sexta-feira, 23 de março de 2018

Camarões: Indiferença dos cidadãos perante eleições para o Senado


O Senado nos Camarões, país a braços com um conflito que opõe os cidadãos anglófonos aos francófonos, é um órgão encarado com grande ceticismo pela população, que o considera demasiado leal ao Presidente Paul Biya.
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No domingo (25/03) vão ser eleitos nos Camarões 70 novos senadores em sufrágio indireto. Oito partidos da oposição concorrem contra o Movimento Popular Democrático dos Camarões (CPDM), o partido governamental do Presidente Paul Biya, no poder há 36 anos.
O colégio eleitoral consiste em 9.600 conselheiros municipais. A maioria pertence ao partido de Biya. Não obstante, a oposição acredita que poderá obter bons resultados, devido à crescente impopularidade do Presidente. A população está insatisfeita com a incapacidade do Governo de resolver os problemas económicos, sociais e de segurança que afligem o país. E as eleições para o Senado são contempladas com indiferença pela maioria dos cidadãos.
Leornard Tumenta é candidato ao Senado pelo partido da oposição NUDP da região anglófona no noroeste do país. Diz que se decidiu a concorrer porque se trata de um voto secreto, o que abre a possibilidade de alguns conselheiros quererem sancionar o partido governamental por não ter sido capaz de desenvolver os Camarões: "Não há estradas que liguem os camponeses aos mercados. Se eu for eleito senador pressionarei o Governo para que proporcione aos meus conterrâneos serviços básicos como estradas que liguem aos mercados”.
Kamerun Proteste (Reuters/TV)
Protestos violentos abalam os Camarões há um ano e meio
Um país profundamente dividido
Regina Mundi, candidata da região noroeste do país pelo partido governamental CPDM, aponta como prioridade da sua agenda política resolver a crise nas regiões anglófonas, que opõe os falantes de inglês à maioria falante de francês. É uma crise que dura há ano e meio e tem causado muito sofrimento: "Como mães, as mortes dos dois lados partiram-nos o coração. Um soldado que morre é um camaronês que morre. É filho, marido e pai de alguém. Nós queremos a paz e o desenvolvimento da região. Neste momento há muitas crianças que não vão à escola. É muito triste. Queremos que a situação nesta região se normalize”.
Grupos separatistas anglófonos avisaram que não vão permitir a realização de eleições nas regiões falantes de inglês, que pretendem ser um estado independente de nome Ambazónia. Mbu Peter, membro da comissão eleitoral ELECAM, diz que pediram ao Governo que velasse pela segurança dos eleitores e candidatos: "Também sugerimos medidas de segurança a nível pessoal, porque é a esse nível que se tem que começar”.
Votar na política e não nos partidos
 
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Eleições para o senado deixam camaronenses indiferentes

Analistas contam com uma maioria absoluta do partido CPDM. O partido insiste na disciplina interna e exige dos seus representantes que obedeçam as hierarquias. O ativista e analista político Tita Colbert está envolvido num esforço para educar os cidadãos do país a não votarem apenas em partidos, mas em projetos e programas apresentados pelos candidatos: "As pessoas têm que compreender que não importa o partido político. Trata-se de escolher políticos que realmente representem os eleitores”.
O Senado dos Camarões tem 100 representantes, dos quais 70 são eleitos e 30 nomeados pelo Presidente. Cada uma das dez regiões tem 10 assentos na Câmara Alta. Desde a introdução do órgão em 2013, o Senado nunca alterou qualquer lei que lhe foi apresentada pelo Parlamento. Muitos camaroneses consideram, por isso, que o órgão não serve o propósito para o qual foi criado. Uma vez que o Presidente Paul Biya nomeia mais de um quarto dos senadores, a grande maioria dos quais membros do seu partido, os cidadãos vêem o Senado como uma instituição fiel ao Chefe de Estado.

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