quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Atribuição de nome de Mário Soares a avenida divide população da terra de Salazar


Vários habitantes de Santa Comba Dão congratularam-se com a atribuição do nome de Mário Soares a uma avenida da cidade, enquanto outros preferiam ver prestada homenagem ao 'filho da terra' António de Oliveira Salazar.
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
Autor
  • Agência Lusa
Vários habitantes de Santa Comba Dão congratularam-se com a atribuição do nome de Mário Soares a uma avenida da cidade, enquanto outros preferiam ver prestada homenagem ao ‘filho da terra’ António de Oliveira Salazar.
Em pleno centro da cidade de Santa Comba Dão, um grupo de amigos conversa, enquanto aproveitam o sol quente que se faz sentir em dias de inverno. A atribuição do nome de Mário Soares a uma avenida da cidade é um dos assuntos incontornáveis.
A Câmara de Santa Comba Dão aprovou na terça-feira um voto de pesar pelo falecimento do antigo Presidente da República Mário Soares e decidiu atribuir o seu nome a uma avenida da cidade.
Esta decisão do executivo de Santa Comba Dão é um reconhecimento a Mário Soares, que ajudou a construir a liberdade. Fico muito contente em ver uma rua com o seu nome na cidade”, apontou Leopoldo Cruz, de 77 anos.
Leopoldo Cruz foi o primeiro a dar a sua opinião à agência Lusa, seguindo-se o parecer semelhante de Leonel Gouveia, que tem o mesmo nome do presidente do executivo da Câmara de Santa Comba Dão, de quem é pai.
Também Alípio Gomes Calisto, de 74 anos, vê com bons olhos a decisão do executivo local, que vem homenagear alguém que “fez muito bem pelo país”.
“Também a uns dois quilómetros daqui nasceu uma figura da terra, que fez algumas coisas boas, outras más, num período em que cheguei a ser ameaçado que ia preso pela PIDE”, referiu, aludindo à figura maior do Estado Novo, António de Oliveira Salazar.
Uns metros à frente, Fernando Sousa ajeita o jornal enquanto evidencia que acha “muito bem” que o seu concelho tenha uma rua com o nome de Mário Soares.
“Temos cá tantas ruas a homenagear outras figuras, porque é que também não havia de haver uma para Mário Soares?”, frisou.
Já Amélia Paulo, de 85 anos, destacou “a luta que Mário Soares sempre travou pela liberdade”.
“Acho muito bem que receba esta homenagem. Só quem viveu naquele período sabe apreciar a importância de Mário Soares, que ao longo da sua vida foi sempre um homem tolerante”, evidenciou.
Para Joaquim Lopes, de 72 anos, Mário Soares foi um político que fez “coisas boas, mas também coisas más, tal como Salazar, que era do concelho de Santa Comba Dão”.
“Como Mário Soares foi um dos que mandou trocar o nome da ponte que Salazar mandou construir, de Ponte António Salazar para Ponte 25 de Abril, não sei se devia ter uma rua em Santa Comba Dão”, sustentou.
Por sua vez, José Alberto Santos, de 63 anos, discorda da atribuição do nome de Mário Soares a uma rua do concelho de onde António Salazar era natural.
Nas vezes que Mário Soares por aqui passou nunca foi bem recebido e isto parece-me mesmo uma falta de respeito em terra de Salazar. Aliás, eu fui um dos deportados à conta de Mário Soares e, se não fosse ele, ainda estava em Angola”, disse.
Outros há, como Feliciano Lima, de 84 anos, que garante não ligar a nada que venha da política, deixando há muitos anos de manifestar qualquer opinião.
“Desde que tiraram a estátua de Salazar daqui do largo de Santa Comba Dão, nunca mais quis saber de política. Já não quero saber de mais nada relacionado com política”, concluiu.
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