domingo, 15 de abril de 2018

O Curdistão espanhol


OPINIÃO

O Curdistão espanhol

Se a Turquia de Erdogan é um exemplo evidente da regressão autoritária dos últimos anos, recordemos que a Espanha tem presos nove deputados catalães
Nove deputados do Parlamento da Catalunha estão presos. O último é o próprio  Carles Puigdemont, presidente da Generalitat da Catalunha suspenso das suas funções pelo Governo espanhol, preso desde domingo na Alemanha por ordem da justiça espanhola, aguardando decisão sobre pedido de extradição. Se a Turquia de Erdogan é um exemplo evidente da regressão autoritária dos últimos anos (regimes que assumem procedimentos ditatoriais fingindo manter a aparência de formalidade democrática), recordemos que a Espanha tem presos nove deputados catalães (de um total de 135), a todos tendo retirado, sem sequer os haver julgado, os direitos políticos (nenhum deles pode comparecer no Parlamento para qualquer votação ou candidatar-se ao cargo de presidente); e que Erdogan mantém presos há um ano exatamente o mesmo número de deputados curdos (de um total de 550)! A Turquia tem sido repetidamente condenada por organismos internacionais e pelos vários Estados da UE; a Espanha tem sido repetidamente advertida pela ONU e pelo Conselho da Europa, mas nenhum governo da UE se tem atrevido a condenar esta atuação completamente indigna e ilegítima!
Além de Puigdemont, seis outros ativistas políticos catalães partiram para o exílio. Emitido em novembro um primeiro mandado de detenção europeu, a justiça belga deixou claro que não aceitaria extraditar nenhum deles pelo crime de "rebelião", o qual, no próprio Código Penal espanhol, implica ter-se recorrido à violência. A justiça espanhola decidiu retirar o mandado para evitar a humilhação de ter de aceitar abandonar a acusação que lhe permite prender incondicionalmente toda esta gente e os tratar publicamente (magistrados, governo, oposição socialista, media...) como "golpistas" ou como se fossem "terroristas". Em fevereiro passado, a Espanha recebeu outra lição: por ter uma "natureza política", a Suíça advertiu que rejeitaria o pedido de extradição de uma antiga deputada da CUP, Anna Gabriel, que se recusou a acatar a convocação do Supremo Tribunal e fugira do país. Outra das exiladas, Clara Ponsatí, ministra da Educação do governo Puigdemont e professora numa universidade de Edimburgo, foi convocada por um juiz escocês para dar cumprimento ao mandado emitido pela Espanha, e saiu em liberdade ao fim de uma hora para aguardar a decisão definitiva sobre a extradição. A imprensa britânica tem, de resto, assumido a mesma atitude da alemã a propósito de Pugdemont, refletindo a opinião maioritária fora ou dentro das coligações de poder: o Estado espanhol passou todas as marcas na sua campanha punitiva do independentismo catalão, especialmente desde que o nacionallismo espanhol foi tão claramente derrotado nas eleições que Rajoy convocou na Catalunha depois de ter suspendido a autonomia, na esperança, perfeitamente explícita, de "decapitar" (expressão da vice-presidente do Governo) o movimento independentista. Não é coincidência que, uma vez renovada a vitória independentista, as prisões se encham.A estes deputados (sete homens, duas mulheres) soma-se Jordi Cuixart, presidente da associação Ómnium Cultural, preso desde 17 de outubro com Jordi Sánchez, presidente da maior associação catalã. Por terem convocado, antes ainda do referendo de 1 de outubro, uma manifestação que contestava a invasão policial do Departamento de Economia e a detenção de funcionários que estava a decorrer, foram acusados de "sedição" e de "rebelião". Pouco importa que não tivesse havido violência, e menos ainda que tenham sido os próprios Jordis a pedir aos manifestantes que desmobilizassem para permitir a retirada das forças policiais. Duas semanas depois, a polícia prendeu oito membros do governo catalão; ao fim de um mês, seis foram libertados com fianças de centenas de milhar de euros (reunidos em coleta cívica); quatro voltaram a ser presos há uma semana. Dois outros mantêm-se presos há cinco meses. Um deles, já na prisão, deu positivo no teste da tuberculina, o que não fez demover o juiz: a sua libertação poderia dar origem a manifestações que poriam em causa a "ordem pública" pelo que o melhor é mantê-lo preso! Qualquer semelhança com uma banal ditadura deve ser pura coincidência...
Um funcionário numa das prisões onde estão detidos estes presos políticos, escreveu há dias "[sentir] uma vergonha democrática tal por ter que sofrer o espetáculo de cinco homens fechados numa prisão por 'crimes' políticos que me é insuportável ir todos os dias cumprir o meu horário de trabalho” (José Ángel Hidalgo, ctxt, 27.3.2018). Eu, por mim,
sinto vergonha pela solidariedade dos governos europeus (a começar pelo português) com semelhante indignidade.
  1. El PIB per capita medio en España fue en 2016 de 24100 euros. El PIB per capita de Cataluña en el mismo año fue de 28590 euros. Comparar la situación de Cataluña, una de las regiones más ricas de la Unón Europea, con la del Kurdistán solo puede deberse a una inmensa mala fe, a un enorme sectarismo o a una profunda ignorancia. Posiblemente a las 3 causas juntas. Pero lo peor es que la comparación minimiza y desprecia la situación de los kurdos. ¿Les parecería normal un titular sobre el Algarve que dijera; el Kurdistán portugués?
  2. En España no hay presos políticos sino políticos presos por sus delitos: la abolición de la Constitución y del Estatuto de Autonomía en contra del 52% de los votantes catalanes. Unos 2 millones de votantes catalanes pretenden decidir sobre España sin contar con los otros 34 millones de votantes españoles (y a eso le llaman democracia). Ándense con cuidado con los nacionalismos populistas y supremacistas no vaya a ser que cualquier día el presidente de Madeira o de Azores o de Padania o de Baviera empiecen a declarar independencias. Sería una maravillosa Europa de unos 350 estados según los independentistas catalanes. Si el presidente de Madeira declarara la independencia sin contar con el resto de los portugueses y violando la Constitución, ¿los tribunales portugueses no actuarían?
  3. Jonas Almeida
      Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
    Subscrevo a conclusão e vergonha de Manuel Loff "sinto vergonha pela solidariedade dos governos europeus (a começar pelo português) com semelhante indignidade". Isto torna-nos objetivamente cúmplices de um crime contra a Liberdade e a Justiça sobre o qual o registo da História não terá contemplações: a complacência dos cidadãos é em última instância a razão pela qual estes maus hábitos regressam mais uma vez aos mesmos países europeus onde têm tradições históricas. A eurozona assume aquilo que sempre quis ser.
    1. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      No meio desta Turquia europeia, a Suíça, bem no coração desta nova ditadura, merece uma nota de admiração pela sustentação de hábitos centenários de Democracia e respeito da Liberdade dos seus cidadãos. As duas coisas andam sempre juntas.
    2. The Adventures of Michael Collins
       Enviado especial a repúblicas imaginárias governadas por pokémons
      E pelas lavagens de dinheiro não merece elogios a sua Suíça?
  4. Sempre achei este tipo um idiota.Ele encarrega-se de o ir confirmando
  5. Joao
      Portugal 
    Muita razão. Para mim o terror e tristeza que sinto ao ver estas nojeiras sobrepõem-se à vergonha de termos o lideres, por cá e pela Europa, do mais nojento que existe.
    1. Joao
        Portugal 
      Para mim isto acabou no dia seguinte ao referendo quando chegaram da Europa os apoios ao sebento Rajoy. Todos corruptos e criminosos que falam em nosso nome… claro que o libidinosamente corrupto Rajoy pertence ao mesmo clube do senhor Luxleaks, do Corkleaks claro, do Waiterleaks como é óbvio… tudo na boa tradição e exemplo do criminoso Cherne Barrosão.
    2. Joao
        Portugal 
      É aterrador e triste assistir ao que se passa nos media e nos opinadores por essa Europa, um servilismo triste em vez de ser um esclarecimento, uma luz, um apontador… Não é só cá em casa, na vizinha Espanha e por exemplo mesmo na França… os media, drogados e servis, com narrativas adormecentes e hipócritas sempre omitindo o que não lhes seja útil para anestesiar o público e sempre salientando e apelando ao choradinho de lencinho no canto do olho e ao “patriotismo” agora serodiamente recuperado para estes fins sebentos.
    3. Joao
        Portugal 
      É aterrador e triste não só presenciar essa manipulação hedionda da opinião pública como, e talvez sobretudo, a instrumentalização dos serviços judiciais. Quer a manipulação da informação pública quer a instrumentalização política da justiça são usados abundantemente pelo lideres sebentos para, como sendo um “tapis de bombes” do método Macron, soterrar e perseguir os que tentam, se esforçam e insistem em melhorar e defender os valores que tanto custaram a alcançar ou apenas estar ao alcance, liberdade, vida, democracia, das pessoas e populações.
    4. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      Concordo João, "Para mim isto acabou no dia seguinte ao referendo quando chegaram da Europa os apoios ao sebento Rajoy". Especificamente como Português, o espanto e vergonha foram para mim agravados com o telefonema filipino de Marcelo. Nem esse detalhe da bajulação para com um rei idiota em pleno século XXI escapou à vergonha - e revolta!
  6. The Adventures of Michael Collins
     Enviado especial a repúblicas imaginárias governadas por pokémons 
    Mais um articulista hipócrita. Para quem é tanto contra a direita e extrema-direita, gostaría que o sr. Manuel Loff me justificasse porque raio tem sido a extrema-direita europeia, na sua maioria, a apoiar o Piupiumont e companhia. Ou sr. Loff esqueceu-se da visita de um destacado membro da AdF ao Piupiumont esta semana?
    1. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      A Liberdade não é um valor de direita vs esquerda, é a diferença entre os que vivem de pé e os que mal se aguentam de cócoras.
    2. The Adventures of Michael Collins
       Enviado especial a repúblicas imaginárias governadas por pokémons
      Já reparei que tomou o seu conveniente duche de hipocrisia hoje.
    3. The Adventures of Michael Collins
       Enviado especial a repúblicas imaginárias governadas por pokémons
      E mude os óculos de cebola que está lá bem escrito extrema-direita.
  7. O señor articulista podría ser un buen candidato a la presidencia de la Generalitat, que está vacante en estos momentos, dada su simpatía absoluta con la causa separatista. Señor articulista, la realidad no es tan simplona como usted la presenta.
    1. Minhoto#
        Minho/Galiza
      A realidade é bem mais tenebrosa: acrescente a descrito no artigo, a prisão de músicos, como é o caso dos rapeiros Valtonyc. ou de Pablo Hasél, da censura de obras de arte, como aconteceu na ARCO, a prisão por dois anos por queimar a fotografia do rei, ou a tristemente célebre "Lei Mordaça", que condiciona as mais elementares liberdades democráticas. E sim, o estado espanhol é a Turquia da Europa ocidental.
    2. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      Caro Sr Juan, os critérios de publicação são muito claros quanto á necessidade de escrever aqui em Português exceto no caso citações ou referências entre aspas.
    3. Caro Juan, cuando yo escribo en los periódicos españoles, lo hago en español, porque no intenta en portugués? No és tan duro así, pero vosotros estais acostumbrados a imponer vuestro idioma donde quer que vayan...
  8. Todos os democratas deveriam sentir vergonha.
  9. Minhoto#
      Minho/Galiza 
    Também eu sinto vergonha pela passividade portuguesa perante esta barbaridade antidemocrática. Muitos parabéns pelo artigo, que deveria ser de leitura obrigatória, e não colocado nos fundos. Abraço
    1. Quais fundos homem? É o terceiro artigo das crónicas de opinião. Não está escondido. Eu li. (vou reler com vagar).
    2. Minhoto#
        Minho/Galiza
      Cara: quem menospreza o camarada Omar Souleyman não merece o meu mínimo respeito. Um homem que está em todo o lado, e nos sítios mais surpreendentes (vê o vídeo todo, que vale bem a pena) - Omar Souleyman - Warni Warni (Official Video)
    3. Vou reler com vagar. E ver o que dizes. :(
    4. Minhoto#
        Minho/Galiza
      Camarada: olha que estava a ser irónico. Abraço
    5. Ok... A ver se arranjo vagar para ir ver com atenção. :)
    6. Já reli. Já vi o Omar. O que é que este gajo tem a ver com a Catalunha? Não percebi. Estou lerda camarada...
    7. Minhoto#
        Minho/Galiza
      (vem na sequência da troca de galhardetes de ontem. Não tem nada a ver com a Catalunha)
    8. (tong. tong. Já apanhei. Dormi mal. Sempre boa desculpa para quando não apanhamos à primeira)
  10. correcção: excelente título.
  11. Excelente artigo, como sempre, e excelente .
  12. A História os e nos julgará.
    1. Jonas Almeida
        Stony Brook NY, Marialva Beira Alta 
      verdade, a ausência de resistência para com este novo fascismo europeu torna-nos culpados. Altura de começar a pensar nisso. A resistência digital oferece oportunidades assimétricas interessantes.

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