quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Trump ridiculariza incapacidade física de jornalista do The New York Times

Durante um comício, o candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano agitou os braços numa imitação de Serge Kovaleski, que sofre de artrogripose múltipla congénita.
A direcção do jornal diz que o comportamento de Trump foi "ultrajante" RANDALL HILL/REUTERS
O magnata norte-americano Donald Trump envolveu-se numa nova polémica, ao imitar a deficiência física de um jornalista do The New York Times que sofre de uma doença congénita.
Durante um comício no estado da Carolina do Sul, o candidato ao lugar de representante do Partido Republicano para as eleições de 2016 voltou a falar sobre uma outra polémica – a sua afirmação de que viu "milhares e milhares" de árabes a festejarem no estado de Nova Jérsia o atentado de 11 de Setembro de 2001 contra o World Trade Center, em Nova Iorque.
À falta de registos em vídeo e de testemunhos credíveis que comprovem a sua afirmação, Donald Trump tem citado um artigo publicado pelo jornalWashington Post no dia 18 de Setembro de 2001, assinado pelo jornalista Serge Kovaleski, que sofre de artrogripose múltipla congénita – uma doença que se caracteriza por contracturas articulares múltiplas.
"O Washington Post escreveu um artigo (…) que foi escrito por um bom jornalista, mas agora esse jornalista – têm de o ver a dizer 'Não sei o que disse, não me lembro!'", disse Trump, enquanto agitava os braços a imitar manifestações físicas que podem ser causadas pela doença que afecta Serge Kovaleski.
A direcção do The New York Times (onde Kovaleski trabalha actualmente) classificou o comportamento do candidato à Casa Branca como "ultrajante", e o jornalista disse ao Washington Post que não ficou surpreendido por Donald Trump ter feito "algo tão baixo, tendo em conta o seu historial".
O parágrafo da notícia publicada a 18 de Setembro de 2001 que tem sido usada por Donald Trump para defender a sua tese de que "milhares e milhares" de árabes festejaram os atentados terroristas não cita qualquer fonte: "A polícia deteve e interrogou várias pessoas que foram alegadamente vistas a festejar os ataques e a organizar festas em telhados enquanto assistiam à devastação do outro lado do rio."
O rumor de que os atentados terroristas tinham sido festejados pela comunidade árabe da cidade de Paterson, no estado de Nova Jérsia, começou a circular logo após a queda das torres gémeas, e os desmentidos também não tardaram – há registos de desmentidos de um dos responsáveis da polícia de Paterson e do mayor da cidade logo no dia 12 de Setembro de 2001.
Nos últimos dias, o jornalista Serge Kovaleski tem publicado e partilhadovárias notícias que desmontam a afirmação de Donald Trump, tornando-se num dos alvos preferidos do candidato do Partido Republicano.
De acordo com os registos disponíveis, não há qualquer indício de que "milhares e milhares" de pessoas festejaram em Nova Jérsia o atentado contra o World Trade Center — no dia 11 de Setembro de 2001 as estações de televisão norte-americanas transmitiram imagens de celebrações supostamente protagonizadas por palestinianos na Cisjordânia. No dia dos ataques, o então líder da Autoridade Nacional Palestiniana, Yasser Arafat,condenou os atentados terroristas, que mais tarde vieram a ser reivindicados pela Al-Qaeda.
Donald Trump ainda não reagiu publicamente às críticas de que foi alvo por causa da sua mais recente polémica (uma das muitas que tem criado e alimentado, e que lhe dão, por enquanto, a liderança em várias sondagens entre os candidatos do Partido Republicano). Na quarta-feira partilhou várias mensagens na sua conta no Twitter com críticas à gestão e à qualidade jornalística do The New York Times.
Apesar de Trump estar na liderança das sondagens, é prematuro fazer previsões sobre o resultado de um processo eleitoral que só vai começar em Janeiro, assentes em inquéritos feitos a poucas centenas de pessoas (400, no caso de uma sondagem NBC/Washington Post) — e quando sete em cada dez apoiantes do Partido Republicano que vão votar nas primárias dizem que ainda não escolheram um candidato, segundo uma sondagem CBS/The New York Times.
É por isso que nomes como Jeb Bush e Marco Rubio têm ainda tempo para recuperar, até porque muitos dos candidatos menos bem posicionados nas sondagens (nove deles não ultrapassam, em média, os 5% nas intenções de voto) vão desistir da corrida até Janeiro ou no final das primeiras votações, nos estados do Iowa, do New Hampshire e da Carolina do Sul, o que obrigará os seus actuais apoiantes a procurarem outro candidato.

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