstrativa da conjugação de interesses dos seus membros. A saber, os membros do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Qatar, Kuwait, Emiratos Árabes Unidos e Omã, embora este último não participe nesta “Tempestade”),têm todos consideráveis populações xiitas, situando-se geograficamente na margem ocidental do Golfo Pérsico e do Estreito de Ormuz, devendo assim manter governos sunitas, para compensar/equilibrar a maioria xiita iraniana da margem oriental.

O Paquistão, potência nuclear vizinha do Irão, aderiu à Coligação para marcar já uma posição perante a possibilidade de passar a ter fronteira com uma potência nuclear civil.

O Egipto, tem História com o Iémen, como já vimos, mas também não tem interesse nenhum em ver o acesso ao Mar Vermelho, que liga com o Canal do Suez e com o Mar Mediterrâneo, controlado por uma força “desconhecida” e imprevisível. É esta a importância da cidade de Áden, ao sul, a qual os houthis querem tomar e onde se encontra agora instalado o Governo e respectivo Estado-Maior legítimo do Iémen, liderado pelo Presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi. Quem controlar Áden, controla o Estreito de Bab-al-Mandeb e o acesso marítimo à Europa. Por isso mesmo a sua contribuição de guerra são 4 navios que patrulham o Mar Vermelho.

O Sudão de Mohamed al-Bashir, vai ter eleições presidenciais este ano e “amigou-se” de novo com o Egipto, já que este abdicou do direito de veto herdado do colonizador britânico, quanto às políticas transnacionais da água, a aplicar no percurso do rio Nilo, permitindo assim negociações PARA a construção de uma nova barragem, na Etiópia, na passada 2ª-feira 23 de Março.

Marrocos e a Jordânia não poderiam ficar de parte por serem também monarquias, mas porque parte significativa do desenvolvimento e estabilidade de que têm usufruído nos últimos anos, se tem devido à injecção de dinheiros vindo dos primos do Golfo. De notar que foram Estados que geriram muito bem a chamada “Primavera Árabe” do ponto de vista económico, político e social.

A Turquia, não faz parte da Coligação, mas já disse estar disponível, transportando-nos de novo no tempo e nas tensões/ambições/rivalidades Otomanas e Persas.

Quanto aos americanos, apoiam, fornecem informação, sobretudo ao nível de imagens satélite e disponibilizam, para já, a vontade de colaboração nos reabastecimentos logísticos à Coligação, tendo para tal a base aérea no Djibouti à disposição;

3º Não foi por acaso que este bombardeamento se iniciou precisamente no mesmo dia do reinício das negociações sobre o Nuclear Iraniano, em Lausanne, na Suíça. O objectivo dos sauditas, neste capítulo, é naturalmente marcar uma posição e condicionar o Irão, PARA além de distrair a opinião pública internacional com o habitual ruído e poeira provocado pelas bombas. Um Irão nuclear, fará destes o polícia da região, sobretudo agora que o Iraque já não existe como “sempre” o conhecemos;

4º Dito isto, a Arábia Saudita sabe que o Irão não retaliará, já que a sua prioridade é impor-se como potência regional e não perder-se numa disputa que apoia e pela qual tem simpatias, mas que não assegura a sua própria sobrevivência e, sobretudo a do regime teocrático dos Ayatollahs, ao passo que o nuclear é precisamente isso que lhes garante. O Irão, sem ser uma potência nuclear, fica “reduzida e condenada” a ser “apenas” uma gigantesca potência cultural. Quem nos dera, o grande dilema português ser este!

5º O momento de agir não poderia ser outro que não agora, sobretudo quando a Comunidade Internacional, Conselho de Segurança das Nações Unidas incluído, condena este avanço houthi, os identifica como a ameaça à paz e estabilidade nacional do Iémen, bem como regional e, declara o PR Hadi e respectivo Governo que lidera, como único e legitimo no país.

Consequências

Esta ofensiva é fundamental para a estabilidade interna dos agressores, sobretudo dos membros CCG, que assim asseguram que as respectivas populações xiitas nos seus territórios não “levantam cabelo” e continuam submissas às lideranças sunitas.

Por incrível que pareça, esta ofensiva é fundamental PARA a manutenção da integridade territorial do próprio Iémen, já que dilui neste conflito de polarização sunita/xiita, o momento que os independentistas sulistas do Harak Janouby, vinham ganhando nos últimos anos/meses, liderados por Ali Salim al-Beidh.

O preço do petróleo aumentou 6% desde que os ataques começaram, não se prevendo, para já, haver razões para que o Estreito de Bab-al-Mandeb, o qual permite o acesso ao Mar Vermelho, seja fechado, mesmo que se verifiquem abastecimentos de navios iranianos aos houthis, na faixa costeira iémenita que dominam, já em pleno Mar Vermelho.

Corre-se o risco, claro, de os houthis, que até aqui têm funcionado mais ou menos como um exército regular, optem por técnicas de guerrilha e mergulhem o país, de facto, numa guerra civil caótica, permitindo o surgimento de outros actores entretanto “adormecidos”, como são o caso da Al-Qaeda da Península Arábica (AQPA), “Estado Islâmico” (EI) e Harak Janouby.

Precisamente, o silêncio da AQPA significa que estão mais que provavelmente sob alçada do ex-PR Ali Abadallah Saleh e da Arabia Saudita, à espera do momento certo para entrarem em acção, ou continuarem na sombra. O silêncio do “EI” também significa que não têm, ainda, chão político no Iémen, apesar de terem reivindicado o duplo atentado em duas mesquitas da capital Sana’a, há precisamente uma semana. O que deverá existir no Iémen será um pequeno franchise do “EI”, mas que rapidamente poderá passar de uma tendência da moda, a um grupo organizado e com hierarquias e planos bem definidos.

A partir de amanhã, sábado, a Liga Árabe vai reunir-se no Cairo durante o fim-de-semana, devendo encontrar aqui uma rara oportunidade PARA o consenso, dentro uma vez mais da lógica sectária do sunismo, os puros, contra o xiismo, os heréticos, segundo a narrativa sunita, naturalmente e, chegar-se rapidamente a acordo quanto à constituição de uma força militar multinacional, para aquilo que deverá ficar definido como uma missão de intervenção terrestre e posterior Peacekeeping, sendo que para tal terá que haver Paz!

Os houthis poderão ficar a ganhar com um regresso à mesa das negociações, caso acedam a fazê-lo não tarde demais e numa posição de fragilidade, o que ainda não é o caso. Há uma semana, quase que estavam a chegar a um acordo, sendo que o mesmo não se definiu por detalhes quanto ao número e “cores” dos membros do Conselho Presidencial. Já demonstraram a força que têm e que todos têm que contar com eles para o futuro do país, já que não têm intenções de partir. Caso tenham manha suficiente, sem se armarem em “chicos-espertos” e acharem que têm um Direito Natural ao bolo todo, poderão conseguir uma fatia considerável e passar a ser uma força decisiva no futuro do Iémen.

A Força da Coligação

Arábia Saudita, 100 caças-bombardeiros e 150 mil tropas junto à fronteira sul com o Iémen;

Emiratos Árabes Unidos, 30 caças-bombardeiros;

Bahrein, 15 caças-bombardeiros;

Kuwait, 15 Caças-bombardeiros;

Qatar, 10 caças-bombardeiros;

Marrocos, 6 caças-bombardeiros;

Jordânia, 6 caças-bombardeiros e disponibilidade PARA enviar tropas, caso se opte por uma intervenção terrestre;

Sudão, 3 caças-bombardeiros e disponibilidade para enviar tropas, caso se opte por uma intervenção terrestre;

Egipto, 4 navios de guerra e disponibilidade para enviar tropas, caso se opte por uma intervenção terrestre;

Paquistão, disponibilidade para enviar caças-bombardeiros, navios de guerra e tropas, caso se opte por uma intervenção terrestre.



Raúl M. Braga Pires escreve de acordo com a antiga ortografia

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Fonte da Fotografia: http://uk.businessinsider.com/map-shows-the-dangerous-divisions-within-yemen-2015-3?r=US

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