“
A luta continua! Aos confusos
e traidores, os seus
ideais serão dizimados”, foi
com estas palavras que o
antigo presidente da República,
Joaquim Chissano, descreveu o
destino daqueles que no seu entender
não se identificam com a
causa da “nação”, mas também da
Frelimo. Chissano inaugurou, esta
segunda-feira, o ciclo de palestras
sobre os 50 anos do II congresso
da Frelimo, realizado em 1968, na
província do Niassa.
Na ocasião, Chissano disse que a
ambição pelo poder de Lázaro Kavandame,
Uria Simango e Mateus
Gwejere quase que colocava em
causa os objectivos da luta de libertação
nacional.
Se Adelino Timóteo, na sua mais
recente obra “Os últimos dias de
Uria Simango”, lançada semana
finda, na capital do país, retrata Simango
como patriota e nacionalista,
Joaquim Chissano considera-o
um ambicioso pelo poder e traidor
da acusa.
Chissano, que nessa altura exercia
o cargo de chefe do departamento
de defesa e segurança da Frelimo,
diz que o II congresso do seu partido
que teve lugar em Junho de
1968 em Matchedje, na província
de Niassa, uma das zonas libertadas
e em plena luta armada, foi um dos
mais importantes marcos da vitória
do povo moçambicano na sua luta
para resgatar a dignidade usurpada
pelo colonialismo.
Falando para uma plateia composta
por membros da Frelimo ao nível
da cidade da Maputo, Chissano
disse que foi naquele encontro que
o povo disse basta às artimanhas do
colonialismo, que tinham o intuito
de perpetuar a humilhação e opressão
dos moçambicanos.
Deste modo, diz que foram definidos
quatro objectivos principais:
A liquidação da dominação portuguesa
e vestígios do colonialismo e
imperialismo em todas as suas formas
de manifestação; a conquista
da independência imediata e construção
de um Moçambique moderno,
desenvolvido e forte; construir
um Moçambique independente do
colonialismo, onde o poder pertence
ao povo que também decide
o seu destino; e, por fim, a política
externa do país que deveria assentar
na cooperação.
O antigo presidente sublinhou que
o assunto da descentralização, que
hoje está em debate, foi definido
naquele encontro, quando se falava
do respeito pelas particularidades
regionais do povo na sua participação
no poder. Referiu que as
autarquias também foram tema de
debate quando foi dito que o poder
pertencia ao povo.
Considera que o caminho estava
traçado, mas era preciso tempo,
dar passos firmes para chegar ao
destino seguro, pois temia-se que
fossem eleitos dirigentes que nada
sabiam sobre a gestão popular.
“Hoje fala-se muito da venda de
terra, e há muito barulho, enquanto
estabelecemos que a terra é propriedade
do Estado, o cidadão só
deve fazer o seu uso e aproveitamento.
Isto denuncia ausência de
gestão popular”, anotou, numa aluta
em que são reportados vários casos
de disputa de terras um pouco
por todo o país.
Luta pelo poder
Para Chissano, a realização do II
congresso foi movida por um grupinho
de membros da Frente que
sofria efeitos psicológicos do inimigo.
Explicou que, apesar de se ter concordado
com a dissolução da Manu,
Unami e Udenamo para criação da
Frelimo, com uma nova estrutura,
liderada por Eduardo Mondlane,
os antigos dirigentes daqueles movimentos
não se contentaram em
ficar sem poder, tendo agitado outros
por pensar que havia uns que
comiam dinheiro sozinhos.
Este facto gerou uma pequena
fractura na Frente que acabava de
nascer em 1962. Disse que Adelino
Guambe, fundador da Udenamo,
abandou a Frelimo para criar um
movimento renovado e não participou
no II congresso, tendo seguido
o mesmo caminho Mateus Mole
que dirigia a Manu. Mas também
Paulo Gumane que vinha da Udemanu
e exercia o cargo de Secretá-
rio Geral (SG) da Frelimo disputava
o poder com Uria Simango que
era vice-presidente, sob pretexto de
que o SG é que tinha mais poder.
Com o avanço da luta armada,
Chissano conta que surgem as primeiras
zonas libertadas, activa-se
o comércio local e Lázaro Kavandame,
um maconde influente que
dirigia a Associação Algodoeira
de Moçambique, exigia a liderança
das cooperativas, alegando que havia
chegado a sua vez, facto negado
pelos restantes membros da frente.
“Isto não agradou Kavandame e seu
grupo, que eram confusos e traidores.
Começa a ver a sua liderança
ameaçada e nós, como Frente, começamos
a sentir que havia uma
continuação psicológica do inimigo.
É neste contexto que este grupo
de Kavandame exigiu a realização
do congresso para a mudança da
direcção”, observou.
Tendo de seguida dito que num
primeiro momento criticou-se a
realização do congresso no meio
da luta, mas, para garantir a coesão,
concordou-se que o mesmo acontecesse
no interior de Moçambique,
de modo que houvesse participação
dos moçambicanos, neste
caso guerrilheiros e população. Esta
proposta não foi do agrado daquele
grupo que pretendia ver o congresso
a ser realizado na Tanzânia, o
que impossibilitaria a participação
dos outros. Foi nesta linha, segundo
Chissano, que a delegação de Cabo
Delgado foi representada apenas
pelos combatentes. Esta tese é refutada
por alguns historiadores que
entendem que o objectivo final era
evitar a derrota eleitoral em caso de
participação das populações que estavam
alinhadas com Kavandame.
Chissano conta que “os ambiciosos
e traidores” foram revelados
no âmbito dos preparativos para
o congresso, quando os escritórios
da Frelimo em Dar-es-Salaam foram
alvo de ataques que culminaram
com o assassinato de Mateus
Sansão Mutemba. Sendo Chissano
chefe da segurança, diz ter levado a
cabo um inquérito para saber das
motivações e dos mentores dos ataques,
tendo sido revelado que para
além de Kavandame foram responsáveis
Uria Simango e o Padre Mateus
Gwengere, este último que
era responsável pela mobilização
de estudantes para o Instituto
Moçambicano, sedeado na capital
Tanzaniana. Acrescenta que
no Instituto, Gwengere instigou
os estudantes para se insurgirem
contra os docentes de raça branca
que lá estavam, como é o caso de
Fernando Ganhão que mais tarde
se tornaria no primeiro reitor da
Universidade Eduardo Mondlane
e Hélder Martins, ministro da
Saúde no governo formado em
1975.
Deste modo, entende Chissano
que, mais do que nunca, era necessário
realizar o congresso para
traçar novas estratégias de como
avançar para acabar com o coloIgnorando
a literatura que traça a outra face do antigo vice-presidente do movimento libertador
Chissano fala de um percurso maculoso de Simango
Por Argunaldo Nhampossa
nialismo, sendo que antes de mais
era preciso fortalecer a Frente que
estava meia dividida.
É nesta narrativa, segundo Chissano,
que o II congresso é considerado
o da vitória porque a luta
pela independência estava ameaçada
pelo espírito divisionista entre
os moçambicanos, que se alastrava
para a descriminação contra
a participação da mulher. Porque
ainda havia roupa suja por lavar,
conta que depois do congresso
houve uma reunião alargada do
Comité Central, já na Tanzânia
para permitir que Kavandame se
explicasse, tendo este confessado
que havia um projecto de se retirar
Mondlane da direcção má-
xima do partido, para que o seu
lugar fosse ocupado por Simango.
Refere que Simango argumentava
que Mondlane era tribalista
e apoiava somente os elementos
oriundos do sul do país, não lhe
dando oportunidade de se impor
como vice-presidente.
Destaca que só assim é que foi
possível avançar com a guerra que
se esperava que fosse muito prolongada,
até a conquista da vitória
a 7 de Setembro de 1974.
No entanto, diz que a estraté-
gia usada para vencer o inimigo
continua válida até hoje, tal como
são ainda válidas as teses daquele
congresso.
“A luta continua! Aos confusos e
traidores os seus ideais serão dizimados”,
disse, para de seguida
questionar a existência ou não de
confusos e traidores entre os participantes
da palestra. Indagou as
razões da Frelimo não obter votos
nos processos eleitorais que reflictam
o número de membros do
partido, e chamou de traidores a
todos que se recenseiam mas que
depois não votam.
1 comentário:
Triste realidade. Nunca sabemos na realidade o que aconteceu. Muitas versos em torno de um assunto que leva decadas. Estamos numa situacao em que os que deviam falar a verdade, estao acabar e quando todos tiverem deixado a terra dos vivos e que teremos a verdade. Morreu Samora ate hoje nao sabemos quem sao as pessoas envolvidadas. Morreu Marcelino, morreu Sergio Vieira e outros nao nos contaram a verdade. Temos Os presidentes Chissano e Guebuza, nao sabemos se ainda vao nos dizer a verdade. temos Chipande arrogante e intitulado dono do pais, e dificil perceber isto. Mas a verdade e que os donos da verdade juraram esconde-la ate ao fim e nos nunca saberemos. Talvez o ultimo descendente da Frelimo possa nos dizer a verdade. Mocambique e um pais perigoso de se viver. Para viver e preciso ser um pato sem ambicao e ser um pato que nao cruza e nem questiona a nimguem. Triste realidade. deus que nos acude ou que o diabo tome conta dos perigosos que desgracam o pais. nao estou acusar a ninguem nem contra, mas e triste o que vivemos e somos explorados pelos nossos proprios patriotas. Daqui a 50 anos acredito que Mocambique sera diferente depois de todos combatentes terem morrido. A verdade ficaram no segredo dos deuses e a natureza se encarregara de fazer a devids justica.
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