sexta-feira, 22 de maio de 2015

Carteiras para as escolas moçambicanas



Aqui reflicto sobre o plano de «aquisição» de carteiras escolares pelo Governo de Moçambique.

Presumivelmente, todos nós sabemos o que é uma carteira escolar. Será? Bom, uma carteira escolar é um «móvel comummente encontrado nas escolas, desenhado para propiciar aos alunos a acomodação adequada para assistir às aulas». Tradicionalmente, a carteira escolar consiste de uma cadeira e uma mesa de superfície plana (fisicamente separados e ligados), que permite que o aluno escreva de modo livre sobre ela, contando ainda com espaço para guardar livros, cadernos e afins. As carteiras escolares mais comuns entre nós são produzidas a partir da madeira. Mas também se empregam outros materiais no fabrico de carteiras, entre os quais o plástico. Modernamente, até já se produzem carteiras escolares informatizadas, nas quais à funcionalidade da carteira escolar convencional se adiciona o computador com todos os periféricos indispensáveis (e.g. teclado, monitor) acoplados, de modo a permitir que o professor possa optar por aulas convencionais ou agregar conteúdos informáticos para os alunos.
Ora, nas suas primeiras aparições públicas, depois da investidura, o Presidente da República (PR), Filipe Nyusi, visitou escolas primárias, onde observou 'in loco' as condições degradantes em que as nossas crianças estudam e os nossos professores ensinam. Se é que só ouviam dizer, o PR e o titular do novo Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano—que acompanhava o PR naquelas visitas, com só tinha a ser—verificaram que as condições em que se ensina e aprende nas nossas escolas são deveras degradantes, em algumas situações, que era necessária uma intervenção "urgente". Aquelas visitas ocorreram numa altura em que o Plano Quinquenal do Governo (PQG) 2015 – 2019, Plano Económico e Social (PES) e o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2015, instrumentos que o Governo precisava para começar a trabalhar, ainda não tinham sido aprovados pela Assembleia da República (AR), como assim dita a lei.
Gostei de ver o PR e o Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano a fazerem aquelas visitas, mas confesso que fiquei com uma pulga atrás da orelha. É que não constitui novidade para ninguém que temos, neste país, crianças que estudam sentadas no chão e debaixo de árvores, por falta de carteiras e de salas de aula (...).
Ora, ocorreu que de repente foram conseguidos por ai 350 milhões de meticais (o equivalente a 10 milhões de dólares americanos, aproximadamente) para a «aquisição» de carteiras escolares. Aonde? Na China! Tudo na China! Os contornos das negociações para atender esta "emergência" identificada nas visitas do PR e do Ministro da Educação e Desenvolvimento Humano às escolas não estão claros. Mas não é isso que me indigna. Talvez o Marcelo Mosse se interesse por esta parte da estória, por ser da sua especialidade. O que me indigna é o facto de essas negociações terem sido para "negociar" a «aquisição» de carteiras escolares na China, China que é o país de origem das empresas envolvidas no negócio de exportação de madeira em toros de Moçambique para aquele país. Há tudo para se suspeitar que tais negociações foram uma negociata. E negociatas é o tipo de práticas que indiquei na minha reflexão sobre "Políticos empresários moçambicanos e clientelismo..." como uma das causas que asfixiam a democracia e atrasam o desenvolvimento de Moçambique (vede ligação fornecida abaixo).
Ah! Confesso que esta me dói muito. E me dói muito, porque suspeito que as carteiras escolares adquiridas na China tenham sido fabricadas a partir da madeira extraída de Moçambique. Não sei se não estará envolvido nesta negociata um dos PEM ( = políticos empresários moçambicanos). Estas negociatas são deveras perniciosas para o desenvolvimento de Moçambique, por facilitar o saque dos nossos recursos naturais, que depois de transformados em objectos de utilidade noutras paragens, para onde exportamos a madeira em toros, nós importamos os produtos acabados a preços muito mais altos do que os preços com que vendemos as matérias-primas usadas na produção desses objectos.
Enfim, eu pergunto: por que foi preciso tratar o assunto das carteiras escolares como um caso de urgência clínica? Alguém pode dar uma resposta? É que, pensando bem, o valor usado para a aquisição de carteiras escolares no mercado externo poderia muito bem ter sido usado para, por exemplo, montar uma fábrica de produção de mobiliário escolar aqui no país—de onde, afinal, a China importa madeira em toros para a produção de objectos que nós de lá importamos. Isto põe-me deveras triste!
Eis algumas ligações ligadas com esta reflexão:
  • 4 pessoas gostam disto.
  • Tsemba Zula Como se o país nao dispusesse de carpinteiros em excesso. Só na minha zona, fazem uma tropa.
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  • Gimésio Teodoro Cândido Sr. Cumbane ultimamente Parece estar desnorteado! Parece-me que esta mais contra a pessoa do Filipe Nyusi e do seu Governo do que para o desenvolvimento do País. O senhor tornou-se um apostolo da desgraça"critica tudo, por tudo e por nada"
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  • Lenine Daniel Este assunto foi tão mediatizado com o intuito de gerar urgência e...com isso haver ganhos para uns e outros...enfim , triste situação a deste País. E eu que pensava que o País possuia muita mão de obra desempregada e que com esta necessidade corrente o nosso governo poderia ajudar sem custos elevados a apetrechar as nossas escolas.
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  • Lenine Daniel Sr. Gimésio Teodoro Cândido qual é a sua opinião sobre o texto do Julião Júlio Cumbane?
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  • Julião João Cumbane Gimésio Teodoro Cândido, venha a este 'mural' debater ideias ou então apenas observa, se não tiveres nada a dizer. Calar e observar é muito melhor do que te expressares a dizer nada. Fui ao teu 'mural' e encontrei a expressão de algo que pretendes ser aqui, com aquele teu comentário aqui, lá acima, nesta postagem. Eis a tua «autodepreciação» no 'poster' que se segue.
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  • Azarias Felisberto Governo de bombeiros atrapalhados , nao ha estudo de viabilidade , a precipitaçâo tem haver com comissoes.
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  • Jeronomo Gungulo Li na íntegra o texto. Talvez comprar carteiras na China, seja barrato que produzir em Moçambique. Oxalá que venham carteiras que os Moçambicanos possam sentar a vontade, atendendo e considerando que os Moçambicanos são mais avantajados em relação aos chineses.
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  • Julião João Cumbane O teu comentário, se for ironia, é desconstrutivo,Jeronomo Gungulo! Não sendo ironia, então vamos comprar carteiras na China, porque é mais barato assim do que as fabricar em Moçambique! É isso? A madeira tirada de Moçambique faz carterias mais baratas na China do que em Moçambique?! ... Com que então os moçambicanos «são mais avantajados em relação aos chineses»?! Esta me tinha escapado!
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  • Eu também acho acho que seria mais benéfico para o pais se as carteiras fossem feitas por nós porque iria se aproveitar a nossa mão obra que é abundante e ajudaria na criação de mais postos de trabalho. Primeiro a madeira é exportada de uma forma pouco transparente e em seguida vamos ao mesmo pais comprar carteiras feitas da mesma. Esta situação assemelha se a muitos casos em que ladrões roubam farois de carros e em seguida o dono vai ao estrela comprar exactamente os mesmos roubados.
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  • Jeronomo Gungulo Madeira extraída em Moçambique para China/Carteiras fabricadas na China vendidas p Moçambique, Eu acho que a China conhece melhor o valor da Madeira em relação aquele Moçambicano que tem lhes vendido a Madeira, sendo assim, eles (Chineses) de "certeza" trarão para Moz, outro tipo de carteiras (plástico, madeira prensada, gesso etc.)

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