sexta-feira, 13 de março de 2015

Uma virtuosa excepção portuguesa

OPINIÃO


O Syriza conseguiu, mal ou bem, chegar ao governo e anda hoje a passear pelomundo a sua irresponsabilidade, PARA grande deleite da Alemanha e dePassos Coelho. Em Espanha, o maior “partido” é agora o Podemos de Pablo Iglésias; e os Ciudadanos estão muito perto do PP de Rajoy.
Parece que estes movimentos populistas, sem passado e sem um verdadeiro programa, anunciam uma nova era política na Europa. Tanto mais que, para alguns diletantes, eles fazem parte de um grupo de que também fazem parte a Frente Nacional de Marine Le Pen e o UKIP de Nigel Farage. Mas talvez não seja mau perceber que a Frente Nacional vem de uma velha tradição da direita francesa, provinciana, xenófoba e racista, e que na essência o UKIP se inspira no “esplêndido isolamento” da Inglaterra, que durou de facto até ao segundo pós-guerra.
Mais curioso é que não tenha aparecido em Portugal, como na Grécia ou emEspanha, nem uma federação da extrema-esquerda como o Syriza, nem um ajuntamento fortuito de inimigos da partidocracia e da austeridade. O Bloco de Esquerda, já em si uma combinação de heresias do comunismo de Estaline e de Cunhal, não cresceu com a crise e, pelo contrário, acabou por se dividir e redividir, logo que os seus três fundadores, por uma razão ou por outra, desapareceram de cena. Pior ainda, da poeira dos dissidentes só saíram pequenos grupos quase domésticos, sem consistência e estabilidade, que se unem ou separam perante a indiferença do país, por pura fidelidade de seita ou por interesse pessoal de meia dúzia de indivíduos supostamente “representativos”.
Porquê? Principalmente, por várias razões. Em primeiro lugar, porque não há nada de original na linguagem e na acção (se as bizantinas manobras em que se ocupam merecem o nome) dos novos salvadores da Pátria e presuntivos guias do povo. Toda a gente suspeita – e muito bem – que aspiram no fundo a parasitar o PS em troco de quatro ou cinco votos na Assembleia da República. Não romperam com nada, querem uma Secretaria de Estado e o sublime prazer de uma vez na vida serem tratados por “Excelência”. Em segundo lugar, existe o Partido Comunista; e o Partido Comunista, embora arcaico e absurdo, continua a merecer a confiança de fracção importante da pequena burguesia e dos trabalhadores mais pobres. Qualquer aventura como o Syriza ou o Podemos ou mesmo como o “Livre” (e limitada companhia) encontrará sempre essa barreira histórica. Desse desastre estamos nós livres.

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