quinta-feira, 18 de junho de 2015

Grécia: mundo nervoso, calma em Lisboa

EDITORIAL



DIRECÇÃO EDITORIAL 

18/06/2015 - 05:52


Belém e S. Bento sem preocupações de maior sobre consequências da crise grega.


O extremar da crise na Grécia está a deixar a Europa à beira de uma apoplexia. À medida que avança o tic-tac decrescente para a efectivação de pagamentos aos credores por parte de Atenas – tem que pagar 1,6 mil milhões de euros até dia 30 ao FMI -, aumenta o nervosismo. Governos, mercados, instituições, partidos, analistas vão fazendo parte desta reacção em cadeia que até tem feito vir à tona choques de personalidades. Por exemplo, o presidente do Parlamento Europeu, Parlamento Europeu, Martin Schulz, já fez saber que embirra com Varoufakis. Também Jean Claude Juncker, o político europeu que mais gosta de beijocar e de dar palmadinhas nas costas dos seus pares, se irritou seriamente com Tsipras, a quem praticamente chamou de mentiroso para contrariar a versão que este deu das propostas da Comissão nas negociações com Atenas. Tsipras, por sua vez, pouco faltou para acusar o FMI de ser uma instituição “criminosa” e o BCE de provocar a “asfixia financeira” do seu país. Entretanto, um texto datado de 12 do corrente, na Spiegel, intitulado “Brewing Conflict over Greece: Germany’s Finance Minister Mulls Taking on Merkel, faz importantes revelações sobre o conflito latente entre a chanceler e o seu ministro das Finanças sobre o desenlace da crise grega, enquanto, ontem, o chefe do Governo austríaco, numa curta visita a Atenas, deu um surpreendente e precioso apoio ao líder helénico, com direito a críticas aos credores por proporem medidas que fazem “aumentar o desemprego e a pobreza”. Nas páginas de importantes jornais como o Guardian e mesmo no circunspecto Financial Times, analistas digladiam-se em argumentos mais ou menos críticos relativamente aos dirigentes gregos, mas há um ponto que parece sobressair cada vez mais das análises: a insensatez de se pensar que abandonar um país com os pressupostos geopolíticos da Grécia, não terá consequências desastrosas para a Europa e o mundo. Do outro lado do Atlântico, a percepção da gravidade do momento é atestada pelas diligências pessoais que o próprio Presidente Obama tem feito junto dos dirigentes europeus. Ninguém esquece os Balcãs e a sua tradição belicosa, nem a proximidade da Turquia e muito menos a delicada situação em que se encontram as relações da UE com a Rússia. Tudo junto é um caldeirão a ferver de ameaças que devia servir para acalmar e reflectir para evitar o desastre. A agitação que há semanas domina as bolsas também mostra que os mercados não pouparão nada nem ninguém se a Grécia entrar em incumprimento. Gente avisada alerta que é impossível prever as consequências da bancarrota de um país do euro, mas para Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque não há dramas, os cofres estão cheios e ponto final. O Presidente da República resolveu mandar recados da Bulgária no sentido de apertar o garrote à Grécia, como se fosse indiferente a Portugal a solução que sair das negociações. O PS, esse, não se ouve. Mas talvez seja melhor assim.

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