sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Novo ataque à comitiva de Dhlakama massacra 25 pessoas: Cai a máscara

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, saiu ileso numa segunda emboscada a 25 de Setembro na Estrada Nacional 6 (EN6) em Zimpinga, no posto administrativo de Amatongas, (Manica)- uma zona com características semelhantes às de Chibata (subida acentuada e colina na encosta), onde no dia 12 de Setembro, tinha sido metralhada a sua comitiva – numa acção idêntica protagonizada por homens armados trajados à civil. As circunstâncias do novo incidente, que matou 25 pessoas (entre civis e militares), têm gerado descrições contraditórias entre a Renamo, a polícia e os relatos recolhidos junto da população e de testemunhas oculares. Na versão da polícia, agora secundada pelo governo, a culpa é imputada à guarda da Renamo que, numa versão pouco consistente e diversas vezes alterada, atribui o início do massacre aos disparos sobre um “chapeiro” que circulava em sentido oposto, Inchope-Chimoio. O maior partido da oposição rebate a versão e diz que sofreu uma nova emboscada das Forças de Defesa e Segurança visando assassinar o seu líder, Afonso Dhlakama. Segundo apurou o SAVANA no local, setenta e cinco minutos após ter começado a emboscada e junto de testemunhas oculares, às 11:50 horas o “chapa” de 15 lugares que fazia o sentido Inchope-Chimoio cruza com a comitiva da Renamo que descia circulando na faixa contrária (Chimoio-Inchope), quando três roquetes(RPG7) foram lançados de uma colina à esquerda (do chapa) seguidos de disparos de armas ligeiras, com tiros à rajada. O motorista do chapa, Carlos Quipiço Guihole, é atingido e o transporte lotado fica desgovernado e embate na traseira de um camião- -tanque, que estava avariado na mesma faixa de rodagem desde 09:00horas daquele dia. Segundo o jornal desportivo Abola, o motorista é pai da atleta moçambicana Argentina da Glória, radicada na Itália e que brilhou em competições nacionais juntamente com Lurdes Mutola nas provas de 800 metros. Nesta altura, a comitiva da Renamo Novo ataque à comitiva de Dhlakama massacra 25 pessoas Cai a máscara Por André Catueira, em Chimoio pára as viaturas e a guarda responde aos tiros, ao mesmo tempo que os passageiros do semi-colectivo em pânico saem das janelas – fugindo para ambos os lados da estrada debaixo de uma chuva de balas que vinha da mata de eucaliptos existente na zona. Às 12:09 horas recebia a primeira chamada telefónica me alertando sobre o confronto na zona de Zimpinga, pouco antes da Amatonga- -Socer. Às 12:58 horas, já na saída da vila de Gondola a caminho para a zona do ataque, uma viatura da Polícia com oito agentes armados – circulando na faixa contrária – tenta parar a minha viatura e aconselha o regresso à origem, mas conseguimos “furar” o cordão de segurança e continuamos a viagem até ao local. A via já estava deserta, no mercado de frutas na Maforga, a quase sete quilómetros do palco dos confrontos. Camiões, “chapas e viaturas ligeiras inundavam as duas margens da estrada, um camião “Leyland” bloqueava a via, atravessando as duas faixas com a carroçaria, mas um pequeno espaço dava lugar à passagem de uma Land Cruiser de uns fazendeiros que evacuavam as crianças que albergam num projecto humanitário. “Nós vínhamos num chapa do Inchope e cruzámos com a comitiva de (Afonso) Dhlakama e os ataques começaram aí. Os tiros vinham da montanha e o motorista (do chapa) morreu aí, foi atingido, (depois) o chapa foi contra um camião, o camião começou a drenar combustível e começamos a sair da janela já a fugirmos”, disse J que viajava no semi- -colectivo, sem conseguir identificar os atacantes (já com o texto finalizado, esta testemunha, devidamente identificada, pediu-me para não o mencionar pelo nome, temendo represálias). A mesma versão foi dada pelo cobrador do carro. Contou ainda que os passageiros que conseguiram escapar aos tiros, ao acidente e ainda ao perigo de fogo do camião-cisterna, depararam-se depois com um grupo de homens armados, mas vestidos à civil, que lhes indicaram um caminho seguro para saírem do local em segurança, tendo caminhado a pé oito quilómetros mata adentro até uma fazenda, cujos proprietários os evacuaram para o mercado da Maforga, onde o entrevistámos ainda em pânico. Ainda se ouviam os tiros junto à mata, quando contornámos o camião que fazia barreira na estrada e numa marcha lenta seguimos para a zona do ataque. Pelo caminho, homens, mulheres e crianças com trouxas às pelas costas e na cabeça, corriam desesperados, acenando para que não fôssemos naquela direcção. Às 13:24 horas, já no local onde estavam imobilizadas todas as viaturas, viam-se os carros da Renamo perfi- lados, com uma distância de separação (de 30 a 60 metros calculados a olho nu) aconselhável após uma brusca travagem. Um dos carros de transporte de militares da Renamo estava encostado frontalmente ao camião-cisterna abandonado na berma da estrada e vários corpos estavam estendidos no asfalto e nas margens da estrada e bagagem espalhada. Faço as fotos que circularam por todo o mundo, testemunhando o massacre dos homens da Renamo. Fizemos toda a descida através do cenário de horror, até o local onde Afonso Dhlakama estava posicionado com parte da sua guarda – num posto de venda de carvão com uma palhota ao lado e mangueiras – onde estavam a ser assistidos três homens seus feridos por balas. A versão policial “O mais presumível é que a troca de tiros tenha sido entre os próprios militares da Renamo, na sequência do primeiro tiro dado pelo homem que estava atrás da caravana”, afirmou Armando Canhenze, comandante da polícia de Manica. Esta versão contrasta com o que constatámos no local, pelo tiro que tinha quebrado a janela esquerda do chapa e se alojado na parte da cabe- ça e pescoço do motorista, de torso tombado para a frente e os braços segurando o volante, sugerindo que o tiro terá sido disparado da esquerda, ou seja da colina, como tinham antes informado as testemunhas. Outrossim, ao que ainda constatamos, a ser disparado o tiro do último carro da comitiva da Renamo, o atirador tinha de ser incomum, pois na posição em que esta viatura estava (onde a encontrámos imobilizada), não tinha a visibilidade do “chapa”, nem do camião à sua frente, devido a uma curva, seguido de uma acentuada descida. O responsável da Polícia em Manica, num discurso cheio de contradi- ções, disse que o primeiro tiro “assustou os outros, criando pânico no seio do grupo”, o que descreve como uma situação “normal em equipas grandes e desordenadas”, tendo depois ocorrido um acidente entre uma viatura da Renamo e um camião, com a caravana já desorientada e a correr em debandada”. A evidência porém mostra apenas que a viatura da Renamo “descaiu” em direcção ao camião-cisterna, depois dos homens no carro terem também sido atingidos por fogo vindo das bermas da estrada. Armando Canhenze referiu que “ninguém sabia de onde vinha o tiro e cada um começou a dar tiros para todo o lado”, o que sugere uma incompetência militar da guarda da Renamo. Canhenze refutou também a tese de homens armados trajando à civil. “Isso não corresponde à verdade” e que os seus efectivos estão sempre fardados. “Os nossos homens não fazem isso, se é polícia está trajado com o devido uniforme, se é militar a mesma situação, até mesmo os guardas privados são obrigados a trajar os devidos uniformes. É até ridícula a ideia de nós metermos homens armados à civil num local”, disse Armando Canhenze. Armando Canhenze concorda que a Renamo não teria a coragem de atingir civis, “mas disparou porque pensou que existissem militares no local”, referindo como exemplo a sua própria experiência na tropa em que “grupos disparavam contra eles pró- prios devido ao pânico”. Ainda na versão policial, os agentes foram encaminhados para o local com vista a restabelecer a ordem e envolveram-se em troca de tiros com os homens da Renamo, em confrontos que se prolongaram até à noite. A Polícia não esclarece, contudo, quanto tempo precisou para chegar ao local, depois que foi avisada sobre o “abate” do chapeiro. Na emboscada do dia 12 também foram vistos homens armados trajando aà- civil e a população na zona disse que dois dias antes do ataque, militares tinham estabelecido um acampamento próximo da encosta de onde foram disparados os tiros contra a coluna da Renamo. Uma peritagem simples pode estabelecer de onde partiu o tiro que vitimou o chapeiro, assim como os inúmeros corpos recuperados de mortos da Renamo pode determinar o tipo de balas e armas usadas no ataque, assim como a direcção dos tiros. A tese do “choque” com o camião-cisterna é inteiramente falsa já que a viatura estava imobilizada no local desde as 09:00 horas da manhã daquele dia. Os processos-crimes que a polícia diz que vai instruir contra a Renamo, nas circunstâncias testemunhadas, só podem ser “uma fuga para a frente”. Emboscada Uns guardas de uma fazenda pró- xima do local do incidente, que também acenaram com sinais de proibição para não irmos ao local no cerne do confrontos, descreveram ao SAVANA   a ocorrência, ao fim da manhã de sexta-feira, de um intenso tiroteio durante cerca de 15 minutos numa elevação junto à estrada, onde se encontrava imobilizada a comitiva da Renamo. Contaram que 20 minutos antes de passar a comitiva de Afonso Dhlakama, uma viatura Toyota Vigo, de cor branca, que saiu do lado de Amatongas, foi até a colina e deixou um grupo de homens à civil e armas e regressou de imediato na mesma direcção, salientando que inicialmente foram disparados lança-roquetes. A versão dos tiros de RPG7 é con- firmada por Lázaro Guente, único morador que tinha a casa a menos de 15 metros do local da emboscada, que disse, ter confundido o estrondo do rebentamento do RPG7 com algum incidente com o camião ali parado, e que se apercebeu dos confrontos, durante o banho, depois dos disparos de armas ligeiras. No raio do ataque existem apenas nove casas, cada uma bem distante das outras. Quase um quilómetro e meio de cada lado do epicentro dos confrontos existem duas aldeias, Amatonga-Socer e Mutsinzua (no cruzamento de Pindanganga), e quase todas as famílias não se aperceberam antes de algum movimento que chamasse atenção. Tempo depois, disse, os militares da Renamo chegaram na sua casa para evacuar a família para uma aldeia próxima, para evitar vítimas civis, tendo, na companhia de outros passageiros do chapa – que tinham fugido para a direita da estrada – sido escoltados por dois guardas do movimento, pela linha-férrea, até à aldeia próxima, junto às instalações da Associação Tariro (do lado de Mutsinzua). Ana Tenesse, uma anciã surpreendida na sua casa pelos confrontos, con- firma a evacuação da população pelos homens da Renamo, garantindo ter sido levada às costas de um deles até próximo à aldeia onde depois foi largada para caminhar, assegurando que quase todos os moradores já se tinham refugiado lá e a área estava limpa de civis (com excepção de alguns passageiros do chapa que encontramos ainda deitados na encosta da colina à espera de socorro). Na versão do comandante da polícia de Manica, ao aperceber-se da troca de tiros, as populações que vivem nas proximidades abandonaram as suas casas e refugiaram-se nas matas. “Foi instalado um clima de medo na zona e as pessoas só saíram muitas horas depois, por volta das dez da noite”, afirmou Armando Canhenze, acrescentando que, indignadas com a situação, incendiaram oito carros abandonados pela Renamo, que, por sua vez, segundo a polícia, terá destruído duas viaturas civis. Mas um líder religioso, que tinha a versão de vários populares por nós ouvidos, insistiu que as chamas foram vistas pouco depois das 18:00horas, assim que os militares governamentais - que vinham das matas e se concentravam defronte da associação Tariro - entraram em três carros – dois carros da Polícia e um militar - e desceram na direcção onde estavam imobilizados os carros. O mesmo guarda de uma fazenda próxima disse ainda que, até ao fim da noite de sexta-feira, ainda se ouviam tiros e o clarão de fogo junto à estrada, possivelmente de carros a arder, foi visto minutos depois das 18:00 horas, quando a caravana militar desceu para cruzar o local. A Polícia não deteve nenhum popular, envolvido no incendiamento das viaturas, mas, segundo o Armando Canhenze, saiu em defesa das viaturas da Renamo, tendo salvo quatro, incluindo a de Afonso Dhlakama, que foram rebocadas escoltadas pela polícia para Chimoio. Na reacção ao incidente, a Frelimo, partido no poder, descreveu Dhlakama como um fora de lei e terrorista, instando-o a abandonar as armas, enquanto a Renamo acusou o Governo de tentar assassinar o seu presidente. Mortes A Polícia de Manica actualizou na quarta-feira o balanço de mortes para 25 pessoas (quando cheguei no local do ataque sexta-feira contabilizei 9 mortos estatelados pela estrada) entres civis e homens da Renamo, mas o maior partido da oposição confirmou sete mortos dentro da sua comitiva (que inclui militares e staff do líder) e dezenas entre as Forças de Defesa e Segurança. Os corpos das vítimas civis e de homens com a farda verde do braço armado da Renamo foram transportados, ao princípio da tarde de sábado, para a morgue do Hospital Distrital de Gondola, mas devido a sua incapacidade foram encaminhados para o Hospital Provincial de Chimoio (HPC). Na morgue da HPC só deram entrada 12 corpos oficialmente, não se sabendo onde estão os restantes 12, uma vez que apenas um dos corpos, o do motorista do chapa, foi enterrado no domingo último. Armando Canhenze, que não forneceu detalhes sobre as circunstâncias de tantas baixas da Renamo, disse que a polícia está preocupada com a segurança de Afonso Dhlakama, que, segundo afirmou, se encontra em parte incerta. “A operação continua, nós estamos preocupados com o líder da Renamo, que ainda está em parte incerta, talvez sem abrigo e a passar fome”, afirmou o comandante da polícia em Manica. “Queremos dizer ao povo moçambicano que o presidente Dhlakama saiu são e salvo, está em bom estado de saúde, moralmente preocupado com o caminho que nossos detractores escolheram para que fosse seguido no país”, declarou António Muchanga em conferência de imprensa em Maputo. Dados na posse do SAVANA indicam que outros dois militares da Renamo feridos acabaram morrendo sábado, tendo sido enterrados no mesmo dia, num cemitério onde jazem corpos de militares zimbabueanos, mortos durante a guerra civil, na zona de Chicaca (Pindanganga), quase 20 quilómetros a norte do local do acidente. Presume-se que a guarda da Renamo abandonou as viaturas e seguiu a pé para o norte do local do ataque e atravessou o rio Púnguè em direcção à Gorongosa, para a base de Satunjira depois de concluir que não conseguia romper o cerco de que foi alvo pela força atacante na tarde de sexta-feira. Corpos por reclamar Entretanto, a direcção do Hospital Provincial de Chimoio (HPC) assegura que 11 dos 12 corpos, vítimas do incidente do dia 25, que deram entrada na morgue ainda não foram reclamados, quer pelo partido Renamo, quer por familiares. “Apenas um corpo foi reclamado e o funeral foi realizado domingo. Os restantes 11 corpos mantêm-se na morgue e aguardam procedimentos”, disse Albino Alface, responsável da morgue, sem esclarecer se são militares ou civis, adiantando que passados 21 dias (até 15 de Outubro) as autoridades municipais se encarregarão de depositar os corpos numa vala comum. Contudo, o porta-voz da Renamo havia adiantado que a prioridade do partido era retirar os corpos das vítimas e dar-lhes um funeral condigno e que Dhlakama vai continuar a lutar pela democracia em Moçambique. Fugas Na segunda-feira o SAVANA voltou ao local dos ataques e constatou que várias famílias estão a fugir da zona por recear retaliação da guarda da Renamo após a Polícia acusar a população de ter incendiado oito viaturas do partido. Na noite do ataque, a polícia disse que a “fúria popular” terá incendiado as viaturas, tendo as autoridades sa- ído em socorro e conseguido salvar quatro, mas a população rebate esta versão assegurando que as chamas foram vistas depois que uma caravana militar governamental passou do local, após serem recolhidas as quatro viaturas. “Isso é um perigo, o Governo está a vender-nos. Porque a Renamo pode voltar aqui dizer que vocês queimaram nossos carros, os militares (governamentais) estavam aqui e vocês não nos informaram, estavam em conluio”, disse  Lázaro Guente, reagindo à informação da Polícia, bicicleta na mão, com a qual evacuava os seus bens. A maioria da população que se encontrava no raio do ataque, disseram os residentes, foi evacuada pela guarda da Renamo durante os confrontos, para evitar baixas de civis, avisando para se retirar e que seus pertences estariam em segurança, tendo um grupo militar escoltado as famílias até uma comunidade próxima. “Quem teria a coragem de entrar no meio da tropa (governamental) e queimar carros ?” questionou Mateus Francisco com a mesma indaga- ção de Nora Tenesse, uma anciã que foi levada às costas por um militar da Renamo para ser deixada na aldeia. Contudo, a polícia de Gondola, através da comandante distrital Esperança Calisto, citado pela Rádio Moçambique, tem estado a apelar, sem sucesso, à população para regressar às suas casas, e que a corporação tem estado a trabalhar para garantir a sua segurança. Escoltas Sugerindo um largo saudosismo das escoltas de Muxúnguè-Save, a polí- cia de Manica conduziu em coluna algumas dezenas de viaturas na noite da sexta-feira entre Gondola e o Inchope, num percurso de quase 40 quilómetros, só para se passar na zona do ataque. O trânsito na Estrada Nacional 6 (EN6), que tinha ficado interrompido desde as 12:00 horas de sexta- -feira, só voltou a ter uma circulação normal às 17 horas, mas as viaturas circulavam condicionadas, enquanto a Polícia recuperava os corpos e tomava conta das viaturas abandonadas. A situação ficou normalizada na manhã de sábado.

Antes de se refugiar em parte incerta
Dhlakama insiste no diálogo
Na única entrevista concedida após o ataque, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama considerou “lamentável a aposta da Frelimo num ataque” à sua comitiva, mas assegurou que não se vai vingar. “Como já disse, Deus existe. Mas é bonito assim, e que estejam a fazer assim [emboscadas], porque, no dia que a Renamo  declarar ou pretender declarar a guerra mesmo no país, ninguém irá nos condenar”, afirmou Afonso Dhlakama no local da emboscada, visivelmente preocupado com a situação. “Quem responde em defesa à vida não está a fazer guerra. Portanto naquele dia 12 respondemos e todo o mundo esperava que a Renamo reagisse, nós não reagimos, assim como aqui (Zimpinga, a 25), continuo a dizer que não me vou vingar disto, porque já me vinguei durante 16 anos e não é hoje que me vou vingar desta brincadeira”, declarou Afonso Dhlakama, enquanto se ouviam novos disparos durante a entrevista. Ele garante que eram os seus militares em perseguição de um atacante. Dhlakama referiu que não se vai vingar do ataque para não criar o caos no seio da população, mas avisou à Frelimo “para parar, porque isso é uma brincadeira de mau gosto”. “Nunca pensei que depois de 23 anos da “paz, entre aspas, a Frelimo em pleno dia fosse nos atacar”, afirmou Dhlakama, que ainda no local tentava desdobrar a sua guarda para criar um cordão de segurança, pela ameaça de uma nova investida de “militares que vinham em cinco carros civis 4x4 em socorro dos atacantes”. O SAVANA viu quatro carros, que estavam a uma distância mé- dia de 150 metros do local onde Afonso Dhlakama concedeu a entrevista. Mas depois de mandar os seus comandos para vasculhar os carros, estes recuaram apressados. Além dos mortos no local, o SAVANA testemunhou ainda a existência de civis feridos, em número não contabilizado, alguns dos quais com marcas de balas. Havia também, na encosta junto da via, de onde terá partido o alegado ataque, vários civis, que permaneciam deitados, à espera de socorro. “É guerra, em guerra morre-se e fere-se”, comentou Afonso Dhlakama, referindo que os tiros saíram de uma elevação próxima da estrada e que os seus homens apreenderam três armas, uma das quais uma AK47, um carregador com munições e uma arma lança roquetes RPG7, que disse pertencerem às forças estatais “porque as minhas eu entreguei à Onumoz em 1992”. Os homens da Renamo, descreveu, responderam aos tiros e entraram mata adentro em perseguição dos supostos atacantes, acrescentando que, “se não fugissem, seriam capturados à mão” e que os ataques estão a “estão a fazer morrer os filhos do dono”. Dhlakama apelou para que o presidente moçambicano, Filipe Nyusi, leve a sério a actual situação e pare os ataques. “São filhos de população inocente que estão a apanhar tiros, mas isso tem de terminar, porque como eu disse que a morte do (Afonso) Dhlakama não signifi- ca o fim da Renamo, porque se calhar é para acelerar com a vitória de Dhlakama com a revolução, porque a Frelimo não pode pensar que a morte do Dhlakama é apanhar tiro, é enterrado e a situação mantém-se assim, não”, declarou, insistindo que não tem medo de morrer, mas com a sua morte poderia entrar quem não tivesse a sua paciência. “Ele, Nyusi, é que me roubou votos, ele é que me atacou e nem tem capacidade militar”, afirmou o presidente do maior partido de oposição, insistindo que, apesar da emboscada, os seus homens conseguiram “correr com eles [os alegados atacantes]”. “Quero aproveitar apelar ao (Filipe) Nyusi para que de facto tome em consideração que não pode brincar, aquele senhor (Nyusi) é jovem e é criança. O povo de Moçambique e o Dhlakama são filhos de alguém, e esses que estão com Dhlakama são filhos de pessoas, e esses que nós capturamos suas armas são filhos de pessoas”, insistiu apelando ao diálogo. Sobre a interrupção rodoviária no troço Beira-Machipanda, levando a longas filas de camiões e transportes públicos na região da Maforga, o líder da Renamo afirmou que “estão a criar instabilidade nas estradas, mas há pessoas que querem passar da Beira para Chimoio, isso é retardar o desenvolvimento, mas é a Frelimo que diz querer a paz, é a Frelimo”.

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