sábado, 24 de março de 2018

O que já se sabe sobre o ataque terrorista em França


EM ATUALIZAÇÃO
Quatro pessoas morreram e pelo menos 12 ficaram feridas depois de um homem de 25 anos ter atacado um regimento militar e um supermercado no sul de França. O atentado foi reivindicado pelo EI.
Depois de atacar o 3ª regimento de paraquedistas, em Carcassonne, o terrorista invadiu um supermercado em Trèbes
SEBASTIAN NOGIER/EPA
Radouane Lakdim, um marroquino de 25 anos, atacou na sexta-feira um regimento de paraquedistas e um supermercado no sul de França, provocando quatro mortos e cerca de 12 feridos (os números variam), entre eles um português de 27 anos, que se encontra em estado muito grave. O atentado foi reivindicado pelo Estado Islâmico pouco depois de as forças policiais terem abatido Lakdim, residente em Carcassonne. Eis o que se sabe até agora.

Como é que tudo aconteceu?

Renato Silva, um português de 27 anos que estava a fazer um curso de hotelaria em Carcassonne, ia a caminho de uma pastelaria para comprar o “lanche de final de curso” quando foi abordado durante a manhã de sexta-feira, 23 de março, por Radouane Lakdim durante uma curta paragem no trânsito, revelou um amigo da família ao Jornal de Notícias. O jovem português foi atingido na cabeça, ficando com o projétil alojado. O colega francês, que seguia ao seu lado, teve morte imediata. Este foi o primeiro ataque realizado por Lakdim na sexta-feira.
Depois de disparar contra os dois jovens, Radouane Lakdim pegou no carro de Renato — um Opel Corsa branco que o jovem tinha comprado em segunda mão há cerca de dois meses, também segundo a mesma fonte próxima da família — deslocou-se até ao quartel do 3ª regimento de paraquedistas do Exército francês, também em Carcassonne. Aí, de acordo com o procurador de Paris, François Molins, o terrorista terá esperado “alguns minutos” até que os militares aparecessem. De acordocom o Le Monde, depois de ter tentado atropelar alguns oficiais que voltavam de uma corrida, o terrorista atacou quatro militares. Um deles ficou ferido com gravidade, depois de ter sido baleado num ombro.
A seguir, Radouane Lakdim refugiu-se num supermercado — o Super U — em Trèbes, a cerca de dez quilómetros de Carcassonne. Uma investigação preliminar indica que Lakdim terá entrado na loja gritando “Allahu akbar!”, “Deus é grande” e explicando tratar-se de um soldado do Estado Islâmico. “Disse que estava pronto para morrer pela Síria”, revelou François Molins, citado pelo Le Monde. Antes de começar a disparar indiscriminadamente sobre os clientes, segundo Molins, o marroquino terá pedido a libertação dos seus “irmãos”. Quando ouviram o primeiro disparo, alguns clientes e funcionários conseguiram sair pelas traseiras.
Depois das autoridades cercarem o local, o tenente-coronel Arnaud Beltrame conseguiu que o suspeito libertasse os reféns, colocando-se ele no lugar deles. Beltrame, que ficou sozinho com o atirador durante duas horas, conseguiu manter o telemóvel ligado e em linha com o comando de operações do lado de fora. Foi graças à grande coragem do oficial da polícia que as autoridades puderam acompanhar o que se passava dentro do supermercado e avançar quando foram disparados tiros. Arnaud Beltrame, gravemente ferido durante a operação, acabou por morrerdurante a madrugada deste sábado. Outros dois polícias ficaram também feridos.
O terrorista foi abatido, depois de as forças policiais conseguirem entrar no Super U ao início da tarde. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico e a investigação passou para as mãos da secção anti-terrorista de Paris.

Quem era Radouane Lakdim, o atacante de Carcassonne e Trèbes?

Radouane Lakdim nasceu a 11 de abril de 1992, em Marrocos. Conhecido das autoridades por pequenos crimes, tinha sido detido durante um mês em 2016 por tráfico de droga. Segundo o Le Munde, foi assinalado pelas autoridades em 2014 por ligações ao salafismo, um movimento ortodoxo ultraconservador dentro do islamismo sunita.
Foi monitorizado pelos serviços de inteligência franceses entre 2016 e 2017, mas nunca houve indícios de que pudesse estar a preparar um ataque terrorista, adiantou o procurador François Molins. O ministro do Interior, Gerard Collomb, também admitiu que Lakdim chegou a ser seguido pelas autoridades, que julgaram que o marroquino não tinha sido radicalizado. “Ele agiu de repente”, afirmou Collomb, citado pelo Le Monde.
O ministro espanhol do Interior, Juan Ignacio Zoido, revelou que Lakdim estava a ser seguido pela polícia espanhola depois de ter sido detetado o seu envolvimento em várias operações de tráfico de droga. Segundo Zoido, o marroquino fazia parte de uma organização criminosa envolvida em narcotráfico e crime organizado, que terá passado do “sul de França para a Espanha”, onde foi localizado. Lakdim chegou mesmo a estar em Espanha “em alguma ocasião” , mas nunca foi detetado em operações “relacionadas com terrorismo”.
Até ao momento, a polícia deteve duas pessoas com ligações a Radouane Lakdim. A primeira, a companheira de Lakdim, foi detida ainda na sexta-feira ao final da tarde, e o segundo durante a manhã deste sábadoEste último trata-se de um amigo do terrorista, menor, que completará 18 anos ainda este ano, segundo o Le Monde, que cita fonte próxima da investigação. Os dois encontram-se sob custódia policial acusados de associação criminosa e ligações terroristas.
A polícia está também a investigar a origem da arma usada pelo atacante.

Quem são as vítimas?

A morte de Arnaud Beltrame durante a madrugada deste sábado fez subir o número de vítimas mortais para quatro. De acordo com os jornais Le Figaro e Le Monde, além do tenente-coronel, morreram durante os dois ataques terroristas três homens:
  1. Jean, um produtor de vinho reformado que seguia com o português Renato Silva no Opel Corsa. O sexagenário foi a primeira vítima do terrorista marroquino;
  2. Christian Medves, talhante do Super U, de 49 anos. Descrito como uma pessoa com um “coração enorme”, era casado e tinha filhos. O Le Figaro adianta que foi baleado na cabeça, a curta distância;
  3. Um cliente do supermercado de Trèbes cujo o nome ainda não foi revelado.
O número de feridos parece ser menos consensual. Um relatório final, citado pelo Le Figaro, dá conta de 12 feridos, enquanto o Le Monde fala em três. O jornal Le Parisien aponta para 15. Uma coisa, porém, é certa: entre eles encontra-se Renato Silva, internado no hospital de Perpignan em estado muito grave. Os médicos vão esperar pelo fim das primeiras 48 horas para decidir como retirar a bala, alojada na cabeça. Renato encontra-se em coma induzido.

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