quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Curtíssimo intervalo

Editorial - Curtíssimo intervalo

Salvo melhor interpretação, tudo parece indicar que os principais líderes políticos moçambica­nos continuam determinados a, ciclicamente, re­petir os mesmos erros, quando podiam, querendo, experimentar novos e diferentes.

Tudo indica, por assim dizer, que desta vez o intervalo das hostilidades armadas será curto, aliás curtíssimo, comparado com aquele que durou per­to de 21 anos, se nada de sério e rápido for feito.

Alguns dirão que sou pessimista, mas como em momentos anteriores, alertas destes não faltaram, porém foram ignorados e deu no que deu. Pena que depois de centenas de cadáveres plantados na terra os responsáveis dos grupos dinamizadores da guerra se sentam, conversam, assinam pactos de paz (podre) e convivem, enquanto os “pobres coitados” já perderam os seus entes queridos e bens materiais e nem são tidos nem achados.

Nos últimos tempos renovados sinais dão a entender que Moçambique parece caminhar, de novo, a passos largos PARA mais uma confrontação militar, senão vejamos:

- fala-se de agrupamentos e reforços de con­tingentes militares do Governo em diversas regiões do país, com maior enfoque PARA o Centro (dirão alguns que é legítimo exercício governamental).

- há dias multiplicou-se um “bate-boca” por causa da VISITA do vice-ministro do Interior, José Mandra, ao acampamento de onde em 21 de Outubro de 2013, depois de lá viver exactamente um ano, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, foi afugentado, a tiros, por uma coligação das Forças de Defesa e Segurança (FDS), em Sadjundjira. De novo, os legalistas dirão que se trata de um exercício legítimo do Governo.

- foi noticiado que os “homens armados resi­duais da Renamo” impedem a circulação de pes­soas e bens nas zonas sob sua influência/controlo (eles alegam que desconfiam das reais intensões de algumas delas).

- inevitavelmente, de seguida surgiram acusa­ções de parte a parte (Governo/Renamo) de viola­ção do pacto de cessação das hostilidades celebrado a 5 de Setembro deste 2014 pelo ACTUAL Chefe de Estado, Armando Guebuza, e o líder da Renamo (seguido de uma animada patuscada de ambos e outros convivas na Presidência da República).

- ... e quando alguns políticos tanto da Renamo como do Governo/Frelimo (mesmo os que se acredi­tava serem “RESERVASmorais” sociais) cada vez que abrem a boca, na media, falam apenas babozeiras que só atiçam o ódio e animam a violência que cau­sará vítimas e mártires apenas a filhos dos que (quase) em nada se beneficiam das riquezas deste Moçambique.

- Esta quarta-feira Dhlakama orientou um comício na Beira, CAPITALda sua sempre fiel província de Sofa­la, PARA repudiar os resultados das eleições de 15 de Outubro passado publicados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo Secretariado Técnico de Adminis­tração Eleitoral (STAE) que o dão como derrotado, pela quinta vez consecutiva, desta frente a Nyusi, o Filipe, do partido Frelimo, que deverão ser homologados nos próximos dias pelo Conselho Constitucional (CC).

- Dhlakama diz que o comício da Beira foi o “pon­tapé de saída” de outros que tenciona orientar pelo país fora, PARA “agradecer o voto em si depositado pelo povo” no escrutínio de Outubro.

E MAIS, o líder da Renamo vem agora dizer que rejeita o estatuto de “Líder da Oposição”, por se tratar de uma artimanha da Frelimo/Governo para acomodá­-lo e fazê-lo resignar de “lutar pelo povo”.

“Esse estatuto de líder da oposição não é para mim. Pode ser até para Nyusi”, diz Dhlakama que se afirma vencedor das eleições e farto de ser “empurra­do” sempre que se prepara para se sentar na poltrona de Chefe de Estado de Moçambique, depois de assim ter sido eleito pelo povo.

“Com assessores, gabinete e carro pensam que posso esquecer o meu povo e ficar em Maputo acomodado, não é esse o Dhlakama, porque aqui na Beira e lá no norte pensam que ‘o nosso irmão (Afonso Dhlakama) vai ser comprado, vai ser líder da oposição’, isto não é o Dhlakama”, extremou o líder da Renamo.

- Dhlakama vai mais longe e promete formar Governo em Janeiro e diz que jamais baixará os braços, e avisa: “sei lutar. Sei lutar”.

Vale recordar que em 5 de Setembro de 2015, em plena sala magna do novel edifício da Presidência da República de Moçambique, Dhlakama avisou, alto e bom som, não estar disponível para negociar e/ou assinar um terceiro acordo de paz...

Posto isso, parecem estar mais que reunidos todos os ingredientes necessários PARA uma nova carnificina em Moçambique, porque o Nyusi, segundo a CNE e o STAE, eleito futuro PR de Moçambique com 57,03%, também, de facto, estará já a esboçar (senão mesmo já a fazer CONSULTAS) PARA formar o seu Gabinete, e não vejo coabitação alguma de dois executivos antagónicos nesta chamada Pérola do Índico.

Porque a mim não interessa um cenário de guerra, muito pelo contrário, como sempre digo quando faço este tipo de ALERTAS, termino fazendo votos sinceros de estar flagrantemente equivocado.

PS

- Para completar o quadro temos os sucessivos raptos e sequestros nas grandes cidades de Moçambique, com destaque para as de Maputo e Matola;

- Temos a multiplicação crescente de casos de roubos de viaturas e propriedades, não raras vezes “apimentados” com agressões físicas e violações sexuais;

- E, por enquanto, o conflito diplomático (que pode resvalar para outras modalidades) por causa da disputa fronteiriça (marítima) com a vizinha República da África do Sul, hoje governada pe­los “camaradas” do ANC, a fé dos comentários feitos semana passada em público na cidade da Beira pelo embaixador da França, Serge Segura, segundo os quais o assunto já corre os seus trâmites na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque..

CORREIO DA MANHÃ – 27.11.2014

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