sábado, 9 de maio de 2015

Renamo tem uma agenda oculta

AS manobras dilatórias que a Renamo usa como estratégia nos debates sobre assuntos candentes do país, os discursos inflamatórios dos seus dirigentes e a tentativa de impor os seus projectos políticos ao Governo, entre outras artimanhas, conduzem à conclusão de que o ex-movimento rebelde, liderado por Afonso Dhlakama, só pode estar a cumprir uma agenda oculta ou simplesmente teleguiada por comandos que estão fora do país.

Esta opinião foi sustentada por líderes comunitários da cidade da Maxixe, durante um encontro orientado pelo Governador da província de Inhambane, Agostinho Trinta, que tinha em vista reflectir sobre a actual situação política do país, sobretudo os pronunciamentos que o líder da oposição, Afonso Dhlakama, tem vindo a fazer.

No encontro, os responsáveis comunitários disseram ao Governador de Inhambane que a postura assumida pela Renamo e seu líder mostra claramente que aquele partido não está a ser dirigido por moçambicanos, mas sim por forças externas contrárias ao progresso socioeconómico e cultural do nosso país.

Os líderes comunitários da segunda maior cidade de Inhambane definem Dhlakama como “um instrumento apenas”, escolhido a dedo para liderar um movimento cujo fim é inviabilizar o desenvolvimento do nosso país, que se alicerça na paz e unidade nacional.

“Senhor Governador, nós já percebemos, há muito tempo, que Dhlakama é empregado de patrões seus, escondidos fora do país, aqueles que tudo fizeram para impedir a nossa independência nacional. Por isso estamos atentos e estamos a sensibilizar as nossas comunidades para não seguirem Dhlakama e a Renamo, porque defendem projectos encomendados”, disse Augusto Lucas Massingarela, líder comunitário de Tinga-Tinga, intervindo naquele concorrido encontro.


Para aquele líder, “no dia em que a Renamo for dirigida por moçambicanos e tiver as suas ideias, será um partido civilizado, que respeita o povo, e poderá defender políticas com horizontes de desenvolvimento e não de obstaculizar tudo. Vai deixar de colocar o povo como escudo na sua tentativa de querer atingir fins políticos, e não vai odiar a paz e o desenvolvimento de Moçambique”.

Por seu turno, Lourenço Agostinho João, líder do primeiro escalão do bairro Nhambiwa, arredores da cidade da Maxixe, defende que as matérias arroladas pela Renamo no diálogo político com o Governo no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano são uma prova inequívoca da caducidade de um partido teleguiado por estrangeiros.

“Os discursos de Dhlakama não passam de um disco gasto. A sua táctica sempre foi a mesma; dificultar tudo para culpar os outros. Porque é que ele não quer entregar as listas dos seus homens armados para se beneficiarem do Fundo da Paz e Reconciliação Nacional aprovado pela Assembleia da República no ano passado?”, questiona o líder comunitário, para quem a Renamo e seu líder não sabem pensar como moçambicanos e guiarem o seu partido pelas suas cabeças, sem obedecer ordens de patrões com agendas ocultas.

O responsável comunitário considera ainda que a ideia da divisão do país não é tão nova como alguns pensam. “É uma ideia que entrou na forja quando o colonialismo português perdeu a batalha militar na memorável operação “Nó Górdio” em 1970. A partir dessa altura, o colonialismo identificou como estratégia para enfraquecer a independência de Moçambique a fragmentação do país para quebrar a principal “arma” de Eduardo Mondlane: a unidade nacional por um Moçambique uno e indivisível.

Lourenço Agostinho João garante que na Maxixe a ideia da divisão do país não encontra provimento, muito menos acolhimento nas comunidades.

“Lutámos e conquistámos a independência para traçarmos os destinos do nosso país. Não queremos ingerência externa na gestão e direcção do nosso país. Moçambique não pode ser transformado numa Somália, Sudão, Libéria ou outros países, onde forças externas usam o próprio povo para instalar o caos”, concluiu Lourenço João.

DHLAKAMA ENCARNA ESPÍRITO MAU

O Governador de Inhambane, Agostinho Trinta, corroborou a análise dos líderes comunitários da Maxixe, considerando que as atitudes de Dhlakama não deixam dúvidas de que algumas forças externas se encarnam neste dirigente do ex-movimento rebelde, para fomentar o sofrimento dos moçambicanos.

“Dhlakama é uma espécie de um diabo. Fica satisfeito com o sofrimento dos outros. Faz sofrer o povo que vive na incerteza por causa das suas constantes ameaças de retorno à guerra, como também sofrem aqueles homens, cuja juventude e tempo útil de organizar a sua vida e futuro da sua família está a terminar no mato onde se encontram escondidos, disputando espaço com animais selvagens, à fome, frio, sol, chuvas, ciclones, entre outras dificuldades e perigos escondidos no mato, inclusive serpentes”, disse o Governador Agostinho Trinta.

O dirigente de Inhambane defendeu ainda perante os presentes naquele encontro que Dhlakama está a usar recursos de que dispõe, dinheiro e viaturas, na qualidade de líder da oposição, para passear pelo país, a promover instabilidade numa ideia de querer dividir o país.

“No ano passado, a Assembleia da República aprovou o estatuto de líder da oposição e o Fundo da Paz e Reconciliação Nacional. A casa onde vive Dhlakama, o que come, as suas viagens e tudo mais são suportados pelo Governo, devido à sua posição de líder da oposição. Mas ele nega que os seus homens se beneficiem do dinheiro disponibilizado pelo Governo para a sua reintegração na sociedade. Quando solicitamos as listas, ele pega no avião, usando o dinheiro oferecido pelo Governo, e viaja pelo país dentro, para espalhar mentiras e incitar à violência. Por isso, Dhlakama é mesmo um diabo que fica contente quando os outros sofrem”, declarou o Governador de Inhambane.

Na opinião de Agostinho Trinta, a autarcização das províncias não passa de uma tentativa de dividir as pessoas por regiões, raças, línguas e etnias, uma estratégia com a qual, segundo o governante, os mandantes de Dhlakama pretendem aniquilar a unidade nacional, na velha táctica de dividir para reinar.

“Por isso, devemos informar as nossas comunidades sobre o perigo que está por detrás dessas ideias da Renamo. Vamos esclarecer isso aos membros da Renamo, que também não conhecem esta realidade, para terem muito cuidado com o seu líder, porque ele está a enganar a todos. Ele vive bem. A sua família também. Mas não aceita que os seus homens tenham também o dinheiro disponibilizado pelo Governo, para viverem também bem”, afirmou Agostinho Trinta.

O dirigente de Inhambane revelou, por outro lado, que a Comissão que supervisiona a cessação das hostilidades militares instalada na cidade da Maxixe, para controlar a região sul do país, está, neste momento, praticamente sem trabalho, porque a Renamo não aceita desmobilizar os seus homens que estão na floresta à espera de novas ordens de Dhlakama.

“Sabem que a EMOCHIM está baseada aqui na Maxixe. Fez o seu trabalho necessário, mas quando chegou a fase de desmobilização, Dhlakama escondeu a lista dos seus homens para continuar a viver bem sozinho. Neste momento, alguns dos seus homens já querem sair do mato para virem buscar o dinheiro, mas Dhlakama não lhes permite”, revelou o Governador de Inhambane, sem avançar mais detalhes.

VICTORINO XAVIER

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