terça-feira, 17 de março de 2015

PROVAR DO PRÓPRIO VENENO

Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada".

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MAR 15

octavio ribeiro - correio da manha.jpgOntem foi assunto do dia, de todo o dia, as reacções do advogado de José Sócrates, João Araújo, em relação à imprensa, nomeadamente à forma como tratou a jornalista do Correio da Manhã e CMTV, Tânia Laranjo, no seguimento da decisão do Supremo Tribunal de Justiça em rejeitar o quinto pedido de Habeas Corpus para o ex Primeiro-ministro José Sócrates.
Primeira nota. É inadmissível e inqualificável os termos e a forma com que o advogado João Araújo se dirigiu à jornalista Tânia Laranjo que apenas se encontrava no exercício das suas funções profissionais. É conhecida a relação tempestuosa de João Araújo com o Correio da Manhã e a CMTV, baseada na conflitualidade há muito existente entre José Sócrates e aquele órgão de comunicação social. Independentemente do lado no qual esteja a razão, nada justifica o comportamento do advogado. Nada justifica e não pode deixar de ser criticado, goste-se ou não do CM e da CMTV… e eu, já por mais do que uma vez tornado público, não gosto. Mas, tal como nos acontecimentos em França, continuo “Charlie”.
Apesar da conflitualidade das relações advogado/imprensa desde a primeira hora do processo, nada justificando os acontecimentos de ontem, a verdade é que a própria imprensa alimentou esta relação e deu palco a estes acontecimentos, mais por interesse próprio (da imprensa) do que jornalístico (público).
Segunda nota. É muito interessante e curioso verificar as reacções do universo da advocacia nacional. Uns mantêm-se indiferentes, outros assobiam para o lado, e há quem, publicamente, se insurja e se indigne com tais comportamentos por parte do colega de profissão João Araújo. E a pergunta impõe-se: destes, quantos tomaram alguma posição junto da Ordem? Quantos afrontaram o sistema que alimentam e criaram? Quantos confrontam o corporativismo que reina?
Terceira e última nota. É perfeitamente legítima a posição da jornalista Tânia Laranjo em defender as suas competências, a sua dignidade profissional e pessoal. Qualquer um se sentiria ofendido e impulsionado a reagir judicialmente face à gravidade dos acontecimentos. O que aconteceu, independentemente das razões subjacentes, foi muito mau. Péssimo. Quanto a isto não há muito mais a dizer.
Mas o que “espanta” é a reacção pronta do director do CM, Octávio Ribeiro, saltando logo para a ribalta e para a praça pública em defesa da sua jornalista e contra o advogado. Considerando uma situação (realidade) normal isto seria algo expectável em qualquer órgão de comunicação social. Só que há muitas diferenças de realidades. Primeiro, um outro qualquer órgão de comunicação social teria optado por muito mais recato, não preenchendo e enchendo linhas e linhas de texto e minutos e minutos de imagens em defesa de causa própria. Segundo, finalmente, tendo em conta as reacções de Octávio Ribeiro (não confundir com a posição da jornalista Tânia Laranjo), parece que o Correio da Manhã provou do próprio veneno. É que a moralidade não é bonita apenas nos outros ou dos outros para connosco. E, finalmente, o CM descobriu o papel dos tribunais, da ofensa à dignidade e à honra, à privacidade, da preservação da inocência, da verdade e da veracidade dos factos. Finalmente…

2 COMENTÁRIOS:
caríssimo, escrevo-te este comentário do Brasil e aproveito para te enviar um abraço e desejos de que voltemos a Coimbra para um "putifério".
Queria apenas partilhar duas breves notas:
1. é verdade que os termos escolhidos são de mau gosto, no entanto acredito que não foram mais que metáforas (mais uma vez de mau gosto) tomando a jornalista como representante de todo o grupo CM e CMTV.
2. vi umas imagens do advogado a falar à imprensa em que a jornalista assumia uma postura que, tenho que admitir, era totalmente ridícula. Se o propósito dela, enquanto jornalista, era recolher as declarações do advogado, aproveitando que ele tinha optado por ignorar o microfone da CMTV e ia falar, ela poderia aproveitar para recolher as declarações, o que muitas vezes o advogado recusa fazer de forma rude. Ao invés disso, a jornalista assumiu uma postura hostil de repetir vezes sem conta a mesma questão se o problema dele era com o grupo cofina, com o CM e a CMTV, falando em termos dignos de escola primária usando expressões "se tem coragem diga". Foi patético.

Infelizmente não reconheço qualidade ao CM, infelizmente também, acredito que um bom jornalista num mau jornal ou tv acaba por ser um mau jornalista. Mas isso não é motivo para ser rude, mal educado ou grosseiro.
FILIPE SOUSA A 17 DE MARÇO DE 2015 ÀS 18:55

Concordo sobretudo com o seu último parágrafo. Quanto ao resto, duvido que dizer a alguém para tomar banho, por mais desagradável que seja, configure injúria. É chato, mas ainda não é crime dizer ao outro que cheira mal. Já desrespeitar sistematicamente o segredo de justiça, mais a generalidade das alíneas da deontologia do jornalismo, isso sim, parece-me no mínimo contra-ordenatório.

Aproveito para impingir a minha posta:
http://a-desproposito.blogs.sapo.pt/respeita-me-que-eu-deixo-23612
DUARTE BALTAZAR A 17 DE MARÇO DE 2015 ÀS 12:48

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