sábado, 27 de junho de 2015

A agonia grega

OPINIÃO



27/06/2015 - 18:16



Neste fim-de-semana os ATMs da Grécia estão a ficar sem dinheiro e aquilo que se temia começa a verificar-se, filas para o levantamento de depósitos, após o anúncio de Alexis Tsipras que iria referendar as propostas dos credores no dia 5 de Julho.

Provavelmente este referendo nunca existirá, ou porque é tardio demais, ou porque nem sequer será legal. Esta segunda-feira é possível que os bancos não abram. Se abrirem, é porque o Banco Central Europeu aceita continuar a sua assistência de liquidez de emergência (ELA) , fornecendo fundos à banca grega.

Na terça-feira 30, é o dia limite em que a Grécia deveria reembolsar parte do empréstimo do FMI (1,5 mil milhões) e é também o dia do fim do resgate, caso não haja acordo entre os credores e a Grécia. Nesse caso, entrará em incumprimento. Pode parecer que este volte-face nas negociações com a Grécia se deve ao FMI e a Christine Lagarde, mas neste concerto dos credores as decisões não são unilaterais.

Lagarde teve pelo menos a anuência de Angela Merkel e de Mario Draghi para avançar com as suas exigências. Fez apenas de polícia má, evitando que a Europa pareça hostilizar a Grécia e tirando alguns dividendos disso.

A questão é saber porque mudou o ambiente na Europa. A chave está, como não podia deixar de ser, na Alemanha, em particular Merkel, Schauble (que há muito considera a Grécia irrecuperável), e também em Sigmar Gabriel, cujas recentes declarações, denotam uma mudança de posição no social-democrata SPD. Também Draghi deve estar cada vez mais embaraçado em manter a assistência (ELA) à banca grega, pois para além do Bundesbank, que tem defendido o corte imediato dessa assistência, outros governadores de bancos centrais defenderão o mesmo. É assim provável que assistamos ao controlo de capitais na Grécia na semana que agora se inicia. 

Tsipras, com o anúncio deste referendo, joga a sua sobrevivência política. Se o conseguir efectivar, a vitória do não às propostas dos credores, dar-lhe-ia a possibilidade de reganhar, junto destes, poder negocial. A vitória do sim seria a legitimação democrática das cedências aos credores e o libertar-se do ónus da austeridade. Nesta agonia grega, que provavelmente acabará em tragédia para o povo grego, nem Tsipras/Varoufakis nem as instituições europeias sairão bem da fotografia.

*Professor do ISEG/ULisboa e Presidente do Instituto de Políticas Públicas Thomas Jefferson – Correia da Serra 





La vem mais um avençado do Estado defender a ditadura. Esta gentinha estava bem era no regime Salazarista.
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Provavelmente, “o referendo fará toda a diferença”. O que está em causa neste momento já não é a aceitação ou não do assédio à soberania grega, se bem que o referendo colocará essa questão. Tzipras, os gregos e eu, queremos saber o quão profundo está o ódio por instituições que fazem tábua rasa dos pressupostos de uma Europa de nações. O que o referendo nos vai dizer é se ainda há uma réstia de orgulho num povo com a história da Grécia. Quanto à legalidade, creia que até lhe fica mal trazer essa questão a lume. A Europa é um lamaçal de ilegalidades, desde dirigentes não eleitos até à última ilegalidade, neste mesmo sábado, hoje, quando decidiram reunir o Eurogrupo excluindo a Grécia, isto é no mínimo a exclusão de um membro, sem o parecer unânime dos seus membros, como definem os tratados.
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Por outro lado, ainda não há incumprimento, hoje 27/06/2015. Portanto, não há decisão unilateral de sair do euro, como diz o brutesco Schauble. Aliás, a haver incumprimento, será perante o FMI, que não tem nada, mas nada, a ver com a CE e muito menos com o Euro. Mas na estratégia de carregar o FMI com a medalha de mau da fica, tem razão, essa costuma ser a estratégia dos tiranos para limpar o caminho que os levará, por certo, ao extermínio do Syriza, mas até lá, ainda se contam as armas…









Tzipras joga a sua sobrevivência desde que assumiu o poder, mesmo a sua integridade física, porque isto são jogos de poder e tirania e todos sabemos do que reza a história. Mas nela não restam destroços dos covardes, como Durão Barroso, Hollande ou Passos. Dela, orgulham-se os povos que ousam defender a sua identidade e a sua cultura. O resto é paisagem, triste… mas é o que temos.

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