domingo, 10 de maio de 2015

Ao menos, os dedos!


10.05.2015
AFONSO CAMÕES
Termina hoje uma das mais longas greves de sempre da transportadora aérea nacional. O saldo é de tripla derrota: a do sindicato dos pilotos, que perdeu o respeito da opinião pública; a do Governo, que definitivamente não consegue levar avante a intenção de privatizar a TAP; e a de todos nós, porque a companhia ainda é de capitais públicos e cada dia de paralisação representou milhões de prejuízo.
Penoso calvário, este, o de uma empresa que se transformou numa espécie de offshore dentro do próprio Estado, incapaz de assumir os seus destinos e agora impedido, pelas regras comunitárias, de injetar na TAP o financiamento necessário para que a transportadora não entre em rutura de tesouraria.
A intenção de privatizar estava no programa deste Governo, logo foi legitimada pelo voto. Acontece que estamos já em plena pré-campanha eleitoral e a capacidade deste Executivo para concretizar compromissos está em final de prazo.
De permeio, as opiniões coincidem em considerar que o assunto é de interesse nacional, ainda que sobre a definição desse interesse todos pareçam discordar.
Não cabe, neste espaço, a discussão ideológica sobre as virtudes ou defeitos de privatizar a TAP. Mas indo-se os anéis, defendamos ao menos os dedos, pelo que não deixaremos de invocar as questões estratégicas que é necessário salvaguardar, seja qual for o destino próximo da empresa.
É preciso defender a todo o custo o hub português. Ou seja, que Lisboa e Porto continuam a ser placa giratória de voos com ligações diretas, sublinho diretas, aos destinos da nossa vocação tradicional - na Europa, em África ou nas Américas, sobretudo no Brasil. E, claro, sem nunca perder de vista as ligações de serviço público às regiões autónomas e às principais comunidades portuguesas na diáspora.
Olhando de relance a história das sucessivas tentativas de privatização, há um mistério que prevalece: estando África e as Américas entre as rotas de maior interesse nacional, para lá das europeias, por que razão não foram, até hoje, tentadas soluções empresariais alternativas que contemplassem, por exemplo, capitais (ou companhias aéreas) angolanos, brasileiros e até chineses? Um tal consórcio seria a garantia de disputar a liderança do mercado de transporte aéreo no Atlântico Sul, e ofereceria à China a plataforma europeia que há muito deseja.
DIRETOR

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