sábado, 16 de dezembro de 2017

CIA informou Trump e Pence sobre “ordens diretas” de Putin para interferir nas presidenciais



O então diretor da CIA, John Brennan, informou Trump sobre a ingerência de Putin nas eleições duas semanas antes de o empresário tomar posse
Alex Wong

Notícia avançada pelo “Washington Post” contradiz o Presidente norte-americano, que continua a garantir que não houve ingerência do Kremlin no processo eleitoral que lhe deu a vitória em 2016. Fontes dizem que os seus conselheiros deixaram de abordar o assunto para que ele “não perca as estribeiras”

"Nos dias que precederam a tomada de posse de Donald Trump como Presidente, membros do seu círculo mais próximo imploraram-lhe que reconhecesse publicamente o que as agências de informação dos EUA já tinham concluído — que a interferência da Rússia nas eleições de 2016 foi real."
Assim começa o artigo exclusivo publicado esta quinta-feira pelo "Washington Post", no qual o jornal revela que o Presidente dos EUA e o seu vice-presidente, Mike Pence, foram informados pela CIA sobre as "ordens diretas" dadas pelo líder da Rússia, Vladimir Putin, aos hackers que invadiram os sistemas de voto e do Partido Democrata para influenciarem os resultados eleitorais.
A par de Putin, Trump tem rejeitado desde sempre as conclusões das secretas sobre a interferência russa nas eleições, insistindo que as alegações são uma invenção da oposição democrata para justificar a derrota de Hillary Clinton.
Contudo, o "Washington Post" revela agora que, a 6 de janeiro, duas semanas antes de tomar posse, Trump foi informado pelo diretor nacional das secretas, James Clapper, o diretor da CIA, John Brennan, e o então diretor do FBI, James Comey (entretanto despedido por Trump por se recusar a suspender uma investigação ao caso), sobre um relatório da CIA onde eram denunciadas as "instruções específicas de Putin quanto à operação" de ciberataques.

Para que Trump "não perca as estribeiras"

Antes disso, as informações interceptadas por agentes secretos já tinham sido passadas ao antecessor de Trump, Barack Obama, bem como a membros do Congresso. A reunião de 6 de janeiro contou com a participação de Mike Pence, do então chefe de gabinete Reince Priebus, do futuro diretor da CIA Mike Pompeo e daquele que viria a ser o chefe do Conselho de Segurança Nacional, Michael Flynn — a primeira baixa desta administração, afastado nem um mês depois de tomar posse e que continua a ser central nas investigações em curso à ingerência russa, perante crescentes rumores de que estará a colaborar nas investigações ao Presidente e ao seu círculo.
Segundo fontes familiarizadas com esse encontro, Trump "reagiu calmamente" quando recebeu o dossiê das secretas, com os três chefes das agências a deixarem com ele uma cópia dos documentos. Logo a seguir, Comey ter-se-á reunido com Trump para discutir as suspeitas e também o alegado dossiê compilado por agentes russos com informações embaraçosas para Trump (um que o FBI está atualmente a analisar e cuja existência seria noticiada quatro dias depois da reunião pelo BuzzFeed News.)
Segundo o mesmo artigo do "Washington Post", os conselheiros do Presidente têm evitado abordar esta questão desde essa altura por temerem que Trump "perca as estribeiras", sobretudo depois de o líder norte-americano ter repetido ao lado de Putin que acredita no líder russo quando este diz que o Kremlin não se imiscuiu nas presidenciais que lhe deram a vitória.
Mueller enfrenta crescentes críticas dos defensores de Trump por causa de SMS de um agente do FBI
Mueller enfrenta crescentes críticas dos defensores de Trump por causa de SMS de um agente do FBI
Alex Wong
Há vários meses que comissões do Congresso e a equipa de Robert Mueller estão a investigar a interferência russa nas eleições de 2016 e também as suspeitas de conluio entre a equipa do Presidente Trump e Moscovo. As novas informações sobre o caso, avançadas esta quinta-feira pelo WaPo, surgem numa altura em que o conselheiro especial — que foi nomeado após o afastamento de Comey por Trump — continua a apertar o cerco ao Presidente.

Visita que promete

Esta sexta-feira, e depois de sucessivos ataques às secretas do país que governa, Trump vai visitar a sede do FBI numa altura em que muitos agentes não se têm coibido de criticar o Presidente por causa desses ataques constantes e muitas vezes gratuitos.
Na semana passada, o homem escolhido pelo Presidente para substituir Comey na chefia da agência foi um dos que elevou a sua voz para defender o trabalho dos agentes, durante uma audiência no Congresso. "Deixem-me começar por dizer que é para mim uma honra estar aqui a representar os homens e as mulheres do FBI", declarou Christopher Wray aos senadores. "Não existe melhor instituição que o FBI nem melhores pessoas do que os homens e as mulheres que aqui trabalham e que são o coração da agência."
Dias depois, foi a vez de Tom O'Connor, presidente da Associação de Agentes do FBI, sair em defesa de todos eles, após Trump ter voltado a atacar vários antigos e atuais funcionários. "Todos os dias, agentes especiais do FBI põem as suas vidas em risco para proteger o povo americano e ameaças criminosas e de segurança nacional", tweetou O'Connor. "Os agentes cumprem os seus deveres com uma integridade e um profissionalismo inabaláveis, concentrados em cumprir a lei e respeitar a Constituição."
A visita desta sexta-feira a Quantico, na Virginia, tem lugar depois de a investigação de Mueller ter sofrido um duro golpe, isto porque o conselheiro despediu um dos membros da sua equipa por causa de mensagens "de teor político" — "anti-Trump" — que trocou com uma colega do FBI.
"A divulgação dos SMS de Peter Strzok, que esteve a liderar a investigação do FBI ao uso de um servidor privado de email por Hillary Clinton antes de se juntar ao inquérito à Rússia, está a dar novas munições aos conservadores que criticam Mueller", referia há dois dias o site Vox. "Os defensores de Trump dizem que as mensagens são uma prova clara de que o ex-diretor do FBI [Mueller] não está a executar uma investigação imparcial e que deve ser afastado do cargo."

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