quarta-feira, 29 de abril de 2015

Filipe Jacinto Nyusi mostra que está enquadrado com AEG (‪#‎canalmoz‬)

Canal de Opinião

Beira (Canalmoz) – Matola “livrou-se” de Armando Emílio Guebuza, mas seu fardo ainda não foi descarregado. “Os camaradas” estão amarrados e atolados numa prática política clientelista que os impede de ver o país real sob o ponto de vista de consequências daquilo que fazem.
Cada vez que tem a oportunidade de agir e não o faz, o PR deixa a imagem de que a agenda que movia Armando Guebuza continua em cima da mesa.
Se um dos assuntos de primordial importância não é atacado e resolvido em tempo útil, como a sua importância estratégica lhe confere, há que procurar as razões para que isso aconteça assim.
Se as rondas se sucedem sem resultados aparentes é porque as partes estão negociando a “passo de camaleão”, mas não só. Os passos que cada um dos interlocutores dá reflectem uma determinada agenda. A obstrução está sendo utilizada como um “ganha-tempo” até que um se canse e outro possa esgrimir argumentos de “vitorioso”. Mas, da mesma maneira que o “ganha-tempo” é perigoso para os “chapas cem”, em política convém não subestimar seu potencial corrosivo.
Seria de esperar que o PR fosse rápido a entender que não pode “cavalgar dois cavalos ao mesmo tempo”. Uma coisa é a agenda que era de AEG e outra bem diferente deveria ser a agenda de FJN. Isso é tão claro como a água.
Se ele se tornou PR e logo de partida definiu o povo como seu patrão, este deveria ver outras coisas acontecendo. O jogo das manobras dilatórias de que o CCJC se tornou expoente máximo era uma das características da governação arrogante de AEG.
Andar de presidência dita “aberta e inclusiva” repetindo aquilo que a Comissão Política da Frelimo já andou a dizer pelo país fora, embora seja dito com outras palavras, não passa do mesmo, em última análise.
Registam-se “deficits” enormes na forma como se faz política no país. Os políticos ainda não entendem que existem espaços para consensos e que, sem estes, os resultados da sua acção não aparecem ou não se concretizam.
Protelar o óbvio e arrastar um processo negocial que já vem de 1992 é um sinal claro de cegueira política.
Aquele fórum não é inútilm como se viu aquando do pacote eleitoral que acabou sendo aprovado e implementado.
É um fórum enferrujado pela mecânica partidária e por procedimentos de pessoas sem poderes reais. Os interlocutores na mesa conhecem o “dossier” e os fundamentos das discussões correntes. Se não se registam avanços é por causa de toda uma teia de interesses. Veja-se que as propostas da Renamo até são razoáveis face à desconfiança que se instalou desde os anos 90 da década passada.
A despartidarização do Estado está sendo travada por inconfessáveis razões por parte do partido Frelimo. Ninguém quer abocanhar as empresas dos ministros-empresários nem de nenhum membro deste partido. Ninguém está procurando montar um esquema para traiçoeiramente inverter o quadro legal e atacar os ricos de hoje.
O que se pretende é ver um campo desinclinado e um ambiente conducente ao respeito das regras do jogo democrático. Exige-se um Estado que não esteja amarrado ao partido Frelimo nem a nenhum outro partido.
Quem não consegue “ver com olhos de ver” arrisca-se a fomentar situações de todo desnecessárias, porque nocivas e promotoras de violência politicamente motivada.
Pelo que tudo indica, um dos resultados do conclave da Matola será que houve cedências cosméticas, mas que, no essencial, tudo continua na mesma.
Também atendendo a que a massa crítica dos que AEG conseguiu plantar no Comité Central aquando do Congresso de Pemba constitui a maioria e que a Comissão Política é por ele firmemente controlada, FJN pouco mais pode fazer, em termos de tomada de decisões “fora de portas”.
Talvez seja necessário dizer e pressionar no sentido de que as equipas negociando no CCJC sejam substituídas por outras e que tanto Filipe Nyusi como Afonso Dhlakama entendam que chegou a hora de dar passos efectivos fora do habitual jogo de empurra e de acusações mútuas.
A paralisia e ansiedade no país são visíveis a olho nu.
Alguém erradamente terá decidido que arrastar assuntos vai resultar na sua aceitação.
Seria indicativo de liderança e verdadeiro patriotismo se víssemos os líderes políticos abraçando a causa da paz e não a demagogia da guerra.
Uma decisão final abrangente e consensual mostra-se necessária e urgente para substituir este “gato e rato” vergonhoso e de utilidade muito duvidosa.
Tenhamos a coragem de dizê-lo, porque não foge muito à verdade, a senilidade de alguns dos “libertadores” está emperrando o processo negocial.
Recursos escassos estão sendo destinados a negociações que poderiam já ter terminado.
Filipe Jacinto Nyusi deve compreender que qualquer falhanço seu em manter será tido como o culpado.
Se JAC e AEG não conseguiram a desmilitarização completa da Renamo, é chegada altura de FJN demonstrar que tem vontade própria e controlo dos instrumentos que conduzirão Moçambique à ansiada estabilidade.
Seguir à cega recomendações dos serviços de segurança nacionais e de vizinhos como o Zimbabwe, poder levar o Executivo a embarcar em guerras como aquela do Iraque, em que a CIA induziu a Casa Branca de GW Bush de que havia “Armas de Destruição Maciça” escondidas naquele país.
“Colocar todos os ovos” numa hipotética superioridade militar é perigoso e pode ser fatal, assim como a situação no Afeganistão e Iraque o demonstram nos dias de hoje.
Não se advoga o desrespeito pelas leis do país. Muito pelo contrário. Apela-se, sim, a que os políticos encontrem mecanismos de agilizarem o poder legislativo no sentido de aprovar emendas que assegurem a evolução do processo político-legal para patamares que afastem tensões e promovam a paz e estabilidade nacional.
E isso não é assim tão difícil. Que não haja em Moçambique líderes aconselhados e seguindo instruções parecidas com as dos filhos de Hosni Mubarak e Muamar Khadaffi. O poder em si, que não pretendiam abandonar, de algum modo foi o seu veneno mortal. (Noé Nhantumbo)

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