quarta-feira, 25 de março de 2015

Camarada Dhlakama, o que são regiões autónomas?

Quinta, 26 Março 2015 

NUM dos artigos de opinião e análise publicado neste Jornal, com o título “Alguns líderes políticos de Moçambique não sabem dialogar”, pretendíamos trazer ao alto a ideia de como deve ser feita uma negociação saudável e que garanta a paz que toda a sociedade moçambicana almeja.

Ora, o que nos parece é que muitos dos políticos e seus colaboradores não analisam o que partilhamos por escrito, ou talvez não percebem as ideias que apresentamos nas nossas reflexões. Dizemos isto por vários motivos, dentre eles o facto de que alguns líderes políticos para colocarem as suas ideias em acção usam ameaças e imposições. Isto não pode ser, porque até os nossos antepassados procuraram maneira de chegar a uma solução saudável sem confusão.

Em Moçambique não percebemos o motivo que leva as pessoas a lutarem tanto pelo poder, mesmo sabendo que não sabem dirigir! Esta é uma das questões que não conseguimos perceber devidamente, apesar de possuirmos alguns graus académicos. Talvez o que Moçambique precisa neste momento seja o diálogo para se chegar ao desenvolvimento, mas um diálogo que não seja ameaçador. Assim sendo, voltamos a dizer que o diálogo deve ser da seguinte maneira: “ao emitir opiniões, um político deve usar as seguintes ideias: na minha opinião, do meu ponto de vista (…); para argumentos, ele deve dizer: como é do conhecimento geral, como já defendia (…); para exemplificações deve dizer: a título de exemplo, para referir apenas a um caso (…); para explicações, deve dizer: ou seja, quer isto dizer que (…); para concluir uma exposição, deve usar: em síntese, considerada as razões (…); para tentar manter a palavra, deve usar: como ia dizendo, ainda não terminei, se me deixe concluir (…); para sossegar, deve usar: de modo algum, como pode pensar que eu (…); para afirmar categoricamente, deve usar: não tenho dúvidas de, profundamente convicto (…); para pedir esclarecimento, deve dizer: o que quer dizer quando? Como explicar então (…); para concordar, deve usar: não ponho em causa, concordo inteiramente (…); para exprimir dúvidas, deve usar: não será antes porque tenho as minhas reservas (…); para exprimir impossibilidades, deve usar: parece impossível, é de excluir a hipótese (…); para tentar recuperar a palavra, deve usar: deixe-me acrescentar que, só interrompo (...); para discordar, deve usar: não vejo a relação entre, não percebo a lógica, não lhe posso admitir que não se trata nada disso, nem aceitar, assim não nos entendemos” (Da CRUZ, Albath. Alguns lideres políticos de Moçambique não sabem dialogar. Jornal “Notícias”, /10/10/14 pg21).

É assim como deve ser feita uma negociação, e não da maneira como temos visto nos meios de comunicação social, onde alguns líderes políticos fazem constantemente ameaças. Quem disse que ameaças constroem uma nação ou sociedade? Quem disse que é pela confusão que as coisas podem mudar? Temos sempre dito que a mudança é gradual, por isso que respeitamos alguns pensamentos tais como “Roma não se fez em um dia” e ainda de líderes políticos dos tempos passados que foram bastante importantes para a edificação da nossa unidade nacional. Eduardo Mondlane, considerado o fundador da unidade nacional, que se lhe acordássemos do sono eterno em que dorme, até poderia desmaiar ao ouvir alguns moçambicanos a defenderem ideias que criam desentendimento nacional, porque ele fez tanto trabalho para unir etnias, pensamentos e culturas diferentes para uma única ideia que é Moçambique uno e indivisível.

Porém, as ameaças no processo de uma negociação ou diálogo só nos podem levar a um Moçambique de “pedra sobre pedra” ou, em outras palavras, diríamos a uma total desgraça. Parece-nos que alguns líderes políticos usam argumento do tipo dilema de solteirão, que consiste no seguinte:

Ou caso com uma mulher bonita ou caso com uma feia,

Se ela for bonita, sou atormentado pelo ciúme, portanto não me devo casar,

Se ela for feia, a sua companhia é insuportável, portanto, não me devo casar,

Em qualquer dos dois casos não me devo casar!

Isto é o que nos parece estar a acontecer na política que alguns líderes políticos têm proposto para a nossa sociedade moçambicana. Isto porque não se justifica que um líder político tenha uma proposta e antes de a negociar considere que a mesma deve ser aceite muito antes de se discutir ou analisar. Mostra assim que a sua proposta em qualquer dos casos deve ser aceite. Isso já não é fazer política e nem dialogar, muito menos negociar. A este tipo de diálogo chama-se de “surdos”, para dizer de pessoas que não querem se ouvir.

Talvez fosse bastante importante que os líderes políticos tivessem filósofos ao seu redor, principalmente os que nem sabem o que estão a falar. Os filósofos, como anteriormente escrevemos à Ordem dos Advogados de Moçambique, “deviam ter sido chamados ao congresso da OAM”. No referido escrito, também publicado neste Jornal, procurávamos apresentar a importância dos filósofos para a edificação de uma sociedade melhor, um Moçambique melhor, dado que foram eles que traçaram vários princípios sociais. Assim sendo, mesmo a própria política, independentemente do tipo e do modelo de governação, filósofos é que idealizaram, analisaram e escreveram sobre como deve ser feito o melhor Governo, olhando para a natureza de cada sociedade.

Seria bom que os políticos em Moçambique se inspirassem nos grandes filósofos, desde a antiguidade, idade média, idade moderna e contemporânea! Ou por outra, se os senhores políticos não conseguem interpretar os pensamentos de filósofos, podem solicitar-nos que faremos com muito gosto e sem cobrar nada. Acreditem nestes homens, há muita sabedoria encoberta. Dizemos desta maneira porque não se justifica que políticos da actualidade ressuscitem pensamentos impróprios como o de Adolfo Hitler, que pretendia acabar com todos os judeus, este homem que chegou a dizer “Deus no céu e Hitler na terra”. Hoje ainda é possível ouvir um político a declarar em público que pretende terminar com uma etnia, isto tem se verificado mesmo, em Moçambique, até parecem discípulos de Boko Haram, combatentes islamitas que nem sabem da causa que lhes leva a matar milhares de pessoas inocentes e filhos de Deus.

Quem nos dera se alguns líderes políticos pudessem inspirar-se naqueles filósofos intelectuais que pegavam em suas ideias, amadureciam-nas e depois defendiam suas teses em público. Ali sim, alguns homens da arena intelectual moçambicana poderiam reforçar um e outro aspecto. Mas é com muita tristeza aquilo que se verifica em Moçambique, porque alguns líderes políticos primeiro dizem as suas ideias, depois é que analisam e escrevem, ou mesmo desenham o seu projecto; até parecem veneradores de um antigo ditado que diz o seguinte: “colocam a carroça em frente dos bois”.

Permitam-nos partilhar alguns ensinamentos da Dra. Rosetta Máurri nas aulas de Grego, quando falava do que acontecia na escola Pitagórica. Dizia ela que na escola de Pitágoras, filósofo e símbolo da Matemática, no primeiro nível os alunos ou discípulos nem sequer viam o rosto do seu mestre. Num outro nível poderiam ver a pessoa que lhes dava aulas, mas estavam proibidos de ter dúvida. Passando para outro nível, poderiam já ter dúvidas, mas sem opinião. Por fim, em outros níveis poderiam dar o seu contributo e até se opor ao mestre.

Esperamos que com esta partilha da escola pitagórica alguns dos nossos líderes políticos não sejam precipitados nas suas ideias, mas que construam bases sólidas para depois aparecerem em público a defenderem os seus princípios. Por isso que desafiamos alguns políticos a nos explicarem algumas coisas que tem vindo a falar e a defenderem em público. Será que sabem o que querem? Percebem o que dizem? Ou ouviram dizer que existe alguém que vive da maneira que os senhores pretendem!

Contudo, jamais nos cansaremos em invocar pensamentos encorajadores e de unidade como de Martin Luther King Jr. Por isso dizemos em alta voz que nós temos um sonho de que tudo quanto é escrito e defendido por nós seja lido e meditado pelos políticos. Nós temos um sonho de que um dia estas reflexões sirvam a todos os moçambicanos e que possam viver em unidade, respeitando as diferenças nos vários sentidos. O sonho é de ver moçambicanos a não se chamarem pelas suas etnias e que se perceba pelo “secula seculorom”, como se diz em Latim, isto é, “pelos séculos dos séculos”, que todos somos irmãos, prova de que todos os moçambicanos primeiro lutaram pela mesma causa, a independência nacional e que na altura pertenciam ao mesmo partido político. Não negamos a existência de vários partidos políticos porque não podemos falar de democracia onde não encontramos maneiras diferentes de pensar, e de existência de outros partidos políticos. Contudo, não nos ameacem e nos ajudem a ver nas outras etnias, verdadeiros irmãos. Acreditem, nós moçambicanos somos todos irmãos de verdade.

Que o Deus todo-poderoso nos ensine a colocar em prática todas as ideias acima expostas e que saibamos dizer: takuta, tatenda, zicomo, taguta, khoxucuro, assante, ndri bonguile, ni khensile (…). Agradecemos ao todo sagrado e poderoso Deus. Ouviram?

Assim seja!

ALBATH DA CRUZ

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