quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Homens armados da Renamo: um discurso de legitimação

Quando o assunto é a instabilidade politico-militar do país, o que mais me preocupa não é a Renamo nem os seus homens armados. O que mais me preocupa não são os ataques que acontecem aqui e acolá. Se aqueles moçambicanos que estão a viver ao relento, no Malawi, são refugiados ou se são camponeses que foram mendigar sementes, isso também não me preocupa tanto. O que, de facto, me preocupa é a tentativa de legitamação do que a Renamo faz ou deixa de fazer.
Parece-me que atribuir os ataques armados que acontecem pelo país à Renamo está a virar um discurso de legitamação do comportamento da Renamo. Ou seja, parece-me que o governo quer-nos convencer de que o que a Renamo faz é obra do destino e, por isso, é legitimo que o faça. Parece-me que o governo assumiu que falando isso o povo vai entender as suas limitações e vai dormir em paz. Soa a um discurso de consolo ao próprio governo e ao povo. Do tipo “os ataques são perpertrados pelos homens armados da Renamo e, como vocês sabem, a Renamo é uma desgraça que Deus nos enviou e, por isso, vamos esperar que Deus venha resolver”. E prontos. Faxavor! Só falta dizer que a seca que assola o sul do país é culpa da Renamo; e daí cruzar os braços.
Dizer que a “Polícia sabe onde os homens armados da Renamo estão, o que estão a planear, e que tem acompanhado as suas movimentações e só está espera da hora certa” é no mínimo bíblico. É como se estivéssemos a padecer de uma doença crónica e só o avanço da medicina pode nos salvar - não se sabe quando - ou, então, só Deus sabe quando vamos morrer. Parece um discurso de conforto. Um discurso de quem não sabe mais o que fazer. Um discurso de legitimação à derrota. É muito preocupante ver o presidente Nyusi, o ministro Monteiro, o comandante Khalau, o porta-voz da Polícia, e afins discutindo o sexo dos anjos esquivando-se do mais importante. É preocupante ver que o Conselho de Ministros virou uma igreja onde se ora pela chegada do Messias.
- A Renamo é culpada, sim! Mas a questão é: E agora?

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