Dois poderes na rua:
Luxo de Comité Central e "My Love"
Luxo de Comité Central e "My Love"
É isso mesmo. O que se vê nessas viaturas não são sacos cobertos de guarda-chuvas. São cidadãos deste país no interior de "My Loves" à caminho dos seus locais de trabalho. Cada um assegurando o seu guarda-chuva, debaixo de uma intensa chuva, sem o mínimo de segurança, em estradas altamente esburacadas, ao longo da Avenida Joaquim Chissano. Qualquer contorno ao um buraco pode ser fatal.
Na faixa contrária, no sentido Cidade de Maputo-Cidade da Matola, os sirenes não param de tocar, obrigando os "outros" a libertarem a faixa. "Encostem, encostem", ouve-se mesmo de outro lado da faixa da mesma avenida, sentido Cidade de Matola-Cidade de Maputo.
A seguir uma frota de viaturas de luxo com ocupantes também de luxo, devidamente equipado a FRELIMO. É o poder na rua. É o paraíso. Não existe outro paraíso que aquele em que tens militares e polícias a abrir-te o caminho e todo o mundo a apreciar a viatura com que andas, só porque tens uma patente: FRELIMO.
Doutro lado da faixa, um outro poder, também na rua, mas não no interior de carro de luxo, nem é o poder de luxo. É um poder no interior de "My Love" com uma mão a assegurar guarda-chuva e a outra a abraçar o outro ocupante que teve acesso à ferro ou posição privilegiada que lhe garante o mínimo de segurança. Um poder que sempre pede ao seu motorista para não acelerar muito sob o risco da guarda-chuva voar. A viatura deste poder, além de não ser condigna e de não oferecer segurança, não evita que molhe. Uma particularidade é que este poder, no interior de My Love, não sabe que o tem. Não sabe que foi ele que colocou noutro poder aquele que hoje o afasta para poder passar.
Sei que um dia esse poder saberá que tem mais poder do que quem o exibe, o poder de punir a letargia, a inoperância, a negligência, a corrupção, o nepotismo, o exibicionismo e ostentação, o enriquecimento ilícito, a má governação.
Como dizia, o que vê nessas fotos são cidadãos moçambicanos no interior de My Love. Não o fazem por querer, mas porque eles têm filhos por alimentar, educar e cuidar. Também têm sonhos por concretizar: adquirir um terreno de 15x30 m, ainda que não seja em zona parcelada, construir uma casa tipo 1, adquirir uma motorizada. Mas não só: sujeitam-se a essas condições porque devem pagar renda de casa, água, luz, escolas, carrinhas escolares, entre outras despesas.
São empregados, na sua maioria, de quem se fazia de carro de luxo noutra faixa de Joaquim Chissano, em direcção à Escola Central do Partido. Eles sabem que qualquer falta é severamente penalizada, desde descontos até à rescisão de contrato. Por isso, mil vezes chegar molhado e com risco de adoecer do que não se apresentar ao seu local de trabalho.
A previsão de chuva é um pesadelo para os cidadãos transportados pelos My Loves. Um pesadelo porque sabem o que lhes espera nesses dias chuvosos, enquanto outros celebram porque não irão regar as plantas das suas diversas quintas, onde apenas vivem seus guardas. O seu 4x4 vai deslizar melhor sobre aqueles solos arenosos da instância turística, onde passa finais de semana.
Este é Moçambique. Moçambique de indivíduos com deveres, mas sem direitos.
Julião João Cumbane está a sentir-se triste com Julião João Cumbane.
Meu comentário
É assim mesmo que o povo olha para nós da FRELIMO, mesmo quando muitos de nós também somos transportados nesses "my loves"! Só que o poder que alguns de nós detêm para se fazerem transportar da maneira descrita por Lázaro Mabunda aqui é sobranamente do povo transportado nos "my loves".
Será que sabemos todos, nós da FRELIMO, disso? Custa o quê mudarmos de postura e sermos modestos, mormente quando nos movemos em cumprimento da nossa agenda partidária?...
A FRELIMO não deve mais continuar a deixar-se confundir com o Estado que estamos a dirigir, caros camaradas!
Referência
Eugenio Justo Vitorino Confesso que de um tempo pra cá o profe anda irreconhecível, decidiu lavar a ferida mesmo consciente de que haverão vozes que se insurgirao, afinal de contas nem uma ferida lava se o dono a rir!.
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