sexta-feira, 12 de junho de 2015

E por dez milhões vendeu-se a TAP





Será que à terceira é de vez? Desde o final da década de 90 que sucessivos governos andam às voltas com a privatização da TAP. Depois de terem falhado as vendas à Swissair e, mais recentemente, ao colombiano Germán Efromovich, o Governo escolheu agora David Neeleman e Humberto Pedrosa para serem os novos donos da TAP.
Prometem injectar 354 milhões de euros no capital da TAP e dão ao Estado dez milhões de euros. Não obstante a dívida astronómica da TAP, é quase arrepiante ver a companhia de bandeira nacional ser vendida por dez milhões de euros. Claro que até ao lavar dos cestos é vindima. A privatização ainda está envolta numa séria de interrogações que poderão comprometer o negócio.
Um dos riscos é Germán Efromovich levar a privatização aos tribunais, já que não é claro que o vencedor não esteja a violar a regra da União que impede investidores não europeus de controlar companhias de aviação do espaço comunitário.
O outro, mais relevante, é político. A mensagem que vem do Largo do Rato não deixa margem para muitas interpretações: “Um governo liderado por António Costa, um governo do PS, tudo fará para que o Estado português continue a manter a maioria do capital social da TAP.” O comprador da TAP terá de viver com esta incerteza até às eleições legislativas de Outubro. É o que dá privatizar uma companhia de bandeira sem ensaiar um mínimo de consenso político.
E, finda a operação, fica a sensação de que o Governo, nem de perto, nem de longe, estudou e esgotou todas as alternativas a uma privatização de 100% da companhia. Não se deu ao trabalho sequer de perguntar a Bruxelas as implicações de injecção de dinheiro público na companhia, nem que fosse para descartar a opção. E nunca explicou por que razão é que o Estado, optando pela privatização, não poderia continuar a ser accionista da TAP, seja maioritário, seja minoritário.


Deputado do PS diz que é “vergonha vender a TAP por metade de Jorge Jesus”



12/06/2015 - 12:02


PS, PCP e BE atacam Governo pela privatização da companhia e deixam maioria isolada.Sérgio Monteiro foi o rosto do Governo no debate DANIEL ROCHA

Um insulto, uma operação opaca, uma tragédia, um dia de luto, uma venda por trocos. Não faltaram os ataques das bancadas do PS, PCP e BE à privatização da TAP, num debate parlamentar agendado pelos bloquistas. Mas foi da boca de um deputado do PS, Rui Paulo Figueiredo, que veio a comparação com a transferência futebolística do momento: “É uma vergonha vender a TAP por metade de Jorge Jesus.”

O deputado tinha sido desafiado pelo secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, a assumir que posição o PS vai tomar sobre a operação de privatização da TAP, caso seja Governo. “Não hesitaremos em utilizar a cláusula que o Governo aprovou”, respondeu Rui Paulo Figueiredo, numa alusão à possibilidade de reverter o processo de alienação do capital.

A principal crítica do PS — a que também se juntou BE e PCP — é apontada à forma do processo. “Os senhores têm bloqueado o acesso a toda a documentação, o que é que estão a esconder?”, questionou o socialista. Os valores envolvidos no negócio foram outra arma de arremesso. Para José Luís Ferreira, d'Os Verdes, o dia em que foi anunciado o vencedor foi “um dia de luto”. Sérgio Monteiro foi acusado de trocar a TAP “por uns trocos”. “É preciso ser um grande artista, ter uma grande coragem como a do senhor secretário de estado”, atirou o deputado ecologista.

Só com as secretárias de Estado do Tesouro e dos Assuntos Parlamentares a seu lado, Sergio Monteiro ainda ouviu críticas ao vencedor do concurso, David Neelman. “É especializado em retalhar companhias, muitos parabéns senhor secretário de Estado”, apontou Bruno Dias do PCP, contrariando ainda outro argumento do Governo para privatizar a companhia: “É ou não verdade que a dívida está a baixar?”. Na mesma linha, Mariana Mortágua sublinhou que “a TAP paga a sua dívida com os seus cahs-flows” e que “não é paga com dinheiro dos contribuintes”.

Logo na intervenção inicial, a bloquista indignou-se com os valores envolvidos e com o argumentário do Executivo. “Querem saber o que é um mito urbano? O que nos diz o Governo sobre a TAP. Em boa verdade não houve qualquer venda, mas uma oferta por um valor simbólico. 10 milhões pela TAP é um insulto”, afirmou.

Para o PSD estas contas não são sérias. “Desonesto é dizer que se vendeu por 10 milhões quando 61% foi feito por 354 milhões de euros, a que acresce um investimento em aeronaves”, respondeu o social-democrata Nuno Matias, que classificou operação de privatização como um “sucesso”.

A privatização da companhia como a única solução foi defendida pelo CDS. “A solução do Governo contribui para salvar a TAP, as rotas, os postos de trabalho”, sustentou o líder da bancada Nuno Magalhães, lembrando as dificuldades que pairam na companhia, designadamente "mil milhões de euros de dívida, 500 milhões de capital negativo e necessidade urgente de renovação da frota”.

A defesa da operação foi ainda sustentada pelo secretário de Estado que interveio logo no início do debate. Contrariou a pressa, alegando que “desde o início do mandato do Governo houve a necessidade de encontrar capital”. E acusou os partidos da oposição de ziguezaguearem entre o desconhecimento do caderno de encargos e o vazio do documento.

Sérgio Monteiro garantiu ainda que “a preservação do hub em Portugal está a assegurado por 30 anos, e que não há notícia de hub de um lado e de sede noutro”. Mas já não respondeu à segunda ronda de perguntas (incluindo uma de os Verdes sobre as rotas para as ilhas), deixando mais de um minuto do debate por utilizar. 







COMENTÁRIOS
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O seu comentário...Na verdade, foi justamente essa discussão que não houve neste processo turbulento. A TAP só deveria vendida com o consentimento informado dos contribuintes no que diz respeito ao seu papel. Toda a gente fala das dívidas da TAP. Quanto é que o Estado deve à TAP pelo seu serviço público, quanto é que pagaria a um privado por esse constrangimento no seu plano de negócios? Seguramente mais que um bilião ao longo destes anos todos. A TAP não deve nada ao Estado.
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Quanto custaria ao Estado o aluguer de uma empresa privada aérea que suportasse o défice de voos não lucrativos para manter a coesão nacional, que assegurasse ligação à diáspora, que abicasse do seu logótipo próprio em nome da marca Portugal, e que fosse a 3ª mais segura da Europa pelo menos?...e já agora que estivesse obrigada a não despedir?
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Tem toda a razão. Agora é que vamos começar a pagar. Com o dito "serviço publico" contratado aos privados, que não passam de subsídios. Até agora a TAP não custava um cêntimo aos nossos bolsos, nem um cêntimo. Alimentava-se só dos seus fluxos financeiros. Com a contratação (sabe-se lá como...) do "serviço público" vamos ter que passar a abrir ainda mais os cordões à bolsa.








Há quem se revolte contra as instâncias que não permitem mais operações de empréstimos e outras mas, não são essas instâncias que obrigam à gestão, número de funcionários, vencimentos, regalias, etc. , para as quais elas não são capazes de cumprir, dentro dum orçamento feito em função dos lucros da mesma. Para nós, os outros é que têm que ser responsáveis e poupar para nos emprestarem e ainda lhe chamarmos nomes quando eles reclamam o que é seu. Somos como os toxicodependentes que vendem ouro a preço de latão, ou seja, juros elevadíssimos e depois reclamamos na altura de pagar.
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"Deputado do PS diz que é “vergonha vender a TAP por metade de Jorge Jesus”"... Bem observado, Sr. deputado Rui Paulo Figueiredo! Mas o meu receio é que, qualquer dia, surjam as seguintes notícias: " Mosteiros dos Jerónimos à venda!" E alguns dias mais tarde: "Torre de Belém, a preço de saldo!" E logo a seguir: "A Ponte sobre o Tejo: Quem dá mais?" Este governo ficará na História como um bando de vendilhões do nosso património. No caso da TAP, a vergonha desce ao nível da sarjeta. Um lucro, no valor de 10 milhões de euros por uma empresa como a TAP, é descer ao nível zero da humilhação. Por este andar, qualquer dia, ainda nos vamos interrogar se continua nosso o ar que respiramos.
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É claro que os "cirurgiões" são importados. No entanto, não deixa de ser uma "bela" operação de cosmética. As dividas da TAP tomaram um dos seus belos aviões e abandonaram Portugal... Agora estão na Antártida... vão ser os pinguins a pagar ( embora eu esteja certo que serão os trabalhadores da TAP e... todos os portugueses que as acabarão por pagar).
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Caro julio, o estado vai sempre pagar, e mais do que pagava antes que era... zero cêntimos. Vai subsidiar os privados para lhes garantir os lucros. É sempre assim. Veja o que acontece no sector energético, nas autoestradas, nas PPPs. São contratos onde só há um ganhador, e nunca é o estado. Os perdedores somos todos nós que pagamos cada vez mais impostos para sustentar estes mamoilas onde o risco dos negócios está sempre do lado do estado. O governo diz que dar subsídios a privados é para assegurar "serviço público" como sempre... são uns vigaristas encartados.








Se bem me lembro, há uns anos o estado injetou 1500 milhões na tap que, agora já tem uma dívida de 1050 milhões. E vão 2550 milhões. Ora, como o estado tem que pedir para pagar quer dizer que ela só é do estado, no papel. Se só dá prejuízo para os escravos pagarem. Das duas uma, ou se privatiza ou faça-se como nas auto estradas. Utilizador pagador. Quem anda de avião ou queira pagar um imposto adicional, os interessados, para que a empresa continue a ser viável e do estado. Não são os milhões de portugueses que nunca andaram de avião que têm que dar sangue aos piolhos.
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Quer concretizar essa transacção, s.f.f.? Foi à quantas décadas? No tempo do escudo e dos aviões a hélice?






Este impressionante número, que aumentaria se o governo conseguisse concretizar mais esta patifaria, este autêntico crime de lesa pátria, dá bem a dimensão da catástrofe que tem sido imposta a Portugal, e que se acentuaria com a perda de mais este importante factor de soberania nacional.

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Depois do escândalo que foi, em 15 de Maio, a escolha em apenas três dias das propostas que passavam à segunda fase, fomos agora violentados por mais esta fraude, de em apenas dois dias úteis, o Conselho de Administração da TAP, a Parpública, os assessores e consultores vários, os escritórios de advogados e o Governo, conseguiram descortinar, decidir e escolher o feliz contemplado com mais uma empresa pública, por sinal a última grande empresa nacional ainda não entregue ao capital estrangeiro. Nem na roleta do casino se ganham prémios tão rapidamente. É inacreditável a impunidade com que este Governo destrói o país. Nos últimos anos foram alienados para o controlo do capital internacional mais de trinta mil milhões de activos, bem mais de 20% do PIB português.

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A TAP deve deixar de ser a nossa companhia de bandeira logo que possível. A bandeira portuguesa merece mais respeito.

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Escrever, sem mais, que a TAP foi vendida por 10 milhões e omitir que a sua dívida é de cerca de dois mil milhões á má-fé pura e simples.

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Este Editorial omite coisas muito sérias. Desde logo a tentativa de Guterres de privatizar a TAP em 1997 e todas as razões porque falhou. Depois, omite também que em todos os PECs (do I ao IV), o anterior governo socialista, de que Costa fez parte,também se propunha privatizá-la. Mais, tal privatização estava no memorando que o anterior governo socialista negociou e assinou e Costa era então o nº 2 do PS.Finalmente, a TAP foi privatizada em 61% e não na totalidade, mediante várias condições, entre as quais os compradores assumirem a enorme dívida e ainda pagam 10 milhões, apesar de todos os boicotes, desde os pilotos à oposição, passando por uns que deviam era levar uns tapas nos olhos."O pior cego é o que não quer ver" que a TAP estava na iminência de falir e levar 10.000 ao desempregados

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1 comentário:

Anónimo disse...

OS politicos Portuguese's sao como OS politicos Americans querem vender tudo que pertence so governor depois disso OS trabalhadores comecao a received menos e menos e OS Rico's ficao mais ricos se isto continua vai haver no mundo 5 ricos e o resto pobre