sábado, 13 de junho de 2015

MINISTRO EXIGE INTERVENÇÕES "PATRIÓTICAS" E ACTIVISTAS ABANDONAM A SALA: AUSCULTAÇÃO PÚBLICA SOBRE O PROSAVANA

16 h · Editado · 

O luxuoso Centro Internacional de Conferencias Joaquim Chissano acolheu hoje, 12 de Junho, uma das mais polémicas e difíceis auscultações públicas que já se teve no sector da agricultura, nos últimos anos. O ministro da Agricultura e Segurança Alimentar, José Pacheco, presidiu em pessoa o acto e moderou o “debate”.
Não é comum em Moçambique um ministro participar e liderar uma Auscultação ou Consulta Pública. A razão era deveras “nobre”. O evento foi fortemente concorrido. Toda a nata do Ministério da Agricultura esteve presente, incluindo antigo ministro e antigos quadros “colossais” daquele ministério. Os directores provinciais de Agricultura também foram devidamente mobilizados. O Brasil e o Japão enviaram as figuras mais emblemáticas da sua diplomacia em Moçambique para, seguramente, representar Brasília e Tokyo.
É que o assunto é demasiado quente. Tão quente que o Sr. Pacheco tratou logo de ordenar, sem hesitação, que todas as intervenções no debate devessem ser “patrióticas”. “Não venham aqui com agendas obscurantistas”, rematou Pacheco, na tentativa de controlar as denuncias e reprovações de activistas e organizações da sociedade civil. Mas o senhor ministro parece ter fracassado na sua intenção.
Alice Mabota, activista de direitos Humanos, que participou da Auscultação, foi uma das primeiras pessoas a intervir no debate e denunciou à partida a abordagem ameaçadora de Pacheco e considerou o diálogo de hoje de “agressivo”. De facto, os momentos que se seguiram foram de muita “batalha”.
Vários activistas sociais e representantes de organizações da sociedade civil não se deixaram “intimidar”. Nas suas intervenções disseram ao ministro e ao elenco do ProSavana que aquele programa foi mal concebido e tem o objectivo de agrocolonizar o norte de Moçambique e criar alguns ricos locais. Os activistas propõem que o ProSavana vá para o lixo.
O activista social e militante da União Nacional de Camponeses, Vicente Adriano, interrompeu a apresentação do Plano Director do ProSavana com um “ponto de ordem” para denunciar a ilegalidade daquela “auscultação” e propor o seu cancelamento, mas o ministro ordenou que a sessão prosseguisse.
Era visível a presença de uma ala com a missão de bendizer o ProSavana e provar que não há nada de mal com aquele programa. Desde representantes de empresas que já operam na região do corredor de Nacala, Directores Provinciais de Agricultura não identificados como tal, agricultores de grande escala e até alguns camponeses locais, devidamente preparados para desacreditar o trabalho dos denunciantes do ProSavana.
Mas a tentativa fracassou. As posições das organizações da sociedade civil vincaram de tal maneira que o ministro Pacheco, na qualidade de moderador, retirou palavra a um grupo de cinco participantes, dentre eles o académico progressista João Mosca e a activista feminista Graça Samo. Pacheco recomendou que tais participantes enviassem as suas contribuições por escrito.
Esta atitude do ministro "desagradou" os activistas que se retiraram da sala em forma de protesto.
Muito coerente esta atitude do ministro. No começo da sessão ele tinha lançado um aviso claro: “Estamos firmes nesta missão. Qualquer obstáculo vamos atropelar e avançar”.
O ProSavana é um programa – o dístico oficial do evento dizia projecto – de desenvolvimento agrário a ser implementado no corredor de Nacala, norte de Moçambique. Nele o Brasil espera meter tecnologia e farmeiros (ávidos por investir num país onde a terra é de graça), o Japão espera tomar conta da comercialização no mercado internacional e Moçambique dará a bênção com as suas vastas terras “abandonadas” do corredor de Nacala.
A resistência ao ProSavana constitui, sem dúvidas, o movimento mais forte contra um modelo de “desenvolvimento ” desde que Moçambique se tornou independente.

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Boaventura Monjane é jornalista e activista social
boa.monjane@gmail.com
  • Diogivânia Maria Tempos sombrios esses (Hanah arendt).
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     · 16 h
  • Alex Stephens parabens a todos e a vc pelo relato. seria intressante saber se haverá um relatorio independente das ascultacoes, embora ja parecer evidente que o espirito de abertura e de expressão libre sofreu uma distorção desde o início.
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     · 16 h
  • Alex Stephens posso compartilhar no FB?
    1
     · 16 h
  • Amad Canda Então já percebem porquê o diálogo governo-renamo não avança? O Ministro de alface quer intervenções patrióticas.
    2
     · 15 h
  • Boa Monjane Pois é Amad Canda. O homem é de uma arrogância de criar raiva. Hoje testemunhei isso.
    2
     · 13 h
  • Breno Veiga Triste realidade!!
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     · 12 h
  • Rafael Ricardo Dias Machalela Boa estou a pedir este texto, quero adaptar para publicar...
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     · 8 h
  • Boa Monjane Porque adaptar Rafael Ricardo Dias Machalela? Mas estas livre de publicar, é só citar a fonte.
  • Cléo Mafu 'Estamos firmes nesta missao. Qualquer obstaculo vamos atropelar e avançar'. Com este tipo de ameaças fica claro o q tem acontecido no dialogo governo vs renamo. Este senhor mostra claramente q é arrogante e ainda bem q ele nao é o PR.
    1
     · 2 h
  • Manuel Mageta Taque Bom. Sou do tipo ouvir os dois lados da moeda antes de tomar qualquer decisão, e poucas vezes me baseio em só uma fonte, mas pela génese do projecto que muitos amigos me falam e vivenciaram no Brasil, provaram que muitas terras ficaram inférteis e improdutivas por longos anos depois do uso, sobretudo gerou-se populações sem terra, porém conseguiu-se equilibrar a balança dos maiores produtos de exportação que eram a soja e feijão. Não basta dizer não, mas tem que existir uma fundamentação, tanto que não vale dizer sim, à penas para salvaguardar interesses de uma minoria elitista detentora do capital. Bom dia.
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     · 1 h
  • Jaime Micael Souto Tembissa Bom dia! Heheheheheheheh
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     · 1 h
  • Maria Margarida Chaves Marques Posse da terra = soberania nacional
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     · 22 min
  • Boa Monjane Manuel Mageta Taque, haverá fundamentação melhor que aquela que os movimentos sociais e organizações da sociedade civil apresentam?
  • Boa Monjane Se este senhor tivesse sido o PR estávamos é na merda Cléo Mafu.
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     · 19 min
  • Cléo Mafu Fudidos e mal pagos. Aquele gajo parece estar frustrado com o pessoal.
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     · 16 min
  • Boa Monjane Kakakakaka. Cléo Mafu, ya você não gosta do sô ministro mesmo
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     · 14 min
  • Cléo Mafu Nada. Ele é q nao gosta de nos. Muchanga nao tera nenhum pobre dele? Fogo...esse nem morto serve para estrume.
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     · 10 min

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