domingo, 10 de maio de 2015

Sócrates, o menino de coro?


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MANUEL SILVEIRA DA CUNHA
Manuel Silveira da Cunha
A greve da TAP foi um fiasco, a adesão foi baixa, revelando que a classe dos pilotos está, de facto, a ser instrumentalizada por gente com interesses obscuros. Sensação que ficou reforçada depois da excelente reportagem do “Sexta à Noite” na RTP1, passada na última sexta-feira.
Sem qualquer interesse pelo futuro da companhia, desrespeitando os empregos e o futuro dos colegas não pilotos, sem qualquer diálogo do governo face à chantagem instrumentalizada, também este interessado em despachar a TAP por tuta e meia a grupos com ligações ao actual poder, o sindicato dos pilotos demonstrou ser manipulado por gente sem escrúpulos que suscitou o asco de toda a sociedade portuguesa, fez perder valor ao PIB português neste momento de crise profunda, desvalorizou a companhia de bandeira e fez todos os portugueses, sem excepção, mais pobres.
Estranha-se que o governo, face a esta greve minoritária e criminosa, não tenha espoletado a requisição civil para meter na ordem a minoria de pilotos que aderiu ao plano maquiavélico de alguns membros da direcção do sindicato que põe em questão a greve em Portugal. De facto, não é admissível uma greve cujo único objectivo é fazer valer um acordo ilegal, logo nulo, também ele fruto da incompetência dos políticos portugueses que prometeram o que não poderiam cumprir, dar parte do capital a uma minoria de privilegiados esquecendo todos os outros trabalhadores da companhia.
Em última análise, esta greve não é mais de que um assalto ao capital social de uma empresa que é de todos os portugueses. É praticamente o mesmo que usar de chantagem para ficar dono da companhia. Imagine-se, fora de um qualquer período revolucionário em curso, que um grupo de trabalhadores de uma empresa faz greve para passar a ser dono da mesma empresa e correr com os legítimos accionistas? Seria considerado ilegal em qualquer parte do mundo.
Só em Portugal uma greve destas decorre impávida e serena, com o beneplácito do governo que, apesar de ter demonstrado a incapacidade do sindicato de mobilizar a maioria dos pilotos, deixa que os nefastos efeitos da mesma greve, minoritária que seja, se prolonguem no tempo, arrasando a credibilidade da TAP. A única justificação é que o governo, com a sua inabilidade quase surreal, tem interesses na desvalorização do capital da TAP e, se não colabora no crime, pelo menos se está a servir da greve para vender mais barato numa privatização em que quem vai pagar todos os prejuízos são os portugueses, como de costume.
Toda esta situação da TAP indicia factos gravíssimos. A greve, a manipulação, a deslealdade de alguns pilotos, dos sindicatos e assessores do mesmo, face à companhia e a Portugal, a actuação do governo e dos gabinetes de advogados que orbitam o executivo na privatização da companhia, deveriam ser alvo de aprofundadas investigações por parte do Ministério Público. Há indícios mais do que suficientes de gravíssimas irregularidades, senão mesmo de crimes. Sócrates, comparado com a gente que contribuiu para esta situação, não passa de um menino de coro.
Entretanto, a excelente aplicação informática UBER, que ligava táxis de turismo e aluguer de carros com motorista aos clientes, empresas com os devidos alvarás e pagando impostos, ao contrário do que se afirma, foi proibida por um tribunal. Entretanto, os “tuc tucs” continuam a poluir Lisboa e a bloquear o seu trânsito, enquanto os automóveis de honestos cidadãos (perdoe-me o presidente Cavaco por não escrever “cidadões”) que pagam inspecções e impostos deixam de poder andar em Lisboa. Sócrates não passa de um menino de coro ao pé da ANTRAL.

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