domingo, 10 de maio de 2015

Caro António Costa,

ANTÓNIO-PEDRO VASCONCELOS, CINEASTA


Muitos dos prejuízos causados à TAP se devem ao facto de a equipa de Fernando Pinto ter comprado uma empresa de manutenção no Brasil (a VEM), que se traduziu num prejuízo de cerca de 500 milhões de euros, e que anualmente retirou aos cofres da TAP cerca de 30 milhões.
O artigo que escreveu no Económico de 26 de Março, e que me é dirigido, e a entrevista que fez, entretanto, a Fernando Pinto, revelam a que ponto pode chegar o preconceito ideológico que tomou conta de alguns comentadores. Se os efeitos devastadores das políticas de Passos Coelho e as falências do BES, da PT e dos reguladores não fossem suficientes para o pôr em alerta contra as virtudes intocáveis da iniciativa e da gestão privadas, e a redução do papel do Estado a vigilante do bom funcionamento do mercado, um módico de ponderação deviam levá-lo a duvidar das suas certezas.
Vou ajudá-lo:
1. Se os 45 milhões de euros de prejuízo da TAP em 2014 são, para si, razão suficiente para o Governo vender, a correr, a TAP, como explica que, em 2012, ano em que deu lucro - como, de resto, aconteceu nos últimos oito anos -, o mesmo Governo a tenha posto à venda?

2. Por que razão, as greves, que considera altamente responsáveis pelos prejuízos da TAP em 2014, não afectam a Lufthansa, uma companhia que é dada como exemplo de boa gestão privada? E se a TAP viesse a ser privatizada as greves acabavam por decreto?

3. Se, como reconhece, a gestão da TAP "fez, durante anos, omeletes sem ovos, ganhou rotas, conquistou passageiros e uma posição invejável no Brasil e em África", por que razão deve ser agora, de repente, posta em causa?

4. Por que razão não foi exigida uma multa por compensação à Airbus pela não entrega atempada dos aviões, que tantos prejuízos causou à TAP, e que evitaria alguns dos problemas do Verão de 2014 e asseguraria um lucro no mínimo idêntico ao de anos anteriores?

5. Sabia que muitos dos prejuízos causados à TAP se devem ao facto de a equipa de Fernando Pinto ter comprado uma empresa de manutenção no Brasil (a VEM), que se traduziu num prejuízo de cerca de 500 milhões de euros, e que anualmente retirou aos cofres da TAP cerca de 30 milhões?

6. Sabia que, se o Governo Venezuelano pagasse a dívida de 120 milhões de euros, essa verba, por si só, colocaria a TAP com lucros em 2014?

7. Por que razão o Governo ainda não explicou como irá proteger o Hub de Lisboa, que não está claramente vertido no Caderno de Encargos, nem como vai obrigar uma Companhia Aérea estrangeira a contratar pessoal português ou que saiba falar português para garantir a marca e a ligação ao mundo da língua portuguesa?

8. Por último: se a TAP não dá lucro como é possível haver interessados em mantê-la portuguesa e nos moldes em que actualmente existe?

Termino devolvendo a palavra ao seu entrevistado que, apesar dos esforços que faz ultimamente para satisfazer a vontade da tutela, deixa escapar duas frases eloquentes, que não resisto a citar:

"A TAP hoje é uma das maiores empregadoras, uma das maiores exportadoras - 77% das nossas vendas são para fora de Portugal. É uma empresa que traz turistas para Portugal do mundo todo, com a ajuda da Star Aliance. Nenhuma empresa na Europa tem a relevância para o país que tem a TAP.

A verdade é que a TAP é um excelente cliente, nunca atrasou um pagamento dos compromissos financeiros que tem."
Espero tê-lo esclarecido.

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