sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

12 MESES DE PAZ SEM ACORDO MAS REAL


Por Gustavo Mavie
No dia 26 deste mês de Dezembro, completaremos 12 meses desde que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, fez a primeira proclamação da primeiríssima trégua de que se seguiram várias outras que acabaram sendo o restabelecimento prático duma paz de que ainda estamos desfrutando, tudo como corolário de um gentleman agreement que o Presidente Filipe Nyusi negociou secretamente com o líder da Perdiz.
Muito embora não seja por enquanto do conhecimento dos moçambicanos o que é que Nyusi terá feito para convencer ou persuadir Dhlakama a parar com a guerra, o certo é que só ter conseguido tal proeza, já deve merecer os nossos aplausos e todo o tipo de elogios tanto para ele mas principalmente para Dhlakama, por este ter colocado a vida de nós seus compatriotas acima de todos os outros seus interesses.
Para que se entenda porque é que digo que devemos elogiar Nyusi, nada melhor que transcrever alguns trechos do famoso livro a Arte da Guerra, do clássico chinês Su Tzu. Este estratega militar chinês vinca que mais do que fazer a guerra, o melhor é evitá-la ou ganhá-la antes mesmo de desembainhar a espada.
Observando a maneira como Nyusi contrariou os que queriam que não ordenasse a retirada das tropas que cercavam Dhlakama nas montanhas de Gorongosa, fica-se com a sensação se guiado com as recomendações desta obra de Su Tzu, que neste caso é tida já como o mais antigo tratado militar com mais de dois mil anos.
Digo isto, porque Nyusi mandou os militares pararem com a caça por assim dizer de Dhlakama que vinham movendo contra ele desde que ele havia decidido voltar a mover a guerra, como que em obediência à recomendação de Su Tzu, de que o inimigo não deve ser aniquilado, mas, de preferência, deve ser vencido quando seus domínios ainda estiverem intactos.
Para Su Tzu, a guerra deve ser evitada ao máximo, porque segundo ele, muitas vezes a vitória arduamente conquistada guarda um sabor amargo de derrota, mesmo para os próprios vencedores. Esta é uma grande verdade mesmo nos dias que correm, porque uma guerra resulta quase sempre na morte dos soldados de um e doutro lado da batalha, para além das destruições que são inevitáveis.
Su Tzu diz que o desgaste dum Pais pela guerra culmina sempre no desgaste de quem governa, o que é extensivo ao partido que esteja no poder para os dias que correm. Isto fica evidente nesta frase de Su Tzu: Embora até então tenhas sido respeitado, doravante tua reputação estará maculada. Apesar de já teres dado mostras brilhantes de valor, o último revés apagará toda a glória acumulada.
De facto, tanto Chissano como Guebuza e a própria Frelimo, perderam muito da sua popularidade, reputação e respeito de que gozavam durante os períodos em que o País esteve em guerra, nomeadamente a dos 16 anos e as escaramuças que tivemos entre 2011 e 2014.
O desgaste que a guerra causou tanto contra Chissano e a sua Frelimo ficou revelado durante as eleições de 1994 e as de 1999 em que quase empatavam com Dhlakama e a Renamo, não obstante tenha sido a Perdiz que movia esse conflito com o apoio total dos então regimes racistas da ex-Rodesia e do apartheid que oprimia o povo irmão da África do Sul.
Também as escaramuças de 2011 a 2014 desgastaram bastante a reputação de Guebuza, no que levou também os que não entendem as consequências da guerra a não compreender como é que o povo estava sendo contra quem os defendia do agressor. Mas está explicado por Su Tzu no seu livro, e Nyusi está fazendo tudo para evitar que seja desgastado pela guerra. Há quem diz que Nyusi aprendeu a arte militar, daí que tenha sido nomeado ministro da Defesa, cargo de que viria a ser exonerado quando se tornou no candidato da Frelimo às presidenciais de 2014 que acabou sendo eleito para chefiar o Estado moçambicano.
Ao evitar a guerra, Nyusi faz ele muito bem, porque Su Tzu insiste que não poderás manter as tropas em campanha por muito tempo, sem acarretar grande prejuízo ao Estado, e sem dar um golpe mortal em tua própria reputação.
E remata assim: aqueles que dominam os verdadeiros princípios da arte militar não atacam duas vezes. Tudo termina já na primeira campanha. Não consomem suprimentos em vão, durante anos consecutivos. Fazem com que suas tropas subsistam às expensas do inimigo e poupam ao Estado os imensos gastos em que este incorre quando tem que transportar provisões para lugares distantes. Tais generais não ignoram - e tu também deves estar ciente disso - que nada desgasta mais um reino do que as despesas de guerra pois, quer o exército esteja nas fronteiras, quer em países longínquos, o povo sempre é penalizado. O custo de vida aumenta, as mercadorias escasseiam, e mesmo aqueles que, em tempos de paz, usufruem uma boa situação, em breve já não terão com o quê comprar.
Escusado é lembrar que o que Su Tzu diz neste trecho é uma experiência amarga que nos afectou tragicamente tanto na guerra dos 16 anos como durante as escaramuças que abalaram o nosso Pais entre 2011 e 2014 e também durante os finais de 2015 e quase todo o ano de 2016.
Su Tzu vinca que é difícil sustentar um reino que se terá levado à beira da ruína. Depois de destruí-lo, é impossível reerguê-lo. Tampouco se ressuscitam os mortos. A guerra tem consequências nefastas para o Estado. É o reino da vida e da morte. Dela depende a conservação ou a ruína do império. Urge bem regulá-la.
A cada vez que vejo como Nyusi tem conduzido o diálogo com Dhlakama, nota-se que domina de facto a arte da guerra tal como postulado por Su Tzu, já que este vinca que um bom general ou comandante dum exército domina a dissimulação, a astúcia e a surpresa. A ida este ano de Nyusi às matas de Gorongosa sem um anúncio prévio surpreendeu tudo e todos, mas faz parte das recomendações de Su Tzu.
Este clássico chinês vinca que um bom general deve evitar cinco defeitos básicos, a saber: a precipitação, a hesitação, a irascibilidade, a preocupação com as aparências e a excessiva complacência.
Sempre que me recordo do que Nyusi disse quando se dirigiu aos moçambicanos pouco depois de ter sido empossado no cargo de Chefe de Estado moçambicano no dia 15 de Janeiro de 2015, noto que ele não é desses cujas palavras não as casa com actos.
Nota-se no Nyusi uma constante preocupação de cumprir com o que diz ou disse. Isto prova que é um líder que no dizer de Su Tzu, se lembra sempre que defende não os interesses pessoais, mas os do seu País.
Tudo indica que Dhlakama também já assumiu que mais do que os seus interesses pessoais, os que mais contam e pesam na balança são os dos moçambicanos que chamamos de POVO e cujas vidas não podem ser ceifadas, porque como diz Su Tzu, uma vez morto, não mais se pode ressuscitar.
Por isso Dhlakama e Nyusi estão de parabéns por terem acordado em pôr termo à guerra que como bem explicado por Su Tzu, é tão má porque causa prejuízos mesmo para quem sai-se como vencedor. De facto, uma simples avaliação de todas as guerras que o Mundo já teve, nota-se que há sempre danos dum e doutro lado dos beligerantes. Não há praticamente uma única guerra em que os vencedores não tenham perdido parte dos seus homens tal como os vencidos.
É por isso que Nyusi disse quando tomava posse que faria tudo ao seu alcance para que nós moçambicanos não tornemos a nos matarmos mais uns contra os outros. E de facto tem feito tudo e a prova disso é que há 12 meses que estamos em paz!
gustavomavie@gmail.com

Sem comentários: