domingo, 1 de maio de 2016

“O Obama está no ir”. Quem se segue no jantar dos correspondentes?


Donald Trump não esteve presente no tradicionalmente bem-humorado evento da classe política e jornalística de Washington. Mas por lá andou a pairar. Barack Obama, Presidente-comediante cessante, não ignorou as polémicas em torno do candidato republicano. Mas também não poupou Hillary nem Sanders.
Obama no jantar dos correspondentes, este sábado em Washington. REUTERS/YURI GRIPAS
Foi o último jantar dos correspondentes na Casa Branca de Barack Obama e – o Presidente norte-americano assume o receio – “talvez o último jantar dos correspondentes”. Num ano de deboche na política norte-americana e com Donald Trump a ser o ausente mais presente, o chefe de Estado suspirou e brincou: "o fim da república nunca teve tão bom aspecto". Este sábado, no tradicional e bem-humorado evento que reúne anualmente os jornalistas de Washington, boa parte da elite política e ainda caras conhecidas das artes e entretenimento, Obama mostrou de novo algo que provavelmente não voltaremos a ver tão cedo: um Presidente com piada. Ou com bons argumentistas por trás.
Em ano de eleições, a oposição republicana foi naturalmente o principal alvo do Presidente democrata. E Donald Trump o mais fácil. Obama ironizou sobre as credenciais políticas, e sobretudo diplomáticas, do candidato que lidera as primárias republicanas, como quando defendeu a experiência do milionário nas relações internacionais: “Passou anos a encontrar-se com líderes de todo o mundo: a Miss Suécia, a Miss Argentina, a Miss Azerbaijão…”
“E há outra área em que a experiência de Donald pode ser inestimável: fechar Guantánamo. Isto porque Trump sabe umas coisas sobre falir empreendimentos à beira-mar”, disse numa alusão aos repetidos investimentos falhados do magnata do imobiliário. Era também uma auto-crítica e o reconhecimento tácito do incumprimento de uma promessa com oito anos – o encerramento da prisão militar norte-americana nas Caraíbas, uma terra de ninguém do direito internacional onde suspeitos de terrorismo enfrentam violações de direitos humanos.
Outra alfinetada no Partido Republicano a propósito do desconforto em relação ao iminente apoio a Trump como candidato presidencial e à falta de alternativas sérias (Ted Cruz) ou mobilizadoras (John Kasich). “Perguntámos aos convidados se queriam carne ou peixe, e em vez disso muitos de vocês escreveram Paul Ryan”, disse sobre o speaker da Câmara dos Representantes, figura apontada como uma improvável solução de último recurso para travar Trump na convenção de Julho em Cleveland, no Ohio.
Mas também houve bocas para Hillary Clinton e Bernie Sanders, os democratas que ainda disputam a nomeação nas primárias do partido de Obama. “Hillary a tentar apelar aos jovens eleitores é um bocado como aquele vosso familiar que só agora chegou ao Facebook: ‘Querida América, não recebeste o meu poke? Não aparece no teu mural? Não sei usar esta coisa”, disse sobre o tom morno da campanha da antiga primeira-dama.
Para Sanders ficou reservada a tirada mais simpática: “Foi operado recentemente a uma hérnia. Os médicos dizem que a culpa é dele, que anda a tentar elevar a esperança dos excluídos. Tem de fazer alongamentos primeiro, senador”. Uma demonstração de respeito por um político veterano ou o reconhecimento do entusiasmo que, ao contrário de Hillary, o senador do Vermont gera naquele que também foi, em boa parte, o seu eleitorado?
Obama também se colocou à frente da mira. Pode dar-se ao luxo de fazê-lo, tendo em conta os elevados índices de popularidade após oito anos na Casa Branca. “A última vez que estive tão em altas (high – 'pedrado', numa tradução livre) foi quando estava a tentar escolher o curso”, brincou. Queixou-se de já não ser respeitado: “Na semana passada, o príncipe George chegou ao nosso encontro de roupão. Que chapada de luva branca…”. Nem ouvido: “Há oito anos, disse que era tempo de mudarmos o tom da nossa política. Em retrospectiva, claramente deveria ter sido mas específico”.
Foi aplaudido, pelo menos. Sai por cima e despede-se como se tivesse vencido uma batalha de rap. “O Obama está no ir”. E larga o microfone. Boom. Resta saber quem o pega em 2017.
As melhores piadas de Obama nos sete anteriores jantares dos correspondentes:

      

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