15.12.2017 às 11h24
Notícia avançada pelo “Washington Post” contradiz o Presidente norte-americano, que continua a garantir que não houve ingerência do Kremlin no processo eleitoral que lhe deu a vitória em 2016. Fontes dizem que os seus conselheiros deixaram de abordar o assunto para que ele “não perca as estribeiras”
"Nos dias que precederam a tomada de posse de Donald Trump como Presidente, membros do seu círculo mais próximo imploraram-lhe que reconhecesse publicamente o que as agências de informação dos EUA já tinham concluído — que a interferência da Rússia nas eleições de 2016 foi real."
Assim começa o artigo exclusivo publicado esta quinta-feira pelo "Washington Post", no qual o jornal revela que o Presidente dos EUA e o seu vice-presidente, Mike Pence, foram informados pela CIA sobre as "ordens diretas" dadas pelo líder da Rússia, Vladimir Putin, aos hackers que invadiram os sistemas de voto e do Partido Democrata para influenciarem os resultados eleitorais.
A par de Putin, Trump tem rejeitado desde sempre as conclusões das secretas sobre a interferência russa nas eleições, insistindo que as alegações são uma invenção da oposição democrata para justificar a derrota de Hillary Clinton.
Contudo, o "Washington Post" revela agora que, a 6 de janeiro, duas semanas antes de tomar posse, Trump foi informado pelo diretor nacional das secretas, James Clapper, o diretor da CIA, John Brennan, e o então diretor do FBI, James Comey (entretanto despedido por Trump por se recusar a suspender uma investigação ao caso), sobre um relatório da CIA onde eram denunciadas as "instruções específicas de Putin quanto à operação" de ciberataques.
Para que Trump "não perca as estribeiras"
Antes disso, as informações interceptadas por agentes secretos já tinham sido passadas ao antecessor de Trump, Barack Obama, bem como a membros do Congresso. A reunião de 6 de janeiro contou com a participação de Mike Pence, do então chefe de gabinete Reince Priebus, do futuro diretor da CIA Mike Pompeo e daquele que viria a ser o chefe do Conselho de Segurança Nacional, Michael Flynn — a primeira baixa desta administração, afastado nem um mês depois de tomar posse e que continua a ser central nas investigações em curso à ingerência russa, perante crescentes rumores de que estará a colaborar nas investigações ao Presidente e ao seu círculo.
Segundo fontes familiarizadas com esse encontro, Trump "reagiu calmamente" quando recebeu o dossiê das secretas, com os três chefes das agências a deixarem com ele uma cópia dos documentos. Logo a seguir, Comey ter-se-á reunido com Trump para discutir as suspeitas e também o alegado dossiê compilado por agentes russos com informações embaraçosas para Trump (um que o FBI está atualmente a analisar e cuja existência seria noticiada quatro dias depois da reunião pelo BuzzFeed News.)
Segundo o mesmo artigo do "Washington Post", os conselheiros do Presidente têm evitado abordar esta questão desde essa altura por temerem que Trump "perca as estribeiras", sobretudo depois de o líder norte-americano ter repetido ao lado de Putin que acredita no líder russo quando este diz que o Kremlin não se imiscuiu nas presidenciais que lhe deram a vitória.
Há vários meses que comissões do Congresso e a equipa de Robert Mueller estão a investigar a interferência russa nas eleições de 2016 e também as suspeitas de conluio entre a equipa do Presidente Trump e Moscovo. As novas informações sobre o caso, avançadas esta quinta-feira pelo WaPo, surgem numa altura em que o conselheiro especial — que foi nomeado após o afastamento de Comey por Trump — continua a apertar o cerco ao Presidente.
Visita que promete
Esta sexta-feira, e depois de sucessivos ataques às secretas do país que governa, Trump vai visitar a sede do FBI numa altura em que muitos agentes não se têm coibido de criticar o Presidente por causa desses ataques constantes e muitas vezes gratuitos.
Na semana passada, o homem escolhido pelo Presidente para substituir Comey na chefia da agência foi um dos que elevou a sua voz para defender o trabalho dos agentes, durante uma audiência no Congresso. "Deixem-me começar por dizer que é para mim uma honra estar aqui a representar os homens e as mulheres do FBI", declarou Christopher Wray aos senadores. "Não existe melhor instituição que o FBI nem melhores pessoas do que os homens e as mulheres que aqui trabalham e que são o coração da agência."
Dias depois, foi a vez de Tom O'Connor, presidente da Associação de Agentes do FBI, sair em defesa de todos eles, após Trump ter voltado a atacar vários antigos e atuais funcionários. "Todos os dias, agentes especiais do FBI põem as suas vidas em risco para proteger o povo americano e ameaças criminosas e de segurança nacional", tweetou O'Connor. "Os agentes cumprem os seus deveres com uma integridade e um profissionalismo inabaláveis, concentrados em cumprir a lei e respeitar a Constituição."
A visita desta sexta-feira a Quantico, na Virginia, tem lugar depois de a investigação de Mueller ter sofrido um duro golpe, isto porque o conselheiro despediu um dos membros da sua equipa por causa de mensagens "de teor político" — "anti-Trump" — que trocou com uma colega do FBI.
"A divulgação dos SMS de Peter Strzok, que esteve a liderar a investigação do FBI ao uso de um servidor privado de email por Hillary Clinton antes de se juntar ao inquérito à Rússia, está a dar novas munições aos conservadores que criticam Mueller", referia há dois dias o site Vox. "Os defensores de Trump dizem que as mensagens são uma prova clara de que o ex-diretor do FBI [Mueller] não está a executar uma investigação imparcial e que deve ser afastado do cargo."
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