segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Director da “Fitch” sobre a dívida oculta e os incumprimentos

Moçambique “é uma história lamentável”


Tony Stringer alerta que o país tem de resolver a dívida para ser atraente para os investidores.
Moçambique continua a falhar o pagamento das prestações do serviço da dívida oculta. Tony Stringer, director do departamento de “ratings” da agência de notação financeira “Fitch”, alertou, no domingo, que Moçambique tem de resolver o caso da dívida escondida para voltar a ser um destino atraente para os investidores.
Segundo Tony Stringer, Moçambique “é uma história lamentável” e está na classificação de “RD” (Restricted Default) [Incumprimento Financeiro Selectivo] “desde 2016, quando foram descobertas as garantias estatais não identificadas a empresas públicas”.
Segundo Tony Stringer, Moçambique entrou na espiral da dívida devido àquilo a que chamou “fraquezas significativas na gestão das finanças públicas”.
Em entrevista à Lusa, durante a passagem por Lisboa para a realização de uma conferência, Tony Stringer disse que “se Moçambique conseguir resolver a questão das finanças públicas e melhorar a confiança na sua capacidade para garantir isto, deve ser um destino relativamente atraente para o investimento externo”.
Apesar das críticas à gestão do processo que atirou Moçambique para o “default” por parte das três maiores agências de notação financeira, e que motivou o corte de financiamento por parte do Fundo Monetário Internacional e dos doadores internacionais, o director do departamento de “ratings” soberanos da “Fitch” diz que, ainda assim, há aspectos positivos na economia moçambicana.
“Há sinais bons em termos macro-económicos: o crescimento está a recuperar, o potencial é grande devido aos recursos naturais e o país está a fazer progressos nos megaprojetos”, disse Tony Stringer, exemplificando que “a petrolífera italiana ‘Eni’ assinou contratos que podem dar sete ou oito mil milhões de dólares em receitas nos próximos anos, e a ‘Anadarko’ conseguiu alguns acordos com empresas chinesas” para a venda do gás explorado em Moçambique.
“A moeda está a recuperar”, acrescentou Tony Stringer, referindo-se à valorização do metical desde o segundo semestre do ano passado, depois de ter tido uma das maiores desvalorizações durante a segunda metade de 2016 e os primeiros meses de 2017.
Esta desvalorização do metical levou a um aumento proporcional do rácio da dívida pública face ao PIB, referiu Tony Stringer. “Outra preocupação é que há muito barulho relativamente ao rácio da dívida sobre o PIB, porque uma proporção muito grande da dívida é em moeda estrangeira, e dependendo da evolução do metical, isso torna o rácio mais volátil”, disse Tony Strin-ger. E afirmou: “O maior desafio do país é, de uma forma institucional, lidar com as fraquezas da gestão das finanças públicas, concentrar--se em garantir que os atrasos nos pagamentos aos fornecedores não aumentam, porque isso prejudica e aumenta os problemas da dívida soberana e, por último, ter um sistema responsabilizante, no qual seja claro para os observadores externos de onde vem o dinheiro do Governo, qual o perfil da dívida e como fazem os pagamentos”.
CANALMOZ – 22.01.2018

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