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Nos finais do seculo IX, Mouzinho de Albuquerque, um então governador da antiga Província de Moçambique (como o colonialismo designada esta nossa imensa terra), teve um sonho: construir uma linha férrea que ligasse Inhambane a região de Maputo, passando pelo interior de Gaza. Ele foi contrariado na metrópole. Em 1898, quando deixou o cargo, abandonou também o sonho. Mas afinal havia quem, mais tarde, daria corpo a esse seu desiderato. O governo de Freire de Andrade decidiu colocar mãos a obra e, em 1909, a linha começou a ser construída. A intenção era chegar a Maputo, mas parou-se por Inharrime, uns 100 kms a sul da cidade de Inhambane. Depois construi-se a ponte-cais de Inhambane. A linha tinha um ramal para essa ponte, atravessando a zona nobre da cidade.
Durante anos, o caminho de ferro era também identidade de Inhambane. O comboio trazia algodão de Inhassune-ramalhusca e olaria de Mutamba. Transportava pessoase bens. Depois da independência, com viabilidade encolhida, ela serviu como campo de estudo para os formandos da Escola Ferroviária, hoje de hotelaria e turismo. Iam moçambicanos de todo o canto. E angolanos.
Durante a guerra dos 16 anos, o comboia alimentava uma cidade quase encurralada pelo mar. Mas essa linha de quase 100 Km já não existe. Foi vendida. Todos os carris de aço foram arrancados. Por onde ela passava, jazem algumas travessas e o traçado virou carreiro para peões. Nalguns lugares no subúrbio de Inhambane, vedações de quintais feitas de caniço apagaram qualquer vestígio da via. Há dois anos, ela foi desmantelada por morte matada. Camiões da transportadora Lalgy carregaram os carris para lugar desconhecido. Uns cidadaos da Asia mais longingua controlavam as operacoes. Disseram me que eram de uma empresa coreana.
Até carruagens foram levadas, incluindo um enorme tanque cisterna que era arrastado pela “máquina 8”. Essa operação de desmantelamento foi feita a luz do dia. Mas a decisão foi tomada em segredo num escritório qualquer em Maputo. Se a linha era inviável? Ok podia ser mas, la fora,, no estrangeiro, de onde a gente teima em não aprender (talvez a governação cientifica mude este pensar ruim), essas coisas não se apagam, porque o turismo recupera (ohh mas também boicotamos a feira do Indaba, que poderia servir para relançar um turismo que já esta as moscas por causa da instabilidade politica).
Quando o Ayres Aly era governador de Inhambane, ele ate pensou nisso. Mas os mais espertos decidiram por outra via. O paradoxo e intrigante eh que o distrito de Jangamo, um dos atravessados pela linha tem enormes depósitos de areias pesadas, cuja exploração esta a ser negociada. A linha, se existisse, teria uma grande utilidade neste negócio. Não tinha que ser erguida de novo. E com uma nova vaga de investimento em vias ferreas em Moçambique, por causa do carvão, a formação de técnicos eh um imperativo. Mas onde? Se já não tem nem linha nem maquinas.
Esse desmantelamento foi criminoso, arrisco eu. Um crime contra a economia. Eu gostava de saber quem deu a ordem final para que isso fosse feito. Se bem que não lhes posso imputar responsabilidades directas, o Ministro dos Transportes e Comunicações que controlava a pasta na altura da operacao “venda de ferro velho” e o anterior PCA dos CFM tem uma palavra a dizer. Quanto custou e onde esta o dinheiro?
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