quinta-feira, 14 de maio de 2015

Quem é culpado da xenofobia na RAS? (1)


Sexta, 15 Maio 2015

NÃO é possível que depois de tantas reflexões e clamores em volta da xenofobia apareça diante de nós o número um da África do Sul a afirmar que a culpa ou os responsáveis pelos incidentes que ocorreram e ocorrem contra os estrangeiros na vizinha RAS é dos presidentes da África e de outras partes do mundo que deixam os seus compatriotas emigrarem para a África do Sul.
Esta maneira de pensar de Jacob Zuma remete-nos a aquela ideia segundo a qual os analistas, críticos, académicos e sociedade no geral; enquanto falam, reclamam, protestam e denunciam, o que não deveria ser feito pelos que cometem irregularidades principalmente governantes, eles vivem como se os tais académicos, críticos entre outros não estivessem a dizer absolutamente nada para o seu crescimento ou para alguma mudança em prol do bem-estar de todos.
Em alguns casos até chegamos a pensar que não serão estes aqueles que a Sagrada Escritura afirma “têm olhos mas não vêem e têm ouvidos e não ouvem”. Estas realidades também acontecem mesmo em Moçambique, onde alguns governantes, em particular, e a própria sociedade, no geral, vivem numa autêntica anarquia e desordem social porque pensam que estão no país de tudo é possível. Talvez seria bom recordar que aquele que tem a coragem de te dizer que a “sua boca tem mau hálito”, esse é o seu verdadeiro amigo e quer o seu bem-estar, enquanto para os seus inimigos as suas fraquezas constituem uma alegria; às vezes chegamos a acreditar que alguns líderes políticos de África têm escolhido os seus próprios inimigos para lhes orientarem numa e noutra realidade, isto porque não se justificam os constantes erros que temos visto naqueles que desejam governar e naqueles que governam. Bom, não são estes os assuntos que programamos para este artigo, mas sim as palavras de Zuma que nos parecem em algum momento a favor da xenofobia e por isso iremos dizer em voz forte e bem alta.
Não, não, não iremos concordar com qualquer argumento que proteja, tranquilize e deixe os xenófobos ou qualquer outro tipo de malfeitores na “sombra da bananeira”; isto é, na ideia segundo a qual os tais xenófobos agem daquele modo porque na sua terra existem muitos emigrantes! Quiçá.... em que parte do mundo é que não há emigrantes?
Esta questão foi o nosso principal ponto de debate no último artigo publicado por nós no Jornal “Notícias” e outros meios de comunicação social, e que, inspirados em Martin Luther King Jr., procurávamos usar todas as expressões possíveis e que repudiem a xenofobia, porque estes actos não podem ser justificados ainda que se suponha haver motivo para tal. Nenhuma pessoa deve ser torturada ou ainda tirada a vida por não se encontrar na sua terra de origem. Mesmo assim, será que os sul-africanos têm certeza absoluta de que a África do Sul lhes pertence, eles não terão emigrado do norte da África ou de qualquer outra parte do mundo? Seria bom que investigassem um pouco mais a história da humanidade e de África, em particular!
Nós, aconteça o que acontecer, sempre iremos contra tudo que discrimina as outras raças, etnias e povos, porque tudo isso vai contra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sabiamente proclamados pelos nossos antepassados, que automaticamente atenta ainda contra todos os princípios da dignidade da pessoa humana. Talvez seria oportuno dizermos o que são direitos humanos e em que consiste a dignidade da pessoa humana, que acreditamos ser algo considerado necessário e importante por parte da RAS, motivo pelo qual este povo não admitiu em nenhum momento o “apartheid” e nem qualquer outro tipo de discriminação racial nem dominação, isto mesmo Mandela poderia testemunhar a horas atrás. Queremos aproveitar a oportunidade para recordar um belo provérbio que agora não nos vem em mente sobre de quem é a autoria e a proveniência, mas diz o seguinte: “não faça o que não queres que lhe seja feito”.
Ao falarmos da dignidade da pessoa humana, pretendemos chegar a ideia segundo a qual este é um dos conceitos mais importantes para a reflexão ética, política e jurídica. Reconhecemos ainda a existência de várias formas de definir, e o facto de constituir um trabalho árduo para dizer na verdade o que é a dignidade da pessoa humana. Não obstante a dignidade da pessoa humana ser um conceito que não se aplica só ao ser Humano, porém ao falar de humano não podemos dispensar a pessoa, que deve ser analisada em várias perspectivas de ordem ontológica, antropológica e ética (1. Cf. ADORNO, R. Bioetica y dignidade de la persona. Madrid: tecnos, 1998.)
Deste modo, podemos concluir que o homem como pessoa, isto é, como sujeito de uma razão moralmente prática, está acima de qualquer preço. Como fim em si mesmo, ele possui uma dignidade mediante a qual constringe todas as outras criaturas racionais a respeitarem a sua pessoa e pode comparar-se com cada uma dessas criaturas e a elas considerar igual.
O respeito que tenho pelos outros ou que qualquer um pode exigir de mim é o reconhecimento da dignidade humana, isto é, de um valor que não tem preço, não tem um equivalente com o qual se pode trocar um objecto de estima. Será que os zulus e alguns sul-africanos percebem estas ideias que este pensamento pretende transmitir a humanidade. O ser humano nunca deve ser trocado nem comparado com qualquer outra coisa; porque não existe nada que pode trocar ou comprar o homem, como sabemos ele não tem preço.
Kant (filósofo) pede a consideração do outro como fim em si mesmo. Mesmo o malfeitor deve ser respeitado na sua dignidade de pessoa humana. Será que os zulus e alguns sul-africanos, respeitaram os outros povos? Nós também somos seres humanos dotados de características similares as vossas; isto é, respiramos, falamos, comemos, sentimos fome, temos sentimentos, temos sangue, sentimos dor entre outras realidades.
Ora, tendo em conta tudo quanto foi dissertado até agora ao longo deste nosso escrito, a questão que não quer calar é como é que um presidente de um país supostamente membro da União Africana, da SADC e defensor dos direitos humanos aparece em público a afirmar o seguinte: “por que os cidadãos não sul-africanos não estão nos seus países? Diz ainda Zuma, por mais que a RAS possa ter problemas alegadamente xenófobos, os países irmãos contribuíram para tal” (Jornal “Notícias” de 29 de Abril de 2015 na página internacional).
Albath da Cruz

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