segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Das purgas pós-Samora ao “empoderamento” económico ilícito

Passos gigantescos foram dados.

Agora fala-se da volatilidade cambial do metical, e abundam analistas que dissertam sobre a matéria. Uns com mestria, e outros de forma ostensivamente medíocre
E a mediocridade em geral sai do Banco de Moçambique, lugar de onde deveriam sair as estratégias visando fazer frente aos desafios de uma economia frágil e fragilizada pelos apetites vorazes da elite local.
Fala-se de EMATUM agora, mas há já muito tempo o Tesouro tem sido saqueado e entregue ou repartido entre os “camaradas”.
Existe todo um caminho que foi seguido para se desembocar neste beco com saída muito complexa e difícil.
Volatilidade do metical “versus” volatilidade política é e está na ordem do dia. Sem consensos políticos que poderiam trazer normalidade e disciplina financeira, continuar-se-á viver de remendos inconsistentes e infrutíferos.
Já até se tentou importar agricultores comerciais experientes da África do Sul e do Zimbabwe, mas isso não funcionou.
A indústria ligeira e alimentar, a de bebidas, foram astuciosamente falidas. Depois que faliram, foram adquiridas a custo quase zero, para logo serem negociadas ou servirem de acções em lucrativas “joint-ventures”.
Quem não viu isso acontecendo? O BM não tem conhecimento disso?
Ou, na verdade, faz parte da mesma máquina que sustentou a emergência de um empresariado nacional fictício? Não fictício porque não exista, mas sim porque não produz.
Confiança política e camaradagem substituem competência num processo que começou a ser desenhado logo que Samora Machel morreu.
Primeiro começou com uma purga interna na Frelimo, de todos os elementos “esclarecidos” que poderiam questionar os detentores do poder do momento. Numa acção aparentemente pacífica, mas firme e concertada, toda a “fauna brilhante e acompanhante” de SMM foi sendo substituída e colocada na reforma e na reserva compulsivamente.

Era o maquiavelismo em marcha, e até aqui não parou de revelar-se instrumental para o “Empoderamento” Económico Negro. No caso moçambicano, esse EEN deve ser chamado EENI, “Empoderamento” Económico Negro Ilícito, pois essa é verdade.
Quem distorce o mercado através da criação de uma “holding” de um partido que ganha tudo o que seja concurso sem concorrer, tem objectivos concretos. E quem, ao nível do parlamento, não questiona a metodologia utilizada, é simplesmente cúmplice. Ninguém está contra a correcção de injustiças históricas, mas é preciso acautelar os interesses nacionais e não fomentar a proliferação de “piratas vermelhos”.
O assunto “Moçambique” foi sempre uma mistura de assuntos.
Trazer para a mesa as explicações que ligam a volatilidade cambial que se regista a uma conjuntura internacional adversa é “fugir com o rabo à seringa”. É parcialmente verdade, mas importa não omitir que décadas de gestão danosa e até criminosa levaram o país à presente situação.
Num exercício de manifesta emulação da mediocridade, viu-se um Governo nomear “quadros” que eram, de facto, giz. E a sua manutenção em cargos sensíveis como o do governador do Banco de Moçambique está-se revelando fatal.
Sempre apanhado em contrapé, ou querendo vender uma imagem que não corresponde à realidade, é preciso dizer que Gove já durou bastante e que deveria ir para a reforma.
Houve uma tentativa de impor critérios, alguns deles até raciais, para certas nomeações estratégicas, e não interessa que alguns o neguem, porque é a mais pura verdade. É preciso aproveitar a experiência e o passado histórico comum para desmistificar essa coisa de moçambicanos de origem ou de gema, e os outros. Esse foi um golpe urdido por quem não queria empecilhos na sua voraz ofensiva de enriquecimento privado.
E aqueles que, do seio da Frelimo, não alinhassem com o seu discurso e agenda, eram sacrificados na praça pública por fazedores de opinião contratados para o efeito. Que o diga Sérgio Viera, pois sentiu isso na pele e na carne. Marcelino dos Santos, talvez pelo peso da idade, se tenha cansado e calado no processo.
Se a Primeira República viu uma determinada minoria bafejada pela sorte de estar nas graças do então líder, menos verdade não é que parte desta minoria possuía “know-how” que justificasse as posições que ocupava. Alguns deles eram meramente “caciques políticos” sem expediente nem estofo para exercer os cargos que detinham.
Eram tempos em que a militância e a “escova”, acompanhada do bombardeamento com elogios “engordavam” o todo-poderoso chefe e constituíam as armas preferidas para as pessoas se governarem na vida.
Viram-se muitas coisas, algumas delas até chocantes, mas importa referir que se aprendeu com pessoas e com erros de pessoas. Não há moçambicanos de gema com direitos especiais, e outros de segunda. Se o colonialismo português foi valentemente combatido porque discriminava, não se pode permitir que ressuscite.
A “indigenização” forçada e rápida não foi ditada por razões ou critérios de competência, mas por uma questão de assumir e consolidar o poder herdado após a morte de Samora
Machel. Manter certas pessoas no Governo ou em posições de poder na Frelimo jamais teria permitido a Joaquim Chissano afirmar-se como PR e introduzir a sua política de “deixa-andar”. É visível que o surgimento das alas na Frelimo acontece após a morte de Machel.
Substituir competência técnica e experiência pela confiança política foi o pontapé de saída para um jogo que tem arruinado o país.
Quando Armando Guebuza ascendeu ao poder, fê-lo com mestria, temos de reconhecer. Maquiavelicamente, reorganizou os órgãos centrais da Frelimo e desfez-se rigorosamente de toda a “sombra”.
Joaquim Chissano, colocado na presidência honorária da Frelimo e sem os seus seguidores ou apoiantes no CC e na poderosa CP, começou a “ver navios”. Mas, astuto que é, aceitou a “travessia do deserto” e jamais se reformou da política activa.
Mas agora, com a presente e complexa conjuntura política, económica, financeira, climática, tudo se complica e exige criatividade e engenho político.
Esta conjuntura, ao invés da rendição, nos parece dizer o governador do Banco de Moçambique, é preciso primeiro produção política, para impedir que nova guerra ecloda, e, depois, consensos estruturantes que coloquem as coisas no lugar na esfera económica e financeira.
É preciso aprender de quem sabe e deixarmo-nos de demagogias.
Há que equacionar políticas e comportamentos e haver capacidade e coragem de aprendermos a colocar os cargos à disposição, sempre que se revele estratégico. Quem não consegue produzir resultados e concorre para desempenhos sofríveis na dispendiosa máquina governativa, demita-se.
Não é preciso revolução cultural para vermos isso acontecendo.
Mas uma coisa é certa, despartidarização do Estado é a pedra-toque. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 08.02.2016

Assimetrias Regionais

(Elementos de Autocrítica) 
Por Capitão Manuel Bernardo Gondola
O país começou a perder impulso. Os falhanços económicos tornaram-se frequentes e as dificuldades começaram a acumular-se e a deteriorar-se, enquanto se multiplicam os problemas não solucionados. Factores do que denomino por paralisação e outros fenómenos estranhos ao desenvolvimento começaram a surgir na vida da sociedade. 
Analisando a situação; dentre os problemas que mais castigam os moçambicanos avultam na área económico-social. Dai vários sinais preocupantes, entre os quais o aumento da criminalidade, ou de certas das suas formas; o consumo e o tráfico da droga, e, em termos deploráveis, o recurso à corrupção, ao suborno e a outras múltiplas maneiras de obter lucros. 
A crise económico-social tem vindo também a gerar um clima generalizado de medo e insatisfação. Sobre esta questão, dois pontos merecem expressa referência: 
O desemprego e desigualdades socias e culturais. 
O desemprego, é um flagelo social intolerante, como negação que é direito ao trabalho, um dos direitos humanos fundamentais. Logo, a pessoa que não tem possibilidade de encontrar um lugar de trabalho na sociedade em que vive fica em situação gravíssima uma vez, não ganha sustento; porque se sente inútil e frustrado (insatisfeito); porque não se vê integrado harmoniosamente na sociedade, muito naturalmente erguerá as suas críticas e protestos, uma vez ficará à mercê de toda uma série de tentações perigosas. 
O trabalho é uma necessidade urgente, estou convencido de que as pessoas, tal como me acontece, se preocupam com o futuro então qualquer demora na solução deste problema poderá conduzir, o país num futuro muito próximo, a crises sociais, económicas e políticas muito sérias. De modo que, o Governo, os Partidos políticos e parceiros sociais, todos são nisto partes integrantes, acautelando porém, que se não diminua a especifica responsabilidade do poder político o garante do bem comum para todos os moçambicanos sem discriminação de qualquer espécie. 
No entanto, a riqueza do nosso país em termos de recursos naturais e não mão-de-obra estragou-nos e, até certo ponto nos corrompeu. Acostumados a dar a prioridade ao crescimento económico quantitativo, a medida que o tempo foi passando, os recursos tornaram-se mais difíceis de obter e dispendiosos. Destarte, a inércia de um desenvolvimento económico extensivo tem levado a nossa economia a um beco sem saída e, à estagnação.
Ao lado, o país é muito desigual no tocante ao desenvolvimento económico, social e cultural. Certamente, podem surgir questões ligadas ao conceito de desenvolvimento. 
O que entendemos por desenvolvimento e em que sociedade devem ou podem desenvolver-se e, em que direcção? O envolvimento com esta questão impõe uma análise reflexiva e normativa muito ampla cuja estrela guia dessa investigação é, a velha questão da justiça ou (da redistribuição equitativa dos recursos valorizados).
Além disso, a questão das assimetrias não tem sido objecto de políticas justas de redistribuição, antes tem sido abandonadas aos efeitos do mercado do desenvolvimento. Divulgação de padrões de consumo, de comportamentos e de moralidades, por mídias com manifesto desrespeito pelas populações e expressões que atenta suas culturas, desrespeito a costumes e tradições locais fonte de inspiração de valores inscritos na matriz da consciência profunda na original estrutura do ser moral e espiritual. 
De um lado, o materialismo e o consumismo dos nossos dias são absolutamente contrários às ideias da nossa tradição (legado). A obsessão do prazer físico e da diversão, já conduziram à morte do espírito, à endurecimento do amor fraterno, à capacidade do sacrifício generoso pelo bem próprio e pelo dos outros e, à inversão dos grandes princípios por que a vida humana se deve regular. 
Por ventura, as nossas limitações culturais, só agravaram em grande medida a fragilidade das nossas populações inteiras perante o choque dos estilos e formas de vida que lhes são apresentadas pelos estratos mais favorecidos pelas comodidades ou pela fortuna. 
Por outro lado, a televisão quer pública e privadas, sob pretexto de se mostrar comparável há outros países ditos «modernos» vergonhosamente se encarregam de nos brindar em larga quantidade o que mesmo nos seus países é falsa e simples o rosto negativo da civilização. 
Por tudo isto, a crise de coesão e da moralidade familiar, é pois um facto sobretudo nos meios urbanos. Ela é consequência de uma falsa ilusão, porque se pensa hoje no país que a felicidade se obtém indo atrás do que é imediamente agradável aos sentidos. 
Considerando tudo isto, importa e temos que nos unir na luta contra o hedonismo da sociedade consumista e materialista. É verdade, que necessitamos de condições normais para o nosso progresso pessoal, mas também queremos uma sociedade livre de violências, e não apenas por serem estas as condições óptimas para o nosso progresso pessoal. É uma necessidade objectiva derivada da realidade dos nossos dias. 
A meu ver, esta sociedade está perigosamente nos condenando à decadência. Como consequência vemos a falta de respeito pela vida humana desde o momento da sua concepção até a morte natural. Hoje afirma-se claramente que ninguém pode sobrepor os seus prazeres ou interesses às leis da vida, antes devem subordinar-se a elas. 
Hoje no país, não é preciso ser-se profeta da desgraça nem pessimista antigo para constatar que a nossa sociedade actual, tanto investiu em progresso, está ameaçada de autodestruição em que por vezes parece, que as referências do valor ficaram de tal maneira totalmente extintos que nem sequer ao esforço honesto é atribuída justa recompensa. 
Você vê, sob nome de uma liberdade mal compreendida, tudo se tolera e se deixa passarem em nome talvez de um certo comodismo; tanto que, não se assumem as questões de princípios e, ou, normas e não se travam as indispensáveis batalhas pelo justo, pelo bem, pelos direitos das pessoas e, até pela moralidade pública ou da coisa pública. 
Então, não é possível uma sociedade bem ordenada e progressiva se, em vez de estimular as justas recompensas para que se faz o bem e positivo, ela responda como acontece hoje apenas na indiferença. É sustentável (justificável) uma sociedade bem ordenada e progressiva, se comportamentos, tanto pessoais como sociais (colectivos), sempre que ofensivos das regras imprescritíveis da moralidade, não mereçam sanção justa, pronta e eficaz. 
Esta é a questão, fundamental a da moralidade e da justiça públicas. E se assim for o sistema que a suporta se manterá bem estruturada. Então, em épocas de crises, como esta só assim a sociedade poderá renovar-se e reagir, defender-se e orientar-se. 
Destarte, transformaremos as acções erradas em hábitos elevados, interromperemos o ciclo de repetição dessas atitudes e começaremos a experimentar uma influência benéfica nos nossos pensamentos, nas palavras e consequentemente nos relacionamentos familiares, na disputa entre partidos políticos e políticos, na escola e amizades. 
Considerando tudo isto, o tempo passa a correr e não deve ser desperdiçado. Temos de agir. A situação não nos permite esperar pelo momento ideal. Certamente, é para uma atitude cívica e moral que se torna indispensável apelar. Devemos, com urgência sacudir-mos essa espécie de torpor (apatia) em que as circunstâncias nos vão enredando. Pelo que; não podemos como sociedade de homens de bem, como povo, deixar que a descrença nas instituições, o pessimismo acerca da política, possa corromper ainda mais o ambiente social em que nos movemos. 
Contudo, para vencermos dificuldades o recurso por parte de todos e de cada um, as virtudes individuas, familiares e sociais. Destarte; temos que acreditar que é possível construir uma sociedade melhor, de ter esperança no futuro e de, uns com os outros, ser fraternos. Nesta atitude haveremos de ser fortes e justos. Depois, o bem e a justiça salvar-nos-ão. 
N/B: 
Há também quem ache que a desorientação da nossa sociedade; Paulina Chiziane está aí, pode nos ajudar a compreender; deriva exactamente de que, nós recusamos alguma coisa que se chama de formação da tradição (cultura), que tem a ver com a nossa própria herança. Que pode ser uma herança muito próxima, mas que também pode ser uma herança formada ao longo de muitos séculos. E, na medida em que, esse legado (tradição), não é transmitido por aqueles que o viveram e nem recebido por aqueles que o deveriam receber, então, temos esse carácter meio instantâneo do presente, que tem as suas vantagens mas, também tem suas desvantagens. Algo que a tradição, ela é formadora. A tradição, ela pode pesar como uma limitação (tabu) mas, ela também pode contribuir como uma formação do presente e, não só... 
Então, há que se considerar a tradição, há que se dar o devido peso para as duas coisas: A tradição e a modernidade. 
E falando de política. Se eu fosse político, eu faria da Paulina Chiziana, Ministra da Cultura. Talvez isso fosse fatal, talvez anulasse a capacidade que ela tem de inventar coisas, articular, de promover. Então, Paulina Chiziane, leve isso em conta só como uma homenagem mas não como propósito. 
Muito Obrigado
(Recebido por email)

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