segunda-feira, 16 de abril de 2018

“ A luta continua! Aos confusos e traidores, os seus ideais serão dizimados”

“ A luta continua! Aos confusos e traidores, os seus ideais serão dizimados”, foi com estas palavras que o antigo presidente da República, Joaquim Chissano, descreveu o destino daqueles que no seu entender não se identificam com a causa da “nação”, mas também da Frelimo. Chissano inaugurou, esta segunda-feira, o ciclo de palestras sobre os 50 anos do II congresso da Frelimo, realizado em 1968, na província do Niassa. Na ocasião, Chissano disse que a ambição pelo poder de Lázaro Kavandame, Uria Simango e Mateus Gwejere quase que colocava em causa os objectivos da luta de libertação nacional. Se Adelino Timóteo, na sua mais recente obra “Os últimos dias de Uria Simango”, lançada semana finda, na capital do país, retrata Simango como patriota e nacionalista, Joaquim Chissano considera-o um ambicioso pelo poder e traidor da acusa. Chissano, que nessa altura exercia o cargo de chefe do departamento de defesa e segurança da Frelimo, diz que o II congresso do seu partido que teve lugar em Junho de 1968 em Matchedje, na província de Niassa, uma das zonas libertadas e em plena luta armada, foi um dos mais importantes marcos da vitória do povo moçambicano na sua luta para resgatar a dignidade usurpada pelo colonialismo. Falando para uma plateia composta por membros da Frelimo ao nível da cidade da Maputo, Chissano disse que foi naquele encontro que o povo disse basta às artimanhas do colonialismo, que tinham o intuito de perpetuar a humilhação e opressão dos moçambicanos. Deste modo, diz que foram definidos quatro objectivos principais: A liquidação da dominação portuguesa e vestígios do colonialismo e imperialismo em todas as suas formas de manifestação; a conquista da independência imediata e construção de um Moçambique moderno, desenvolvido e forte; construir um Moçambique independente do colonialismo, onde o poder pertence ao povo que também decide o seu destino; e, por fim, a política externa do país que deveria assentar na cooperação. O antigo presidente sublinhou que o assunto da descentralização, que hoje está em debate, foi definido naquele encontro, quando se falava do respeito pelas particularidades regionais do povo na sua participação no poder. Referiu que as autarquias também foram tema de debate quando foi dito que o poder pertencia ao povo. Considera que o caminho estava traçado, mas era preciso tempo, dar passos firmes para chegar ao destino seguro, pois temia-se que fossem eleitos dirigentes que nada sabiam sobre a gestão popular. “Hoje fala-se muito da venda de terra, e há muito barulho, enquanto estabelecemos que a terra é propriedade do Estado, o cidadão só deve fazer o seu uso e aproveitamento. Isto denuncia ausência de gestão popular”, anotou, numa aluta em que são reportados vários casos de disputa de terras um pouco por todo o país. Luta pelo poder Para Chissano, a realização do II congresso foi movida por um grupinho de membros da Frente que sofria efeitos psicológicos do inimigo. Explicou que, apesar de se ter concordado com a dissolução da Manu, Unami e Udenamo para criação da Frelimo, com uma nova estrutura, liderada por Eduardo Mondlane, os antigos dirigentes daqueles movimentos não se contentaram em ficar sem poder, tendo agitado outros por pensar que havia uns que comiam dinheiro sozinhos. Este facto gerou uma pequena fractura na Frente que acabava de nascer em 1962. Disse que Adelino Guambe, fundador da Udenamo, abandou a Frelimo para criar um movimento renovado e não participou no II congresso, tendo seguido o mesmo caminho Mateus Mole que dirigia a Manu. Mas também Paulo Gumane que vinha da Udemanu e exercia o cargo de Secretá- rio Geral (SG) da Frelimo disputava o poder com Uria Simango que era vice-presidente, sob pretexto de que o SG é que tinha mais poder. Com o avanço da luta armada, Chissano conta que surgem as primeiras zonas libertadas, activa-se o comércio local e Lázaro Kavandame, um maconde influente que dirigia a Associação Algodoeira de Moçambique, exigia a liderança das cooperativas, alegando que havia chegado a sua vez, facto negado pelos restantes membros da frente. “Isto não agradou Kavandame e seu grupo, que eram confusos e traidores. Começa a ver a sua liderança ameaçada e nós, como Frente, começamos a sentir que havia uma continuação psicológica do inimigo. É neste contexto que este grupo de Kavandame exigiu a realização do congresso para a mudança da direcção”, observou. Tendo de seguida dito que num primeiro momento criticou-se a realização do congresso no meio da luta, mas, para garantir a coesão, concordou-se que o mesmo acontecesse no interior de Moçambique, de modo que houvesse participação dos moçambicanos, neste caso guerrilheiros e população. Esta proposta não foi do agrado daquele grupo que pretendia ver o congresso a ser realizado na Tanzânia, o que impossibilitaria a participação dos outros. Foi nesta linha, segundo Chissano, que a delegação de Cabo Delgado foi representada apenas pelos combatentes. Esta tese é refutada por alguns historiadores que entendem que o objectivo final era evitar a derrota eleitoral em caso de participação das populações que estavam alinhadas com Kavandame. Chissano conta que “os ambiciosos e traidores” foram revelados no âmbito dos preparativos para o congresso, quando os escritórios da Frelimo em Dar-es-Salaam foram alvo de ataques que culminaram com o assassinato de Mateus Sansão Mutemba. Sendo Chissano chefe da segurança, diz ter levado a cabo um inquérito para saber das motivações e dos mentores dos ataques, tendo sido revelado que para além de Kavandame foram responsáveis Uria Simango e o Padre Mateus Gwengere, este último que era responsável pela mobilização de estudantes para o Instituto Moçambicano, sedeado na capital Tanzaniana. Acrescenta que no Instituto, Gwengere instigou os estudantes para se insurgirem contra os docentes de raça branca que lá estavam, como é o caso de Fernando Ganhão que mais tarde se tornaria no primeiro reitor da Universidade Eduardo Mondlane e Hélder Martins, ministro da Saúde no governo formado em 1975. Deste modo, entende Chissano que, mais do que nunca, era necessário realizar o congresso para traçar novas estratégias de como avançar para acabar com o coloIgnorando a literatura que traça a outra face do antigo vice-presidente do movimento libertador Chissano fala de um percurso maculoso de Simango Por Argunaldo Nhampossa nialismo, sendo que antes de mais era preciso fortalecer a Frente que estava meia dividida. É nesta narrativa, segundo Chissano, que o II congresso é considerado o da vitória porque a luta pela independência estava ameaçada pelo espírito divisionista entre os moçambicanos, que se alastrava para a descriminação contra a participação da mulher. Porque ainda havia roupa suja por lavar, conta que depois do congresso houve uma reunião alargada do Comité Central, já na Tanzânia para permitir que Kavandame se explicasse, tendo este confessado que havia um projecto de se retirar Mondlane da direcção má- xima do partido, para que o seu lugar fosse ocupado por Simango. Refere que Simango argumentava que Mondlane era tribalista e apoiava somente os elementos oriundos do sul do país, não lhe dando oportunidade de se impor como vice-presidente. Destaca que só assim é que foi possível avançar com a guerra que se esperava que fosse muito prolongada, até a conquista da vitória a 7 de Setembro de 1974. No entanto, diz que a estraté- gia usada para vencer o inimigo continua válida até hoje, tal como são ainda válidas as teses daquele congresso. “A luta continua! Aos confusos e traidores os seus ideais serão dizimados”, disse, para de seguida questionar a existência ou não de confusos e traidores entre os participantes da palestra. Indagou as razões da Frelimo não obter votos nos processos eleitorais que reflictam o número de membros do partido, e chamou de traidores a todos que se recenseiam mas que depois não votam. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Triste realidade. Nunca sabemos na realidade o que aconteceu. Muitas versos em torno de um assunto que leva decadas. Estamos numa situacao em que os que deviam falar a verdade, estao acabar e quando todos tiverem deixado a terra dos vivos e que teremos a verdade. Morreu Samora ate hoje nao sabemos quem sao as pessoas envolvidadas. Morreu Marcelino, morreu Sergio Vieira e outros nao nos contaram a verdade. Temos Os presidentes Chissano e Guebuza, nao sabemos se ainda vao nos dizer a verdade. temos Chipande arrogante e intitulado dono do pais, e dificil perceber isto. Mas a verdade e que os donos da verdade juraram esconde-la ate ao fim e nos nunca saberemos. Talvez o ultimo descendente da Frelimo possa nos dizer a verdade. Mocambique e um pais perigoso de se viver. Para viver e preciso ser um pato sem ambicao e ser um pato que nao cruza e nem questiona a nimguem. Triste realidade. deus que nos acude ou que o diabo tome conta dos perigosos que desgracam o pais. nao estou acusar a ninguem nem contra, mas e triste o que vivemos e somos explorados pelos nossos proprios patriotas. Daqui a 50 anos acredito que Mocambique sera diferente depois de todos combatentes terem morrido. A verdade ficaram no segredo dos deuses e a natureza se encarregara de fazer a devids justica.