sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Os inimigos da paz segundo D. Cláudio Dalla Zuanna

Os inimigos da paz são aqueles cujos interesses acabam por ser favorecidos pela guerra

Diz D. Cláudio Dalla Zuanna
Sobre a actual situação política que o país atravessa, o arcebispo da Beira, D. Cláudio Dalla Zuanna, na passada quarta-feira, em Maputo, disse que “toda a divisão, toda a intolerância, toda a arrogância, todo o abuso e toda a agressão devem ser vistas como sendo contrárias à vontade de Deus”.
Segundo D. Cláudio Dalla Zuanna, estes males apenas podem ser enfrentados com a verdade, com uma informação pública não manipulada, com a transparência no uso dos bens públicos e com processos eleitorais fiáveis.
O arcebispo da Beira falava sobre o papel das Igrejas face à actual situação política, durante uma reflexão dos partidos políticos sobre a crise político-militar em Moçambique, organizada pelo Instituto Holandês para a Democracia Multipartidária.
D. Cláudio Dalla Zuanna afirmou que a Constituição, o sistema político e as suas leis, tal como o próprio ser humano e a comunidade social, estão sempre em construção.
O arcebispo da Beira disse que, num Estado Democrático, a justiça é uma arma defensiva imprescindível para a coesão social. Acrescentou que a inclusão social, vivida no acesso à instrução e à saúde, a equitativa distribuição de benefícios provenientes dos recursos do país, são obras de justiça e defesa contra as frustrações que fomentam a tensão social.
“Pelo contrário, a riqueza acumulada nas mãos de poucos, face à esmagadora maioria a viver na pobreza, o uso de resultados eleitorais e pertença partidária como forma de exclusão mais do que de assunção de responsabilidade, a defesa de interesses particulares à custa do bem são caldo de cultivo de desintegração social e de conflitos”, alertou D. Cláudio Dalla Zuanna.
Afirmou que a boa nova que os moçambicanos esperam ansiosamente como um anúncio urgente, que exige prontidão, honestidade, senso cívico, amor ao povo, é viver em paz.
“Pôr as pessoas a reflectir, a partilhar e a procurar acções de paz é como calçar os pés, para poder dar a boa notícia da paz”, disse.
Sobre o papel das igrejas, D. Cláudio Zuanna afirmou que é de incentivar, para que as pessoas, a começar pelos fiéis e instituições, se revistam de verdade, de justiça e de paz.
“Pessoas, organizações, partidos e Governos, sem estes meios, não podem ter oportunidade alguma de vencer os inimigos da paz. E a paz em Moçambique tem os seus inimigos: aqueles, cujos interesses acabam por ser favorecidos pela guerra”, disse D. Cláudio Zuanna.
Possíveis soluções
O arcebispo da Beira afirmou que, como contribuição “para abafar a poeira” propõe-se o calar das armas que “temos nas mãos”, parar com a aquisição de novas armas, não militarizar o país espalhando armamento e homens armados pelos quatro cantos.
Também propõe que sejam enfrentados sem reservas nem tabus os assuntos contingentes que estão na base da tensão político-militar que o país vive, que os dirigentes se convençam e convençam os seus de que não existe alternativa ao diálogo e que a guerra não reforça a capacidade negocial, a abertura ao diálogo de outros intervenientes no cenário político. Propõe que se encontre formas de promover a contribuição de todas as forças vivas do país para uma boa governação e que haja disposição para reformas consensuais do sistema político e do Estado.
“Se a convivência social não se pautar pela verdade e pela justiça, é improvável que as armas se calem ou que não retomem a voz”, disse.
O arcebispo da Beira declarou que é necessária transparência na gestão da coisa pública, particularmente nos concursos públicos, instalação de comissões parlamentares de inquérito e políticas de inclusão atentas às necessidades fundamentais.
“Na luta pela paz, não há garantias de sucesso. Exige coragem, determinação, persistência, se tivermos a coragem de nos revestirmos de verdade, de justiça e de vontade honesta de paz”, conclui D. Cláudio Zuanna. (Bernardo Álvaro)
CANALMOZ – 26.02.2016

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