segunda-feira, 11 de maio de 2015

Um crime contra a economia…e contra a nossa memória colectiva?

3 hrs · Edited · 

Nos finais do seculo IX, Mouzinho de Albuquerque, um então governador da antiga Província de Moçambique (como o colonialismo designada esta nossa imensa terra), teve um sonho: construir uma linha férrea que ligasse Inhambane a região de Maputo, passando pelo interior de Gaza. Ele foi contrariado na metrópole. Em 1898, quando deixou o cargo, abandonou também o sonho. Mas afinal havia quem, mais tarde, daria corpo a esse seu desiderato. O governo de Freire de Andrade decidiu colocar mãos a obra e, em 1909, a linha começou a ser construída. A intenção era chegar a Maputo, mas parou-se por Inharrime, uns 100 kms a sul da cidade de Inhambane. Depois construi-se a ponte-cais de Inhambane. A linha tinha um ramal para essa ponte, atravessando a zona nobre da cidade.

Durante anos, o caminho de ferro era também identidade de Inhambane. O comboio trazia algodão de Inhassune-ramalhusca e olaria de Mutamba. Transportava pessoase bens. Depois da independência, com viabilidade encolhida, ela serviu como campo de estudo para os formandos da Escola Ferroviária, hoje de hotelaria e turismo. Iam moçambicanos de todo o canto. E angolanos.
Durante a guerra dos 16 anos, o comboia alimentava uma cidade quase encurralada pelo mar. Mas essa linha de quase 100 Km já não existe. Foi vendida. Todos os carris de aço foram arrancados. Por onde ela passava, jazem algumas travessas e o traçado virou carreiro para peões. Nalguns lugares no subúrbio de Inhambane, vedações de quintais feitas de caniço apagaram qualquer vestígio da via. Há dois anos, ela foi desmantelada por morte matada. Camiões da transportadora Lalgy carregaram os carris para lugar desconhecido. Uns cidadaos da Asia mais longingua controlavam as operacoes. Disseram me que eram de uma empresa coreana.
Até carruagens foram levadas, incluindo um enorme tanque cisterna que era arrastado pela “máquina 8”. Essa operação de desmantelamento foi feita a luz do dia. Mas a decisão foi tomada em segredo num escritório qualquer em Maputo. Se a linha era inviável? Ok podia ser mas, la fora,, no estrangeiro, de onde a gente teima em não aprender (talvez a governação cientifica mude este pensar ruim), essas coisas não se apagam, porque o turismo recupera (ohh mas também boicotamos a feira do Indaba, que poderia servir para relançar um turismo que já esta as moscas por causa da instabilidade politica).
Quando o Ayres Aly era governador de Inhambane, ele ate pensou nisso. Mas os mais espertos decidiram por outra via. O paradoxo e intrigante eh que o distrito de Jangamo, um dos atravessados pela linha tem enormes depósitos de areias pesadas, cuja exploração esta a ser negociada. A linha, se existisse, teria uma grande utilidade neste negócio. Não tinha que ser erguida de novo. E com uma nova vaga de investimento em vias ferreas em Moçambique, por causa do carvão, a formação de técnicos eh um imperativo. Mas onde? Se já não tem nem linha nem maquinas.
Esse desmantelamento foi criminoso, arrisco eu. Um crime contra a economia. Eu gostava de saber quem deu a ordem final para que isso fosse feito. Se bem que não lhes posso imputar responsabilidades directas, o Ministro dos Transportes e Comunicações que controlava a pasta na altura da operacao “venda de ferro velho” e o anterior PCA dos CFM tem uma palavra a dizer. Quanto custou e onde esta o dinheiro?
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  • Baptista Cumbane Triste Marcelo Mosse, é preciso recordar que essa linha facilitava a transitabilidade e escoamento de bens e produtos do interior do distrito de jangamo. Nos ultimos tempos com o desenvolvimento do turrismo naquele distrito, facilitaria mais visto que há problemas sérios de vias de acesso na parte este de jangamo.
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  • A Max A Max Perguntar não ofende: "Quanto custou e onde esta o dinheiro?"
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  • João Machado da Graça Não deixes ficar isto apenas aqui. Publica no Savana.
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  • Adrian Magoo Essa negociata de ferro velho é uma grande fonte. Muito ferro foi tambem extraido da linha Quelimane - Mocuba.
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  • Marcelo Mosse Sim Adrian Magoo e disseram que em Nampula tambem, ja ha alguns anos.
  • Damiao Cumbane Destruíram o que nunca souberam construir. Há dias estive em Inhambane e vi com nostalgia aquela locomotiva (reliquia) que jaz sozinha, na antiga terminal ferroviária da Terra da Boa Gente transformada em besta por políticos de outras latitudes.
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  • António Francisco Marcelo Mosse este é apenas um dos muitos exemplos dos crimes económicos nesse sector tao crucial para a expansao da economia nacional, não é?
  • Nordine Mussagy Mussagy Verdade verdadeira.
  • Helder Culumba Qui pesadelo, EU QUERO ACORDAR!
  • Marcelo Mosse Gabriel Muthisse?
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  • Julio Lacitela Riopele tambem
  • Marcelo Mosse Se o Nyusi quisesse corrigir algumas coisas, podia centrar-se, por exemplo, nos crimes contra a economia. Havia uma Lei dos anos 80 que enquadrava um tipo legal de crime com essa figura...nao sei se ela foi absorvida pelo novo Codigo Penal (tenho de ir consultar)....a tal lei tinha la os seus excesso mas o principio eh cada vez mais actual porque nossa economia esta a ser escangalhada em beneficio de minorias. Nyusy devia mandar fechar o GCCC urgentemente. Nao precisamos de um Gccc para lidar com pequenos desvios de fundos. Isso, as procuradorias adistritas aos tribunais podiam fazer,. Nyusi devia criar uma coisa tipo Unidade de Investigacao de Crimes contra a Economia, para tratar destas coisas mais lesivas, monitorar negocios do Estado, PPPs, o procurement publico e, sobretudo, recuperar o dinheiro que resulta deste tipo de operacoes tenebrosa. Um Governo novo deve trazer ideias novas e nao reproduzir instiutuicoes que sao um fracasso. Eh preciso fazer uma especie de corte epistemologico...mas para isso tem se saber ouvir...para la da cortina opaca das cavaqueiras dentro da Frelimo.
  • Manuel Carlos Zacarias Dentre os dois colonos até aos nossos dias não existiu outro "colono" nacional que teve essa ideia, só encher os bolsos!

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