segunda-feira, 9 de março de 2015

Mensagem do Conselho Permanente da CEM

Mensagem do Conselho Permanente da CEM, às Comunidades Cristãs e a todos os Moçambicanos de boa vontade, sobre os actuais desafios da
«unidade nacional».
Nós, os Bispos Católicos de Moçambique, reunidos em Conselho Permanente, de 24-26 de Fevereiro de 2015, no Centro Catequético de
Guiúa, em Inhambane, vos saudamos cordialmente, com grande estima e consideração, ao mesmo tempo que manifestamos a nossa solidariedade com todos os nossos irmãos que,
pelo país fora, sofrem grandes dificuldades, sejam elas provocadas pelas calamidades naturais ou por motivos de egoísmo humano.
O seu sofrimento é o nosso sofrimento e de cada um dos moçambicanos que se sentem irmanados pelos mesmos desejos de comunhão, de paz e de solidariedade, porque o imperativo da «unidade nacional» nos impele a sofrermos com quem sofre e a nos alegramos com quem se alegra, como é próprio duma família em que todos os seus membros comungam da sorte uns dos outros e juntos procuram superar as dificuldades e construir um futuro próspero e feliz.
É a partir da consciência desta busca comum do bem-estar e da felicidade, cimentada nos laços de unidade em que a nossa história comum e secular se foi tecendo, que queremos reafirmar o valor da «unidade nacional»,expressão à qual frequentemente se faz recurso nos meios de comunicação social e no diálogo político hodierno.
De facto, a verdadeira «unidade nacional» não pode estar ancorada nos meros limites geográficos do nosso país nem mesmo na letra morta das leis que regem o nosso estado, mas sim na comunhão real dos moçambicanos,
animados pelo mesmo espírito de fraternidade e de solidariedade, na construção duma nação feliz, saudável e próspera.
Nesse sentido, a consolidação da «unidade nacional», que constitui um bem inestimável para todos, uma riqueza à qual não podemos nunca renunciar, não pode jamais ser considerada um monopólio exclusivo de alguns grupos fechados
em si mesmos e obcecados pela ganância do poder político e económico.
Como todo o verdadeiro bem-comum, a nossa «unidade nacional», empenha todos os membros da sociedade moçambicana: ninguém está escusado de colaborar, de acordo com as próprias possibilidades, na sua busca e no seu desenvolvimento, pois ela exige ser servida plenamente, não segundo visões redutivas, subordinadas às vantagens de parte, mas com base em uma lógica que tende à mais ampla responsabilização de todos.
De facto, ela é um bem árduo de alcançar e, por isso mesmo, exige uma capacidade de total renúncia dos interesses meramente egoístas e a busca constante do bem-estar do outro como se fosse próprio.
A «unidade nacional», portanto, constrói-se todos os dias, com a participação de todos os moçambicanos: homens e mulheres, crianças e velhos, jovens e adultos, sem exclusão de ninguém.
Nos dias que correm porém, por causa da partidarização de grande parte das instituições do estado moçambicano, o número dos excluídos na tomada de decisões importantes sobre o nosso país e seus cidadãos cresce vertiginosamente e o governo do dia revela-se cada vez menos capaz
de executar alguns dos objectivos fundamentais daquela agenda que o Estado Moçambicano tem bem plasmados no número 11 da sua
Constituição: a edificação de uma sociedade de justiça social e a criação do bem-estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos; a
promoção do desenvolvimento equilibrado, económico, social e regional do país; a defesa e a promoção dos direitos humanos e da igualdade dos cidadãos perante a lei; o reforço da democracia, da liberdade, da estabilidade social e da harmonia social e individual; a promoção de uma sociedade de pluralismo, tolerância e cultura de paz; o desenvolvimento da economia e o progresso da ciência e da técnica; a afirmação da identidade moçambicana, das suas tradições e demais valores sócio- culturais; razão pela qual a «unidade nacional» está cada vez mais ameaçada por interesses meramente partidários ou de algum grupo de pessoas singulares.
Não faltam exemplos concretos do que acabamos de dizer e estão bem patentes aos olhos de quem quer ver a verdadeira realidade do povo moçambicano.
De facto, a injustiça gritante da pobreza esmagadora da maioria, enquanto alguns enriquecem desonestamente e vivem no fausto; a
ausência de transparência na exploração dos recursos naturais e o total desrespeito do meio ambiente; a extorsão de terras aos camponeses nacionais para a implantação de megaprojetos que só favorecem as multinacionais estrangeiras
e uma minoria insignificante de cidadãos moçambicanos; a ambição desmedida de funcionários públicos que fazem da corrupção, da pilhagem e do branqueamento de capitais o seu modus vivendi, para o próprio enriquecimento; o recurso à força, arrogância e intolerância para impor as próprias ideias e opiniões; os pleitos eleitorais feridos frequentemente de
irregularidades, reduzindo assim a sua
atendibilidade e anulando a participação do povo na escolha dos governantes do país; a exclusão social económica e política de tantos moçambicanos; tudo isso torna a nossa «unidade nacional» cada vez mais tremida e nos impede de ser uma verdadeira família, onde cada membro se ocupa pelo bem-estar do outro.
A «unidade nacional», portanto, não pode reduzir-se a uma expressão retórica ou, pior ainda, ser utilizada para excluir milhões de cidadãos moçambicanos, condenados a viver como apátridas no seu próprio país. Para consolidar a verdadeira «unidade nacional», é urgente que todos nos empenhemos na construção dum país
próspero e saudável: através da inclusão sociocultural, com políticas de acesso à educação séria e de qualidade, que permitam a todos os cidadãos de se transformarem em agentes do seu próprio desenvolvimento e do país; através duma política de difusão dos serviços gerais de saúde
para todos, respeitando a vida e a dignidade de cada cidadão moçambicano; através da garantia da liberdade de expressão, como pressuposto indispensável para um diálogo sincero e verdadeiro, onde cada um se sinta livre de
expressar as próprias opiniões, sem temer pela sua incolumidade física; através da inclusão económica, favorecendo a participação de todos,
particularmente dos jovens e dos camponeses, na construção da riqueza do país, velando para que o nosso crescimento económico seja realmente sustentável e não à custa do sacrifício das gerações vindouras; através da inclusão política, onde todas as forças vivas da comunidade nacional: partidos políticos, sociedade civil, organizações não-governamentais e associações privadas, tenham espaço suficiente para o diálogo, em vista da construção dum estado verdadeiramente democrático.
De facto, se a inclusão sociocultural, económica e política são os pilares da «unidade nacional», o caminho mestre para a sua consolidação é o da
procura sincera do diálogo e da participação de todos os moçambicanos na vida do país: através da escuta sincera e respeitosa das propostas e opiniões de todos; da real adequação dos processos de governação à situação concreta do país, procurando sempre actuar aqueles modelos de governação que mais respondam aos interesses de todos os cidadãos, mormente os
mais desfavorecidos; através da implementação de políticas concretas de inclusão e de participação de todos na vida da nação, renunciando à opinião errada de que a maioria
pode fazer tudo sozinha, ignorando sistematicamente a opinião válida e qualificada dos grupos minoritários.
Para terminar, saudamos e encorajamos as várias iniciativas, de pessoas singulares ou de grupos,
que visam a construção duma verdadeira «unidade nacional», marcada por um clima de comunhão, de justiça, de solidariedade, de
fraternidade, de paz e de reconciliação. Do bem-estar de todos os moçambicanos depende o bem-estar de cada um de nós.
Deus abençoe o nosso país!
Inhambane, 26 de Fevereiro de 2015.
Pelo Conselho Permanente da Conferência Episcopal de Moçambique, Dom Lúcio Andrice MUANDULA
Bispo da Diocese de Xai-Xai e
Presidente da CEM

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