quinta-feira, 14 de maio de 2015

A RÁDIO ÁFRICA LIVRE


Em meados de Fevereiro de 1976 uma voz estranha passou a ser escutada nos receptores radiofónicos moçambicanos. A princípio ninguém sabia em quan­tos metros, ninguém fixara em que onda.
Era captada casualmente e a horas diferentes do dia. Falava de Moçambique, contava verdades sobre a política machelista, abria finalmente os olhos ao povo para a desgraça do seu viver.
Quanto ali era afirmado circulava imediatamente de boca em boca, pas­sando a haver uma autêntica corrida aos receptores nos lares de negros e de brancos, todos desejando ouvir as mensagens, os noticiários, os comentários da emissora.
Os que não conseguiam sintonizar o estranho emissor afirmavam, discutiam convincentemente, que quanto se dizia na rua, nos cafés, não passava de um boato.
A emissão era curta. Umas quantas afirmações, uma canção e o silêncio. A canção era «Moçambique», na voz de João Maria Tudela. Pouco a pouco, porém, o povo aprendeu a localizar as emissões, e, a partir de então, a Rádio África Livre passou a ter como ouvinte todo o povo moçambicano, tornando-se fixo o seu horário entre as 20 e as 21 horas.
As cidades esvaziavam-se do seu movimento habitual e os cafés transforma­vam-se em lugares frios, enquanto os lares se enchiam de homens, mulheres e crianças, negros, brancos, mestiços, de ouvidos atentos a tudo quanto o locutor afirmava em português e em dialectos locais.
A popularidade do programa cresceu, podendo afirmar-se que, em poucos meses, a Rádio África Livre passou a ser a verdade e única voz nacional de Moçambique.
Foi essa popularidade que mais uma vez obrigou à mudança do horário de emissão, e, a partir do princípio de Agosto, do mesmo ano, a Rádio África Livre passou a ser sintonizada nos receptores a partir das 19 horas, conservando os mesmos 60 minutos de missão. O motivo da alteração estava patente: Enquanto o programa funcionou entre as 20 e as 21 horas os cinemas, os campos despor­tivos, não faziam receita. O povo trocava de bom grado a hora informativa dá Rádio África Livre por quaisquer espécies de diversão, sedento de ouvir a ver­dade, tão afastada ela andava da vida moçambicana após a Independência.
Chocavam-se opiniões sobre a identidade dos organizadores do programa, que, a breve trecho, passou a saber-se não estar ligado a nenhum dos movimentos polí­ticos então conhecidos, contrários ao socialismo despótico de Samora Machel.
O que ninguém afirmava, nem supunha, nem opinava, era o que na reali­dade acontecia: A Rádio África Livre era uma iniciativa de dissidentes da Frelimo — guerrilheiros, comandantes e até antigos membros influentes do Partido — à qual aderiram alguns redactores moçambicanos exilados na Rodésia e a maioria do povo moçambicano.
O indicativo do programa popularizou-se, e, insensivelmente, o povo trau­teava-o na rua, esquecido de que esse procedimento era uma auto-denúncia de resistência à Frelimo. O Partido, por seu lado, tudo fazia para silenciar o pro­grama, criando interferências no comprimento de onda em que ele era radio-difundido. E Samora Machel, vítima principal das denúncias radiofónicas, encole­rizou-se, procedendo por forma a que deixassem de aparecer no mercado pilhas para os aparelhos receptores, quando, pouco tempo antes, o Departamento de Informação e Propaganda da Frelimo havia preconizado, no seu Seminário, o abai­xamento do preço na venda de receptores e a produção acelerada de pilhas — pedido que a «Tudor» local satisfez — para que o povo, analfabeto na sua maioria, tivesse acesso aos noticiários moçambicanos e aos programas do Partido. Mas isso fora resolvido, como é óbvio, antes do aparecimento da Rádio África Livre.
Em todos os estabelecimentos de artigos eléctricos passou a ser afixado, no por­tal ou nas montras, um dístico, primeiro grotescamente escrito e depois impresso pela própria Frelimo, com os seguintes dizeres: Não há pilhas, tal a procura que repentinamente avassalou o país e a vontade oficial de que o povo não tivesse acesso às verdades da Rádio

In derrogada do Machelismo
  • 13 pessoas gostam disto.
  • Jorge Antonio Calane Kito Hewena, hehehehe, una shi toriya wena pah. Dza vuya.
  • Willy Benny A Frelimo e...
  • Lucia Ngovene Hmmmmm Obrigada pelos ensinamentos...
  • Salomao Xerinda Gostei da história. Havera o parte-II??!! Um abraço digital.
  • Laguna de Jesus Vladimir Cistac Guepatos, like. Um dia desses ainda nos revelas a Biblia de Lúcifer. Bem que eu ia gostar de ouvir suas versões sobre tantas acusações. Quanto a FREL, parece que continua um bebé sem educação.
    1 h · 1
  • Gonsalves Faustino Gonsalves Gonsalves Na altura muitis foram executados e maltratados ,era triste se eu imaginar e agora que confia tanto de frelixo ate abano a cabeça que os gaju sao atrapalhados e nao sabem de nada

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