terça-feira, 20 de março de 2018

Facebook é objecto de investigação que pode originar multa milionária


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A Facebook está a ser alvo de investigação por suspeitas de ter facilitado informação de cerca de 50 milhões de utilizadores da rede social, podendo ser multada em milhões de euros.
SASCHA STEINBACH/EPA
A Comissão Federal do Comércio, dos EUA, abriu uma investigação à Facebook que poderá implicar uma multa milionária, perante as suspeitas de facilitar informação relativa a 50 milhões de utilizadores a uma empresa ligada a Donald Trump.
A investigação resulta da revelação, durante o fim de semana, de a empresa de análise de dados Cambridge Analytica ter tido acesso, em 2014, a dados compilados pela empresa dirigida por Mark Zuckerberg, o que suporia una clara violação das condições de confidencialidade desta companhia emblemática das redes sociais.
Segundo a imprensa britânica, a empresa de análise de dados, que colaborou com a equipa de Trump durante a campanha eleitoral para as presidenciais de 2016, usou aquela informação para desenvolver um programa informático destinado a influenciar as decisões dos votantes.
A Cambridge Analytica tem entre os seus investidores o chefe da campanha eleitoral de Trump em 2016 e posteriormente assessor deste na Casa Branca, até se demitir, Steve Bannon.
A Facebook já rejeitou as alegações, mas o facto de a Cambridge Analytica ter admitido que teve acesso a informação de milhões de utilizadores daquela rede social implica uma de duas: ou a Facebook sofreu roubo de informação, ou violou as suas regras e facilitou os seus arquivos a terceiros, conclui o jornalista Rafael Salido, da agência Efe.
Em 2011, a Facebook comprometeu-se a solicitar o consentimento dos seus utilizadores antes de fazer determinadas alterações nas preferências de privacidade daqueles, como parte de um acordo com o Estado, que então a acusava de abusar dos consumidores, ao partilhar com terceiros informação não autorizada.
Por este motivo, a suspeita de que a rede social pode ter facilitado esta informação à Cambridge Analytica pressuporia que a Facebook violou o acordo, do que poderia resultar uma multa diária de 40 mil dólares (33 mil euros) diários por cada violação, como informou neste dia a Bloomberg.
Esta possibilidade, bem como a perda de atração das ações Facebook, tiveram nos últimos dois dias um claro reflexo em Wall Street, com desvalorizações de quase 7% na segunda-feira e mais 2,56% neste dia. Estas não são as únicas preocupações de Mark Zuckerberg, que foi alvo de pedidos de audição por parte no Senado dos EUA e dos parlamentos Europeu e britânico.
Acresce que, segundo o The New York Times, o chefe de segurança da Facebook, Alex Stamos, anunciou a sua saída do cargo, devido a desacordos internos sobre como a rede social se deve posicionar perante a difusão de informações falsas.

Cambridge Analytica. Executivos filmados a admitir que tramam políticos com subornos e “ucranianas bonitas”

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Sem saber que está a ser filmado, Alexander Nix revela que a Cambridge Analytica recorre a "mulheres ucranianas bonitas" para obter informação de opositores políticos, que tramam com falsos subornos.
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
Executivos da Cambridge Analytica foram filmados por um jornalista do Channel 4 a admitir terem tramado políticos com subornos e recorrendo a”mulheres ucranianas”. Sem saber que estava a ser filmado, o presidente da empresa, Alexander Nix, diz que a empresa trabalha secretamente em eleições e revela algumas das táticas ilegais usadas ao repórter, que julga ser um cliente.
Esta revelação surge menos de uma semana depois de ter sido exposto que a Cambridge Analytica terá usado ilegalmente a informação de 50 milhões de utilizadores do Facebook para prever e direcionar as orientações de voto nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016 enquanto trabalhava para a campanha de Donald Trump.
Para conseguir as imagens, um jornalista do Channel 4 fez-se passar por um representante de um cliente no Sri Lanka com perspectivas de conseguir eleger candidatos em eleições locais. Alexander Nix, julgando então que estava a falar com um cliente, revelou diversas táticas que a empresa podia empregar para garantir a vitória nas supostas eleições. As interações decorreram entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, em diversos hotéis em Londres.
Nas imagens captadas pelo Channel 4, o presidente da Cambridge Analytica refere que a empresa “opera através de diferentes veículos, nas sombras” e diz que espera “construir uma relação longa e secreta” com o suposto cliente.
Explicando ao cliente quais são as ferramentas que podem usar, Nix afirma que costumam enviar “algumas mulheres a casa” de opositores políticos do cliente para conseguir informação ou material confidencial. E acrescenta: “As mulheres ucranianas são muito bonitas, acho que funcionam muito bem”.
Alexander Nix afirma ainda que podem oferecer “uma grande quantia de dinheiro ao candidato para financiar a sua campanha em troca de terreno, por exemplo”. “Gravamos tudo, desfocamos a cara do nosso tipo e publicamos na internet”, explica.
Além do presidente da Cambridge Analytica, também Mark Turnbull, director-executivo, e Alex Tayler, o director de informação, foram filmados a revelar métodos e táticas da empresa de análise de dados.
Segundo o Channel 4, Turnbull e Tayler gabaram-se nas reuniões de ter trabalhado em mais de duzentas eleições e todo o mundo, incluindo na República Checa, Índia, Nigéria, Quénia e Argentina.
Em vídeo, Tayler refere como a empresa recolhe dados de pessoas de modo a ter uma “maior percepção sobre como segmentar a população” de modo a “transmitir mensagens sobre assuntos com que se importam, em linguagens e com imagens que os atraiam”. O director de informação refere então que o fazem na América e em África. Mark Turnbull, ao seu lado, acrescenta: “Fizémo-lo no México, fizémo-lo na Malásia… E agora vamos entrar no Brasil, Austrália, China — mas não em política.”
Numa outra ocasião, as filmagens mostram Turnbull a contar como a Cambridge Analytica infiltra informação que possa danificar a imagem de um opositor na internet e nas redes sociais. O diretor-executivo detalha que a empresa põe “informação na corrente sanguínea da internet” e a vêem “crescer”. “Damos-lhe um pequeno empurrão de vez em quando… como um controlo remoto”, diz. “Tem de acontecer sem que alguém pense ‘isto é propaganda’, porque no momento em que pensas ‘isto é propaganda’ a próxima questão é ‘quem é que a pôs cá fora’?”
Preservar o secretismo é importante tanto para a empresa como para os clientes, explica Alexander Nix, referindo que “muitos dos clientes não querem ser vistos a trabalhar com uma empresa estrangeira”, pelo que criam “identidades e sites falsos” para trabalhar no país. “Podemos ser estudantes a fazer trabalhos de investigação junto a uma universidade, podemos ser turistas… são muitas as opções para as quais podemos olhar. Tenho muita experiência nisto”, diz o presidente em reunião.

Noutra circunstância o director-executivo explica, em jeito de lição, que os “principais condutores humanos no que toca a adquirir informação são esperanças e medos”, muitos dos quais são “inconscientes”. “O nosso trabalho é afundar o balde no poço mais fundo do que alguém alguma vez fez para compreender quais são esses medos”, diz, acrescentando: “Não vale a pena fazer campanha com base em factos, porque tudo se trata de emoção.”
Num comunicado, a Cambridge Analytica refuta todas as acusações de recurso a armadilhas e subornos para “qualquer propósito”, afirmando que conversam com clientes para “perceber se têm intenções não-éticas ou ilegais”.
“Ao entrar nesta linha de conversa, e de modo a poupar o nosso ‘cliente’ de humilhação, levantámos uma série de cenários absurdos e hipotéticos”, pode ler-se numa declaração de Alexander Nix. “Sei o que isto parece, mas simplesmente não é esse o caso. Devo enfatizar que a Cambridge Analytica não apoia ou recorre a armadilhas, subornos ou ‘honeytraps’ [investigação através de romance ou relações sexuais], nem usa material falso para qualquer propósito”, afirma.

Edward Snowden afirma que o Facebook é uma “empresa de vigilância”

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"Os negócios que fazem dinheiro com a recolha e venda de registos detalhados de vidas privadas foram, em tempos, descritos claramente como 'empresas de vigilância'", disse Edward Snowden no Twitter.
Edward Snowden, o antigo analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos que tornou públicos detalhes sobre os sistemas de vigilância do governo norte-americano sobre os cidadãos, criticou o Facebook na sequência das notícias recentemente publicadas sobre como a rede social permitiu que a empresa de análise de dados Cambridge Analytica recolhesse dados pessoais de 50 milhões de utilizadores para ajudar a campanha eleitoral de Donald Trump.
“O Facebook obtém as suas receitas ao explorar e vender detalhes íntimos sobre a vida privada de milhões, muito além dos escassos detalhes que voluntariamente publicamos. Eles não são vítimas. São cúmplices”, escreveu Edward Snowden no Twitter, no sábado.
O antigo agente da NSA acrescentou que “os negócios que fazem dinheiro com a recolha e venda de registos detalhados de vidas privadas foram, em tempos, descritos claramente como ‘empresas de vigilância’. O rebranding deles enquanto ‘rede social’ é a fraude mais bem sucedida desde que o Departamento da Guerra passou a Departamento de Defesa”.
Este fim de semana, o jornal britânico The Observer (edição semanal do The Guardian) revelou que a Cambridge Analytica, empresa de análise de dados que colaborou com a campanha eleitoral de Donald Trump para as eleições presidenciais de 2016, utilizou informação recolhida em 50 milhões de perfis do Facebook norte-americanos, para prever o sentido de voto dos utilizadores e definir estratégias de comunicação digital em função dessa informação.
A informação foi revelada ao jornal britânico por Christopher Wylie, um antigo funcionário da Cambridge Analytica que trabalhou na empresa durante aquele período. “Aproveitámos o Facebook para recolher milhões de perfis e construímos modelos de análise para — através do que ficámos a saber sobre estas pessoas — direcionarmos conteúdos pensados nos seus maiores medos”, assumiu Wylie.
O Facebook respondeu de imediato à polémica, publicando um comunicado em que garantiu que dizer que este episódio é uma “brecha de segurança de dados é completamente falso”, lembrando que a recolha de dados para a Cambridge Analytica foi feita através de uma aplicação que pedia aos utilizadores que dessem o seu consentimento.
Essa aplicação foi desenvolvida por Aleksandr Kogan, um académico da Universidade de Cambridge, e pela sua empresa, a GSR, em colaboração com a Cambridge Analytica, que fez a recolha e tratamento dos dados. Depois da publicação da notícia, no sábado, o jornal The Observer foi abordado por advogados da rede social Facebook que consideraram que as alegações publicadas eram “falsas e difamatórias” e que a rede social se iria defender legalmente.
Christopher Wylie, que diz estar a tentar “emendar” os erros que diz ter cometido enquanto funcionário da Cambridge Analytica, garante que “o Facebook sabia disto há pelo menos dois anos e não fez quase nada para corrigir”. “Isto não é novo”, sublinhou Wylie, considerando que “as pessoas precisam de saber que este tipo de recolha de dados acontece”.
No mês passado, o Facebook e o presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, confirmaram ao comité do parlamento britânico que está a investigar a divulgação de notícias falsas online que aquela empresa de análise de dados nunca tinha utilizado informações recolhidas no Facebook. Contudo, na sexta-feira, o Facebook admitiu, num comunicado, que já em 2015 tinha tido conhecimento de que os perfis foram passados para a Cambridge Analytica, recorda o The Guardian.
Por isso mesmo, o presidente do comité para a cultura, media e desporto da Câmara dos Comuns do parlamento britânico, Damian Collins, já veio dizer que irá chamar o líder da rede social Facebook, Mark Zuckerberg, para depor perante aquele comité.

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